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Segunda - 04 de Novembro de 2019 às 00:39

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Estou aprendendo, mais ainda é novidade para mim, apesar dos meus 30 anos de profissão, que fazer reportagens divulgando nomes e dar publicidade às facções criminosas é um desserviço. Ou seja, é prejudicial, pérfido, desleal com todos nós que formamos a sociedade.

Se a propaganda é a "alma do negócio", como ouvimos e repetimos muitas vezes, certamente escrever que determinada facção está arregimentando mais jovens a cada dia e praticando crimes com requintes de crueldade inimagináveis, sem dúvida, a fortalecerá.

A política do "falem mal, mas falem de mim", se encaixa como uma luva nessa situação. Mais ainda, o crime organizado, com exceção desse que nasce e cresce no meio político, precisa da mídia, de publicidade gratuita para mostrar sua força, impor o medo e conquistar novos adeptos.

Outro dia, durante uma conversa com uma autoridade que nacionalmente investiga as atividades de algumas organizações criminosas fiz o seguinte questionamento: Você também é dessa linha que acha que a mídia pode estar contribuindo para o crescimento do crime organizado? Sim! Respondeu, sem titubear.

Como nós, jornalistas, que temos a missão de informar, fiscalizar e denunciar poderíamos, mesmo sem querer e saber, ajudar os bandidos? A essa mesma indagação veio a resposta óbvia. São formadores de opinião. O que e como escrevem nos sites e nos jornais ou falam no rádio e na tevê influencia e muda atitudes, tanto para o bem quanto para o mal.

Não há qualquer exigência legal ou regra estabelecida aos meios de comunicação sobre citar ou não nomes de facções, entretanto tem emissoras de televisão e jornais que há alguns anos deixaram de dar publicidade aos grupos e seus líderes.

A mudança tem como base o entendimento de que celebrizar a vida de criminosos que lideram e cometem atrocidades pode estimular outras pessoas a seguirem os mesmos passos.

No Brasil, um país onde os jovens não têm líderes nos quais se espelhar os criminosos podem se tornar exemplo de sucesso na vida. Podem entender que se aliar a grupos para praticar crimes, especialmente o roubo e o tráfico de droga, poderia ser garantia de riqueza, claro, dimensionar os riscos.

Outro dia um rapaz, adolescente de 18 anos, acabou preso por tráfico. Ele contou que receberia R$ 50 mil para levar 30 kg de cocaína de uma cidade para outra, uma viagem de ônibus de menos de 300 km. Certamente pensou que seria o dinheiro mais fácil de sua vida.

Em menos de 24hs estaria de volta e com R$ 50 mil no bolso. Quem o contratou propagou facilidade, porém preferiu terceirizar a tarefa porque conhecia bem os riscos.

ALECY ALVES é repórter



URL Fonte: http://toquedealerta.com.br/artigo/1360/visualizar/