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CIDADE
Sexta - 23 de Janeiro de 2015 às 14:44
Por: Bol

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 Cinco cruzes de madeira separadas a uma distância semelhante entre elas estão fixadas em um descampado na ilha de Nusakambangan, complexo de prisões conhecido no interior da Indonésia como a "Alcatraz" local.

Ali, na segunda cruz da esquerda para a direita, foi fuzilado Marco Archer Cardoso Moreira, 53, condenado à morte por tráfico de drogas no país —e primeiro brasileiro na história a ter sido executado no exterior.

Obtida pela Folha, a imagem, inédita, foi tirada na tarde de sábado (horário local), horas antes da execução. O fuzilamento se deu à 0h30 de domingo na Indonésia, tarde de sábado no Brasil. Marco morreu dez minutos depois.

Com base em autoridades locais e brasileiras e em uma norma de 2010 que determina como a polícia age antes, durante e após os fuzilamentos, a reportagem reconstituiu detalhes da execução.

Em pé

Segundo uma autoridade indonésia, Marco pediu para ser executado em pé. Por lei, ele tinha a opção de sentar em uma cadeira ou se ajoelhar.

Os outros quatro executados lado a lado dele fizeram a mesma escolha, disse.

Ainda segundo a mesma autoridade, que pediu anonimato, o brasileiro ficou vendado —por lei, poderia ter se recusado, se quisesse encarar os carrascos.

Menos de uma hora antes do fuzilamento, os cinco condenados foram levados da prisão de Besi, na mesma ilha, ao descampado, a essa altura iluminado por holofotes. Estavam algemados.

Nos momentos anteriores às mortes, só tiveram acesso ao descampado os policiais dos pelotões de fuzilamento —eram 12 para cada executado—, um médico e um padre protestante indonésio.

Representantes de embaixadas, do Brasil inclusive, estavam na ilha, mas foram autorizados a ficar a cerca de 1 km, sem ver as execuções.

Pela norma de 2010, os condenados usam camisetas brancas. Antes da execução, um médico fez uma marca preta na altura do coração do condenado, para facilitar a mira dos atiradores.

O documento também cita que os fuzis devem estar carregados com uma única bala. Só três das 12 eram de verdade; as outras, de festim. Os atiradores não sabiam quem tinha munição de verdade.

Apito e espada


As execuções foram simultâneas, segundo a autoridade indonésia. Antes dos disparos, disse, o comandante dos pelotões soprou um apito como sinal de preparação; depois, outro oficial levantou uma espada, indicação para os atiradores mirarem no peito dos condenados.

Em seguida, abaixou a espada —foi a ordem para os atiradores dispararem.

Marco levou um único tiro, no peito, a uma distância entre cinco a dez metros. A considerar as regras, supõe-se que dois atiradores erraram seus tiros, o que a Folha ainda não conseguiu confirmar.

Constatadas as mortes, os corpos foram limpos e vestidos —Marco foi vestido com terno preto, providenciado pelo governo da Indonésia. Em seguida, foram colocados em caixões brancos e levados cada um a uma ambulância.

O fuzilamento estava programado para pouco depois da meia-noite, mas se deu à 0h30. Segundo a vice-cônsul da Embaixada do Brasil em Jacarta, Ana Carmen Caldas, houve um "grande silêncio" e, depois, um "estrondo".

Presente no grupo que acompanhava de longe as execuções, ela reconheceu o corpo do brasileiro.

Cremação


O corpo de Marco saiu diretamente para um crematório em uma cidade vizinha.

A cremação ocorreu de modo rudimentar: sobre uma folha de bananeira. Um homem quebrou manualmente, com um pedaço de madeira, os ossos do brasileiro que não haviam sido totalmente calcinados, disse uma testemunha.

Ainda assim, sobraram pedaços de ossos na urna entregue à tia do brasileiro, Maria de Lourdes Archer Pinto.

Com isso, ela terá que cremar o corpo novamente antes de trazê-lo para o Brasil.         




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