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MEIO AMBIENTE
Segunda - 26 de Novembro de 2018 às 23:50
Por: Redação TA c/ MPE-MT

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O Projeto Água para o Futuro já identificou 117 espécies de animais nas nascentes urbanas de Cuiabá desde a criação do projeto, em 2016. Até o momento já foram reveladas a presença de 35 espécies de peixes, 41 de anfíbios, 26 de répteis e 15 espécies de mamíferos nessas nascentes e seu entorno. Ao todo, já foram descobertas e identificadas pelo Água para o Futuro mais de 180 nascentes na Capital.

Dentre as espécies identificadas, chamou a atenção a presença de espécies de grande porte, como os carnívoros mão-pelada e onça-parda. Segundo a professora da Universidade Federal de Mato Grosso, Christine Strüssmann, parceira do projeto, “carnívoros são importantes componentes ecológicos, considerados como espécies-chave por controlarem as populações de suas presas e assim influenciarem, até mesmo, processos de dispersão de sementes e a biodiversidade em geral.”

Durante as atividades do projeto Água para o Futuro, as equipes registraram pegadas de mão-pelada na zona de contribuição hídrica dos córregos Figueirinha e Machado, correspondente à Nascente n° 80. Essa nascente está localizada na microbacia do Córrego São Gonçalo, área de expansão urbana do Quebra Ponte, nas adjacências dos bairros Distrito Industrial e Itapajé. Nessa mesma área foram registradas pegadas de uma onça-parda.

“Esse grande felino é considerado como o mamífero terrestre com distribuição mais ampla nas Américas. Apesar disso, a intensa supressão e fragmentação de seus habitats por queimadas e pela expansão urbana, bem como a eliminação de indivíduos por caça e atropelamentos, tornaram a espécie vulnerável à extinção, no Brasil”, explica Tainá Figueras Dorado Rodrigues, doutora em Ecologia e técnica do Água para o Futuro.

Conforme a professora da UFMT, Christine Strüssmann, em áreas urbanizadas, muitos elementos da fauna original desaparecem gradativamente e com isso deixam de prestar vários serviços ambientais. “Em conjunto, estes representam a garantia de um ambiente equilibrado. Além da perda de serviços ambientais, a extinção local de espécies pode resultar em dificuldades para a identificação de outras espécies parecidas, porém distintas. Quando uma nova espécie é descrita, o local onde ela foi inicialmente encontrada passa a ser conhecido, mundialmente, como a “pátria” daquela espécie, sua “terra típica”.

Tainá Figueras ressalta que, embora empobrecida, a fauna remanescente nas grandes cidades ainda pode fornecer informações importantes, por exemplo, sobre o grau de alteração da paisagem e sobre as intervenções necessárias para garantir melhor qualidade de vida às populações locais. Boa parte das espécies que persistem em áreas alteradas pela urbanização tem pequeno porte, grande mobilidade e pouca especificidade de hábitos e habitats. Espécies com requerimentos muito restritos, especialistas de hábitat e dieta, bem como aquelas de grande porte, em geral são extintas localmente ou são afugentadas pela proximidade com o ser humano e animais domésticos, ou ainda pela escassez de recursos alimentares, abrigos, etc.

As equipes do Água para o Futuro também identificaram, na Nascente n° 91, pegadas de um veado-mateiro. Essa nascente está localizada na microbacia do Córrego Moinho, bairro Morada dos Nobres, próximo ao Parque Tia Nair. Mamífero do grupo dos cervídeos, o veado-mateiro é frequente em ambientes florestais, como as matas ciliares que formam Áreas de Preservação Ambiental (APP), mas também em áreas de campos próximas a essas matas, ocorrendo sempre em associação com áreas úmidas. “Veados-mateiros são considerados importantes dispersores, por alimentarem-se seletivamente de frutas, sementes, fungos, flores e brotos, consumindo folhas e gramíneas quando os frutos tornam-se escassos. São considerados, assim, importantes bioindicadores, bastante vulneráveis à degradação ambiental”, afirma a professora da UFMT.

Os registros feitos pelo projeto demonstram que algumas das nascentes existentes dentro da área urbana de Cuiabá ainda oferecem recursos importantes para que tais espécies desempenhem suas funções ecológicas, seja no controle biológico de populações de pragas, de parasitos, como dispersores de sementes, entre outros. “A preservação de nascentes e outros mananciais é de extrema importância para a conservação de espécies no longo prazo, para a manutenção dos serviços ecossistêmicos por elas prestados e, consequentemente, para melhorias na qualidade de vida, também, da população humana”, afirma Christine Strüssmann.





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