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Domingo - 18 de Novembro de 2018 às 09:48

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Na quase sempre conflituosa relação econômica e política entre o hemisfério Norte e o Sul são possíveis diversas reflexões. Uma delas é que o mundo se dividiu entre Centro, Periferia e Semi Periferia, uma classificação sobre o grau de riqueza e pobreza dos países.

Outra constatação é que as riquezas naturais são muito valorizadas nos países mais ricos, mas os países mais pobres, geralmente os grandes produtores, têm um histórico de não saber (ou não poder) agregar valores ao produto de suas terras.

O Brasil sempre foi um fornecedor de matérias primas para o mundo. Desde o ciclo do Pau Brasil até o atual ciclo das commodities, a lógica primário exportadora tem dominado nossa matriz econômica. Mas foi no ciclo do ouro que o Brasil assumiu uma importância fundamental em um dos períodos mais significativos da história mundial: a revolução industrial.

A transição para novos processos de manufatura foi a marca da revolução industrial. A tecnologia dava velocidade à acumulação de capital, a partir da indústria. A Inglaterra foi o palco principal da revolução industrial. A nação contava com uma burguesia muito rica, que investiu nas industrias, e um subsolo rico em carvão, a matéria prima das máquinas a vapor.

Mas a origem da riqueza da burguesia inglesa remonta a algumas atividades questionáveis sob o ponto de vista ético, como o tráfico de escravos, e uma relação de agiotagem que seus bancos praticavam a países, como Portugal.

Ainda durante o período colonial no Brasil, o déficit da coroa portuguesa com a Inglaterra fez com que o ouro produzido no Brasil, ainda uma colônia de Portugal (que ficava com todo ouro produzido aqui), fosse em grande parte ficar nas mãos dos banqueiros ingleses. Virgilio Noya Pinto calcula que de toda produção de ouro no Brasil entre 1735-39, uma média de 14 toneladas anuais, 60% ficou com os ingleses.

E Mato Grosso tem grande importância nessa equação. Lembremos que Cuiabá foi fundada em 1719, e em seus primeiros anos uma grande quantidade de ouro foi extraída da atual capital de Mato Grosso. Há registros que a partir de 1728, na região de Diamantino também se extraiu muito ouro. Não me arrisco a apresentar aqui a quantidade, já que as estatísticas específicas para Mato Grosso não eram confiáveis, e grande parte do ouro dessa época era contabilizado como se fosse das Minas Gerais.

Mas a história faz um corte temporal para definir o início da revolução industrial, na Inglaterra, a partir de 1760. Portanto, se consideramos por volta de 1719 o começo da extração de ouro pelos portugueses em Cuiabá, estamos falando exatamente do período de acumulação da riqueza nas mãos dos súditos da coroa inglesa, que culminou na revolução industrial.

MAURÍCIO MUNHOZ é sociolólogo e foi o vencedor do Prêmio Celso Furtado de Economia 2017.



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