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POLÍCIA
Segunda - 10 de Janeiro de 2011 às 08:50
Por: Caroline Rodrigues A GAZETA

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A GAZETA
Bruno Hoffmann (destaque) última notícia é trágica; corpo encontrado em sapateira no rio Cuiabá seria dele.
Bruno Hoffmann (destaque) última notícia é trágica; corpo encontrado em sapateira no rio Cuiabá seria dele.

Mais de 2,2 mil pessoas desapareceram nos últimos 4 anos em Cuiabá e Várzea Grande. Entre as vítimas, 653 famílias não conseguiram informações do paradeiro de parentes. Alguns continuam as buscas por conta própria e qualquer informação é motivo de correria e mantém a esperança do reencontro. O Setor de Desaparecidos da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa recebe em média 50 novos casos por mês e a maior parte tem o motivação "enigmática", ou seja, sem brigas ou fatores que justifiquem o desaparecimento.

A comerciante Marley de Miranda procura há mil dias o filho Carlos Douglas Lauer, hoje com 23, que desapareceu em 11 de abril de 2008. O rapaz saiu de casa após uma discussão banal com o pai, que questionava o motivo de ele chegar tarde.

Depois do desentendimento, o jovem saiu pela porta da casa e nunca mais voltou. As buscas começaram em seguida e vários cartazes foram espalhados pela cidade. Marley também procurou a imprensa em busca de ajuda.

Ela conta que os amigos do bairro e da faculdade, onde Carlos cursava administração, contribuíram nas buscas e ficaram surpresos com a atitude dele. Após anos de procura, a família recebeu a informação de uma organização, especializada em achar pessoas desaparecidas. Os representantes disseram que Carlos Douglas tinha sido localizado em uma cidade de São Paulo.

A notícia fez a esperança reavivar e a família pagou um vizinho para ir até o local. O homem conhecia o rapaz e levou fotos. Ao encontrar o suposto Carlos Douglas, ficou frustrado. O rapaz tinha as mesmas características físicas, mas não era o universitário.

Marley conta que a fé é a principal aliada. O sentimento não deixa que a esperança acabe e ela tem a certeza que ainda vai reencontrar o filho. "No começo precisava tomar remédios controlados para superar a dor. Agora, convivo com ela, mas não parei de procurar".

Nos primeiros meses, a situação foi mais difícil porque a família recebia diversos trotes, que acabavam em ações sem sucesso. A comerciante relata que ainda procura os jornais para que a imagem de Carlos Douglas continue sendo divulgada para que um dia chegue ao conhecimento da família um informação precisa.

Procura - A professora Jussarina Braz Queiroz, 50, mandou carta até para a Presidência da República para pedir empenho nas buscas do filho dela, Marcos Rangel da Conceição, 31. Ele saiu de casa no dia 19 de setembro de 2009 e está desaparecido há 111 dias.

Marcos saiu de casa, no residencial Santa Inês, apenas com a roupa do corpo, deixando para trás documentos e demais objetos pessoais. Quatro dias depois, Jussarina recebeu a informação de que Marcos tinha sido visto na Praça Maria Taquara, região central da cidade.

Ela procurou o Setor de Desaparecidos da DHPP e fez o registro formal da ocorrência. A mãe também falou que amigos do filho tinham o visto após o desaparecimento na praça.

Nos dias seguintes, ela ligava todos os dias, perguntando se os investigadores tinham ido ao local. "Um dia não tinha efetivo, no outro não tinha viatura. Cada vez era uma desculpa, então percebi a má vontade".

A professora mandou um e-mail para a Corregedoria de Polícia e o responsável encaminhou um ofício, exigindo que a Polícia verificasse a informação dada sobre o paradeiro de Marcos.

No dia 11 de dezembro, Jussarina recebeu uma ligação do Setor de Desaparecidos. A pessoa disse que "deu uma passada no local" e que realmente o filho dela esteve lá e tomou cerveja com alguns amigos, porém não falou nada. "Eu fiquei revoltada com a resposta, já que ninguém foi intimado e não existe nada oficial sobre a busca no local".

Inconformada com o serviço, a professora resolveu recorrer ao então presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva. Ela escreveu uma carta de próprio punho pedindo ajuda e contando os fatos que aconteceram durante a busca.

Algumas semanas depois, recebeu a resposta. A Presidência da República assegurou que o caso será encaminhado para o Ministério da Justiça. Agora, Jussarina está procurando associações e demais entidades que possam auxiliá-la.

Marcos era usuário de drogas e mesmo no ápice de vício, nunca ficou mais de 2 dias fora de casa. Quando o sumiço chegou a 4 dias, a família procurou a delegacia.

Tragédia - O adolescente Bruno de Souza Hoffmann, 17, está desaparecido desde 8 de dezembro de 2010 e existem fortes indícios de que o corpo dele tenha sido encontrado 5 dias depois, dentro de uma sapateira, nas margens do rio Cuiabá, no bairro Coophamil.

A avó da vítima, Elza das Neves, 71, disse que a família está abalada com a notícia. Conforme a idosa, o corpo já passou pelo exame de arcada dentária e também de digitais. Ambos confirmaram a identificação, mas a Polícia solicitou ainda o DNA porque o corpo foi achado em estado avançado de decomposição.

O corpo que pode ser de Bruno foi encontrado no dia 12 de dezembro por pescadores. A vítima teve as mãos e pés amarrados com fios elétricos. O corpo foi colocado em uma sapateira, semelhante a um baú, e jogado no rio.

As pessoas que o acharam disseram que viram um braço saindo pelo zíper da sapateira e chamaram o Corpo de Bombeiros, que retirou o corpo da água.

Alguns dias depois que saiu de casa, a família teve informações que Bruno estava perto do Cemitério do Porto.

Polícia - O responsável pelo Setor de Desaparecidos, Gardel de Lima, explica que o perfil predominante entre as vítimas é do sexo masculino, tanto adolescentes como adultos. A maior parte das pessoas não tem motivos para sair de casa. Alguns apenas optam por abandonar a família e outros são influenciados pelo consumo de drogas, álcool ou participação em crimes.

Apenas em 2010, houve o registro de 704 desaparecidos, dos quais 496 foram encontrados e 208 casos ainda estão sob investigação. Lima explica que o setor precisa entrar em contato com a delegacia de outros estados e também entidades especializadas na localização de desaparecidos.

O trabalho ainda sofre com a falta de estrutura. Não existe um cadastro nacional dos desaparecidos e o portal da Secretaria de Direitos Humanos não é abastecido com informações de Mato Grosso desde 2002.

O projeto para um portal nacional é desenvolvido pelo Ministério da Justiça, mas apenas um curso de apresentação foi dado aos futuros operadores do sistema.

O setor conta também com apenas 2 pessoas para investigar todos os casos.


 




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