16ª edição do Grito dos/as Excluídos /as pretende resgatar as condições reais e efetivas da vida
São cada vez mais eufóricas as notícias que nos chegam pelos telejornais, periódicos, rádio e outras fontes sobre os lucros fabulosos dos bancos, o petróleo do pré-sal, a safra de grãos, a previsão de crescimento econômico, a popularidade do governo, as vésperas da Copa do Mundo... e por aí adiante!
Mas há uma pergunta que não quer silenciar: onde estão nossos direitos? Implícita ou explicitamente, sufocada ou gritada, individual ou coletiva, ela está nas ruas, nos campos e nas praças. Está nos rostos, batidos pelo sol e pelo vento, dos camponeses; está nos tormentos e tribulações dos desempregados; está nas filas dos hospitais, das escolas, do ponto de ônibus, dos açougues e padarias; está nas cicatrizes e hematomas que as mulheres escondem por vergonha ou medo; está no olhar perdido dos jovens, sem perspectiva, e que se aventuram pelos becos da droga e da violência; está no desamparo de crianças, sem terra, sem teto, sem escola, sem saúde, sem roupa, sem comida; está nas populações “cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor” (Mt 9,35-38).
Onde estão nossos direitos? Pergunta incômoda, impertinente, na maioria das vezes sem respostas. Pergunta que se levanta das periferias e dos recantos mais longínquos, que rompe o isolamento dos porões mais sórdidos e que vem disputar o ar livre. Com sua resistência e teimosia, traz nuvens sombrias sobre o rumor da publicidade e a política do otimismo.
Perguntando: Onde estão nossos direitos? A 16ª edição do Grito dos/as Excluídos /as pretende resgatar as condições reais e efetivas da vida. Pretende também retomar a esperança e a utopia do projeto popular, fundamentado na justiça e no direito, pátria terrena como sinal da Pátria definitiva. Nisto radica-se a mística de todo caminheiro: aquele que tem os pés firmes num chão marcado por sonhos e contradições, as mãos solidárias para a luta e a construção de caminhos alternativos, e os olhos postos no horizonte de uma sociedade renovada, tanto nas relações pessoais e comunitárias quanto nas relações sociais, políticas, econômicas e ecológicas.
O respeito e a defesa, a conquista, ampliação e universalização dos direitos básicos de cada cidadão ou cidadã exigem uma base sólida no sentido de preservar “a vida em primeiro lugar”. É a coluna vertebral do Grito, desde sua primeira edição em 1995. Essa base, por sua vez, requer hoje mudanças urgentes e profundas da sociedade. Convém ter presente, porém, que direitos não se confundem com migalhas e mudança é muito mais que mero ajuste ao mercado mundial ou programas pontuais.
Entre as mudanças, vale destacar uma reforma agrária e agrícola que leve em conta o limite da propriedade da terra rural e urbana; melhorias substanciais nos sistemas de saúde, educação e transporte público, habitação; uma nova convivência com o planeta terra, preservando as diversas formas de vida e um desenvolvimento justo, solidário e sustentável; espaço aberto à comunicação e à participação popular.
Na origem do Grito está também a ideia de soberania nacional e internacional, a qual não exclui relações solidárias com outros países, especialmente nossos vizinhos latino-americanos, conforme sublinham o Grito Continental, a Rede Jubileu Sul, a Assembléia Popular, entre outras iniciativas.
Direitos, soberania e relações livres são pressupostos indispensáveis para a construção de um projeto popular. Um projeto que leve em conta as necessidades fundamentais dos setores mais pobres e excluídos da população, fugindo da mera matemática do crescimento e do lucro. Somente um povo autônomo pode estabelecer laços com outros povos igualmente autônomos.