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CIDADE
Sábado - 20 de Março de 2010 às 12:46

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São cada vez mais eufóri­cas as notí­cias que nos chegam pelos tele­jornais, periódicos, rádio e outras fon­tes sobre os lucros fabulosos dos ban­cos, o petróleo do pré-sal, a safra de grãos, a previsão de crescimento econô­mico, a popularida­de do governo, as vésperas da Copa do Mundo... e por aí adiante!
 
Mas há uma per­gunta que não quer silenciar: onde es­tão nossos direitos? Implícita ou expli­citamente, sufoca­da ou gritada, indi­vidual ou coletiva, ela está nas ruas, nos campos e nas praças. Está nos rostos, batidos pelo sol e pelo vento, dos camponeses; está nos tormentos e tribulações dos desempregados; está nas filas dos hospitais, das escolas, do pon­to de ônibus, dos açougues e padarias; está nas cicatrizes e hematomas que as mulheres es­condem por vergonha ou medo; está no olhar perdido dos jo­vens, sem perspectiva, e que se aventuram pelos becos da dro­ga e da violência; está no de­samparo de crianças, sem ter­ra, sem teto, sem escola, sem saúde, sem roupa, sem comida; está nas populações “cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor” (Mt 9,35-38).

Onde estão nossos direitos? Pergunta incômoda, imperti­nente, na maioria das vezes sem respostas. Pergunta que se levanta das periferias e dos recantos mais longínquos, que rompe o isolamento dos porões mais sórdidos e que vem disputar o ar livre. Com sua resistência e teimosia, traz nuvens sombrias sobre o rumor da publicidade e a política do otimismo.

Perguntando: Onde estão nossos direitos? A 16ª edição do Grito dos/as Excluídos /as pre­tende resgatar as condições re­ais e efetivas da vida. Pretende também retomar a esperança e a utopia do projeto popular, fundamentado na justiça e no direito, pátria terrena como sinal da Pátria definitiva. Nis­to radica-se a mística de todo caminheiro: aquele que tem os pés firmes num chão marcado por sonhos e contradições, as mãos solidárias para a luta e a construção de caminhos alter­nativos, e os olhos postos no horizonte de uma sociedade renovada, tanto nas relações pessoais e comunitárias quanto nas relações sociais, políticas, econômicas e ecológicas.

O respeito e a defesa, a con­quista, ampliação e universa­lização dos direitos básicos de cada cidadão ou cidadã exigem uma base sólida no sentido de preservar “a vida em pri­meiro lugar”. É a coluna vertebral do Grito, desde sua primeira edição em 1995. Essa base, por sua vez, requer hoje mudan­ças urgentes e profundas da sociedade. Convém ter presente, porém, que di­reitos não se confundem com migalhas e mudança é muito mais que mero ajus­te ao mercado mundial ou programas pontuais.

Entre as mudanças, vale destacar uma reforma agrária e agrícola que leve em conta o limite da proprie­dade da terra rural e urba­na; melhorias substanciais nos sistemas de saúde, educação e transporte público, habitação; uma nova convivência com o planeta terra, preservan­do as diversas formas de vida e um desenvolvimen­to justo, solidário e sus­tentável; espaço aberto à comunicação e à partici­pação popular.

Na origem do Grito está também a ideia de soberania nacional e internacional, a qual não exclui relações so­lidárias com outros países, especialmente nossos vizinhos la­tino-americanos, conforme subli­nham o Grito Continental, a Rede Jubileu Sul, a Assembléia Popular, entre outras iniciativas.

Direitos, soberania e relações livres são pressupostos indispen­sáveis para a construção de um projeto popular. Um projeto que leve em conta as necessidades fundamentais dos setores mais pobres e excluídos da população, fugindo da mera matemática do crescimento e do lucro. Somen­te um povo autônomo pode es­tabelecer laços com outros po­vos igualmente autônomos.






URL Fonte: http://toquedealerta.com.br/noticia/23999/visualizar/