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Segunda - 22 de Outubro de 2018 às 16:29
Por: Redação TA c/ Gcom-MT

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Foi com olhares atentos que estudantes do ensino médio da Escola Estadual Zélia Costa de Almeida, no Jardim Presidente II, em Cuiabá, participaram do encontro com um dos 318 judeus de origem holandesa que sobreviveram ao Holocausto durante a 2º Guerra Mundial. O economista Louis Frankenberg esteve na cidade e falou sobre os momentos vividos no campo de concentração, ainda na infância, e na busca pela sua identidade.

Para os alunos, o entendimento histórico sobre o conflito teve início com projeto de leitura da escola, como explica a coordenadora Lucinda Gavilha. “Percebemos que muitos dos nossos estudantes chegam ao ensino médio sem o contato real com a leitura. Então, desde abril, tiramos um tempo na rotina escolar para praticá-la”, lembra.

Dentro dos debates com os professores sobre qual obra seria adotada, o professor de história, Yuri Chaya Piraccini, sugeriu o livro O Diário de Anne Frank, que conta a trajetória de uma jovem judia holandesa, que passou anos escondida no sótão de uma casa em Amsterdã, fugindo dos nazistas.

“O conteúdo foi pensado dentro da temática de histórias e conflitos de guerra na sociedade mundial e memória viva. O livro retrata isso. Fizemos uma parceria com uma livraria e foram comercializados 150 livros e a escola foi contemplada com 10 unidades para a biblioteca”, lembrou Lucinda.

Louis em Cuiabá

O economista esteve na Capital para uma palestra na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e após alguns contatos, o professor Yuri conseguiu levá-lo até aos estudantes. Muito aplaudido, Louis falou sobre a busca pelo próprio passado.

“Eu tinha sete anos quando a guerra começou, em 1939. No mesmo ano fui pego pelos soldados e enviado primeiro para o Campo de Concentração de Westerbork, e depois para Therensienstadt”, lembrou.

Os seis meses que passou aprisionado pelos alemães, apesar de traumáticos, resultaram em uma história de superação. Ele perdeu os pais – mortos em um dos campos de concentração – viveu longe de sua irmã, que fugiu, foi adotada e viveu de forma clandestina até o final da guerra.

“Nesse processo todo, perdi minha identidade, não sabia mais quem eu era. Foi aí que em 1988 comecei a buscar pela minha história, juntando com o que tinha na memória, com o que os livros relatavam”.

Louis recorda que dos 103 mil judeus holandeses presos no maior campo de concentração da Holanda, apenas 15% deles sobreviveram. Recordou ainda que ele só pode contar a história hoje, graças a um primo distante, que era soldado e reconheceu o seu nome na lista dos prisioneiros.

“Ele correu para falsificar um atestado de batismo na religião evangélica e com isso, não fui mandado para o campo de extermínio junto com outros 3.751 judeus, que foram para o campo mais famoso, o de Auschwitz, na Alemanha”.

Com o fim da guerra, sem a família, ele passou por muitos lares. Emocionado, lembrou dos momentos difíceis ao ser “adotado” por pessoas desconhecidas. “Eu só queria amor e eu não tinha”, finalizou.

Hoje, um dos economistas mais bem-sucedidos no país, com diversos livros publicados na área, se orgulha da família construída no Brasil. Ele é casado e tem três filhos. A família toda conta com 31 pessoas, momento em que aponta para uma foto do grupo projetada na parede.

Memória Viva

Para a estudante do 1º ano do ensino médio, Vivian Balestiro, de 15 anos, o encontro foi emocionante e ela jamais imaginaria vivenciar uma situação parecida.

“Estamos falando sobre de um dos piores crimes contra a vida humana e ele sobreviveu. Nunca pensei que teria a oportunidade de estar de frente com um sobrevivente desse período, estou emocionada”, disse.

A estudantes segurava um exemplar do livro O Diário de Anne Frank e Louis revelou que, apesar de não ter nenhuma memória sobre a jovem, há uma grande possibilidade de terem ficado no mesmo espaço, especialmente durante a distribuição dos prisioneiros para os campos da Alemanha.

“A vinda dele é uma aula inimaginável aos alunos. É uma memória viva, é resgate. Vejo que os estudantes souberam valorizar essa presença e, ainda mais, vão levar a mensagem de superação que o Louis deixa para nós. É um dos maiores momentos da escola”, finalizou a coordenadora Lucinda.





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