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JUSTIÇA
Sábado - 10 de Fevereiro de 2018 às 11:49
Por: Gazeta Digital

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João Vieira

O juiz Murilo Mesquita retomou na tarde desta sexta-feira (9) a audiência de instrução que apura a participação de militares no esquema de interceptações ilegais A audiência começou de manhã, com a oitiva de civis na condição de testemunhas. Agora a tarde, serão ouvidas testemunhas militares que também tiveram participação no caso e ainda serão julgados os pedidos de liberdade do coronel Zaqueu Barbosa e do cabo Gerson Corrêa.

Neste momento, é interrogada a terceiro sargento Andréia Cardoso, que relata que foi chamada pelo coronel Airton Siqueira, na época chefe da Casa Militar e com quem trabalhou no Ciopaer, para trabalhar no serviço de inteligência. Ele teria a orientado a procurar o coronel Zaqueu Barbosa que foi quem a encaminhou para o cabo Gerson.

Ela conta que tabalhava na sala comercial que funcionava próximo ao Museu da Caixa D'Água Velha, região central de Cuiabá, entre setembro de 2015 até meados de 2016.

Ela relata que inicialmente trabalhava sozinha fazendo a transcrição de todas as conversas interceptadas e, posteiormente, com o aumento da demanda de escutas, chegou outro policial chamado Cleiton Dorileo para ajudá-la.

Segundo ela, o objetivo era fazer interceptações de militares suspeitos de envolvimento em crimes e depois de presidiários, mas afirma que houve civis grampeados também, se recordando que uma mulher de nome Daiane foi alvo de escuta Depois de quase um ano trabalhando na sala comercial, a policial conta que passou a trabalhar de sua própria casa, por meio de um aplicativo instalado em seu computador pessoal pelo cabo Euclides Torezan.

Cabo Andreia relata que nunca desconfiou que estava atuando com interceptações ilegais, o que spo veio saber quando o escândalo veio à tona pela imprensa. Ao tomar conhecimento, ela diz que tentou esclarecer o caso procurando a Corregedoria da PM, acionando o coronel Alexandre Mendes, acompanhada de advogados e levando o computado pessoal que usou, sem nunca ter avisado os PM's que trabalharam com ela na central des escutas telefônicas.

Questionada pelo advogado do coronel Zaqueu, Andréia afirma que a Daiane anteriormente citada por ela como uma das pessoas interceptadas, era uma traficante de drogas. Também nega ter ouvido qualquer conversa de autoridade como juizes, por exemplo.

Respondendo às perguntas dos juízes, a sargento afirma que o cabo Gerson era quem lhe passava a relação de números que seriam interceptados e trancritos, lhe dizendo que eram alvos de ações judiciais, mas que ela não teve acesso a esses autos. Ela afirma ainda que o cabo Gerson também realizava as escutas dos mesmos alvos que ela ouvia, mas não sabe afirmar se ele ouvia as convesas de outras pessoas ou se havia outra central de escutas telefônicas. Ao fim de seu depoimento, Andreia afirma que sentiu temor pela vida de sua família após o escândalo vir à tona.

O cabo Euclides Torezan é interrogado. Ele afirma que no final de 2014 atuava no Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e foi informado pelo seu suerior imediato, coronel Evandro Lesco, que deveria procurar o coronel Zaqueu Barbosa no comando-geral da PM, foi quando sooube que faria parte de um seerviço de inteligência coordenado pelo cabo Gerson Corrêa.

Como é formado na àrea de tecnologia, Torezan afirma que trabalhou na estruturação do sistema de interceptação telefônica nas horas em que estava de folga no Gaeco. As reuniões dele com a equipe da empresa Simples IP ocorriam na sede da empresa. O objetivo era criar um sistema de interceptação que funcionasse mediante desvio da operadora, com autorização judicial e, posteriormente, comercializá-lo para todo o país.

O sistema teria que funcionar da mesma foram que o sistema Sentinela, porém, mais barato, já que o Sentinela tem valor milionário. Torezan admite que tinha interesse financeiro nisso e que seus encontros com a empresa Simples IP ocorriam em seu horário de folga. Seu contato na empresa era José Marilson.

Torezan confirma que foi até a central de escutas próximo ao morro da Caixa D''Água Velha nde chegou a ver o cabo Gerson, sargento Andréia e Cleiton, para fazer a instalação de equipamentos. Após montada a estrutura, foi permitido que o acesso às escutas poderiam ser feitas de forma remota, ou seja, outra pessoa autorizada poderia escutar as mesmas conversas de outro lugar, utilizando uma senha própria.

O cabo Euclides Torezan relata que no dia em que a sargento Andreia foi até a Corregedoria prestar esclarecimentos e isso foi divlgado na imprensa, ele foi procurado por um sub-tenente de nome Santos, enviado pelo coronel Ronelson Jorge de Barros. Este teria informado a Torezan que este havia sido citado pela sargento Andreia e que, por isso, Torezan seria chamado a prestar esclarecimentos.

Além disso, o coronel Barros teria orientado Torezan a procurar o cabo Gerson para "alinhar" as versões que seriam apresentadas nos depoimentos porque o sistema utilizado para interceptações não poderia ser divulgado. No entanto, Euclides afirma que não procurou Gerson para fazer o alinhamento.

Questionado pelo promotor Allan Sidney de Souza se não era estranho o fato de receber de um coronel a informação de que a missão ligada às interceptações seria coordenada por um cabo, no caso Gerson Correa, Torezan explicou que não porque Gerson é muito respeitado no meio militar por conta de seu know-how no assunto e pelo fato de muitas grandes operações militares e do Gaeco terem obtido êxito graças ao trabaho de inteligência e de interceptação conduzido por ele.

Euclides Torezan afirma que foi preso no ano passado por uma fala de José Marilson, que afirmou no inquérito que um funcionário da Simples IP viu o cabo no dia da desintalação da sala onde ocorriam as escutas e que ele teria ficado com o aparelho, mas que na verdade isso não ocorreu. Ele se defende afirmando que seu nome foi "jogado no lixo" por estar criando um sistema de inteligência que funcionava apenas com números que tinham autorização judicial. Ele desconhece se houve barriga de aluguel nas ações que autorizaram as escutas.

Após uma série de explicações técnicas, o depoimento de Torezan é encerrado.

O cabo Cleiton Dorileo afirma que recebeu ordens do tenente-coronel Januário para procurar o comandante-gera Zaqueu Barbosa, feito isso, este teria he perguntado se aceitava "limpar a polícia" e o cabo aceitou. Então, orientou Cleiton a procurar o cabo Gerson Correa. O termo "limpar a polícia" se tratava das interceptações contra policiais suspeitos de participação em crimes.

Cleiton afirma que na central de escutas próximo ao museu da Caixa D'água, havia dois computadores em uma sala e, em outra sala, um computador conectado a vários telefones. Ele afirma que trabalhava o dia inteiro e que, no início, a qualidade dos aúdios das ligações era muito ruim, dificultando identificar as pessoas. Ele relata que passou cerca de 10 meses ouvindo conversas telefônicas de policiais que cometiam infrações e acabaram precessados na Justiça posteriormente, além de conversas interceptadas de dentro de presídios, a maioria ligada ao tráfico de drogas.

Ele nega que nesse período tenha ouvido conversas de autoridades, jornalistas ou pessoas que não tivessem relação com os crimes apurados. Também nega que tenha visto algum coronel na central de escutas. Depois de um tempo, afirma ter recebido ordem do cabo Gerson para não voltar mais lá porque estavam sendo feitas melhorias no sistema pela equipe da Simples IP. A oitiva de Cleiton é encerrada às 16h53

Atualizada as 16h57 - Passam a ser julgados os pedidos de revogação de medidas cautelares e os pedidos de revogação de prisão do coronel Zaqueu Barbosa e do cabo Gerson Correa. Com a palavra, o promotor de Justiça Allan Sidney de Souza profere seu parecer, destacando que os fatos imputados aos réus são estarrecedores e que os indícios de autoria e materialidade estão presentes nos autos e se coloca contrário à soltura de ambos os réus. Ele também é contra a retirada da tornozeleira eletrônica do coronel Ronelson Barros, mas favorável a revogação de sua prisão domiciliar.

Atualizada às 17h15 - O juiz Murilo Mesquista profere sua sentença em relação aos pedidos de revogações de prisões e cautelares. Zaqueu Barbosa e Gerson Correa estão presos há mais de 260 dias. A defesa do coronel pediu a soltura e substituição por medidas cautelares alegando que Zaqueu já não exerce mais cargo de chefia na Polícia Militar e a defesa de Gerson alegou excesso de prazo. A defesa de Ronelson de Barros alegou que também não faz mais parte da Casa Militar e que não oferece qualquer risco para a instrução militar, negando ainda que tivesse tido acesso ao HD que continha as gravações de conversas grampeadas.

O juiz também levantou a questão da complexidade do processo, o que justifica a demora no andamento do processo, reclamada pelos réus. Afirma que a justificativa de conveniência da instrução usada para prender os réus está mantida. O magistrada ainda resaslta que várias pessoas tiveram suas vidas "devassadas" por conta dos grampos ilegais e que as condutas dos policiais levou "desprestígio à caserna". Diante desses argumentos, ele manteve as prisões preventivas do coronel e do cabo.

O magistrado também manteve as medidas cautelares impostas aos coronéis Ronelson de Barros e Evandro Lesco, que estão em prisão domiciliar e usando tornozeleira eletrônica. Ao manter essas medidas, o juiz destacou que devido à patente, o coronel pode exercer influência sobre policiais subordinados e acabar trapalhando o andamento processual.

Atualizada às 17h45 - Agora, os juízes militares, membros do conselho especial também proferem seus votos. A maioria deles é favorável a mudança da pena de Zaqueu Barbosa de prisão preventiva para prisão domiciliar. Eles também afirmam sentir estranheza em relação à postura do cabo Gerson, que teria tido maior participação no caso dos grampos.

Por fim, após todos manifestarem seus votos, o cabo Gerson permanece preso preventivamente, por unanimidade. Pela maioria, Zaqueu Barbosa conseguiu a substituição da prisão preventiva pela domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Em relação a Evandro Lesco e Ronelson de Barros, por 3 votos a 2, ficaram mantidas as medidas cautelares de uso de tornozeleira e prisão domiciliar.





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