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SEGURANÇA
Segunda - 25 de Junho de 2012 às 14:36
Por: Neusa Baptista

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Trabalhadores da indústria de carnes e laticínios da região Portal do Amazônia, que abrange 16 municípios, entre eles Alta Floresta, Matupá, Colíder, Nova Monte Verde e Guarantã do Norte, encaminharão nos próximos dias ao Ministério Público do Trabalho denúncias sobre as péssimas condições de trabalho a que são submetidos os cerca de 3 mil funcionários de frigoríficos.

A industrialização da carne bovina é a principal atividade econômica da região, chegando, em alguns casos, a empregar grande parte da população dos municípios. Em cada um dos nove frigoríficos, cerca de 800 cabeças são abatidas diariamente. Entre estes, pelo menos um já foi adquirido e três arrendados pelo grupo multinacional JBS/Friboi, que, segundo a entidade, tem agido de forma ‘predatória’, provocando a quebra de frigoríficos de menor porte, que são posteriormente comprados e desativados.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Carnes e Laticínios (Sintracal), a expansão do grupo JBS piorou as relações de trabalho. Em um dos frigoríficos comprados, por exemplo, a multinacional paralisou a instalação de bebedouro na área de abate, que havia sido iniciada pelo proprietário anterior e, com isso, os funcionários só podem tomar água uma vez por dia. De acordo com o presidente do Sintracal, Luiz Cardozo, a situação será denunciada ao Ministério Público do Trabalho pela entidade em conjunto com a Federação dos Trabalhadores na Indústria de Mato Grosso (FETIEMT), à qual é filiada. Luiz Cardozo esteve em Cuiabá na manhã desta sexta (22) para tratar do assunto.

Maior empresa em processamento de proteína animal do mundo, a JBS tem negócios nas áreas de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas. Está presente em todos os continentes, com plataformas de produção e escritórios no Brasil, Argentina, Itália, Austrália, EUA, Uruguai, Paraguai, México, China e Rússia, entre outros países. Em seu site, a empresa informa que possui 100% de acesso aos mercados consumidores, 140 unidades de produção 120 mil funcionários no mundo. O sindicato também reclama da política machista da empresa, onde as mulheres, que representam cerca de 70% da mão de obra em frigoríficos no Estado, têm salários inferiores aos dos homens exercendo a mesma função. “O salário obedece a uma classificação que vai de C até A, mas não se sabe ao certo quais são os critérios. Até hoje nenhuma mulher chegou ao patamar máximo nem foi contemplada com algum prêmio por produção, ainda que haja muitas que mereçam isso”, explica o presidente do Sintracal.

Mato Grosso é o Estado onde é praticado o menor salário, mas os trabalhadores do setor reclamam que estão sem ganho real há sete anos, e que as recomposições salariais deste período representaram apenas 50% de aumento, contra um aumento de mais de 100% ocorrido no salário mínimo no mesmo período. Este ano, o sindicato reivindica 12% e a empresa oferece 5% de reajuste.

Em Mato Grosso, os sindicalistas temem que a expansão da JBS leve ao monopólio da comercialização da carne, o que traria prejuízo para pecuaristas, trabalhadores, consumidores e para a economia do Estado. “Eles querem o lucro em cima da desgraça do pecuarista e do suor do trabalhador. Estão preocupados é com o consumo externo e não com quem ganha R$ 622 de salário”, disse o secretário geral da entidade, Cesar Rolim.

Segundo o sindicato, a JBS vem praticando irregularidades trabalhistas nas unidades que assume. “Os funcionários têm hora para entrar, mas não para sair. Já houve casos de jornadas de trabalho que iam das cinco da manhã à meia noite e o trabalhador deveria estar no ponto de ônibus às três da manhã do dia seguinte. Isso é desumano”, comentou Rolim. “Eles ainda manipulam, cerceiam informações, pressionam trabalhadores para que não participem do sindicato, não se informem”.

Segundo ele, a JBS também vem descumprindo um acordo assinado em 2007, no qual se comprometeu a não comprar gado de fazendas onde havia prática de trabalho escravo.

O sindicato critica ainda os incentivos fiscais concedidos pelo Governo Federal à JBS e que não são disponibilizados da mesma forma aos pequenos frigoríficos endividados, que são ‘abatidos’ pela multinacional. Uma das últimas plantas frigoríficas fechadas foi a do município de Nova Monte Verde.

Diante desta situação, o Sintracal está realizando um diagnóstico sobre as condições econômicas dos frigoríficos da região, principalmente quanto aos postos de trabalho gerados, ocupados e ociosos. De acordo com a entidade, está havendo uma grande migração de trabalhadores de frigoríficos para outras áreas, como a sucroalcooleira, o que, em longo prazo, poderá significar a redução da atividade na região.

De acordo com a FETIEMT, a JBS já fechou frigoríficos em Água Boa, Barra do Bugres e Cáceres e há informações de que pretende fazer o mesmo em Barra do Garças.





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