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POLÍCIA
Domingo - 29 de Setembro de 2019 às 18:41
Por: Redação TA c/ Sesp-MT

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Foto: Mayke Toscano/Sesp-MT

Uma hora da manhã de 7 de setembro de 2019. Um vizinho ouve gritos de socorro e chama a Polícia Militar em um bairro em Rondonópolis (215 km ao Sul). Os policiais encontram uma mulher de 24 anos assustada gritando por ajuda porque o namorado a agredia e se recusava ir embora da casa dela. Os militares tiveram que usar a força para retirar o homem de 27 anos que foi preso desta vez. Havia outros boletins de ocorrência, mas desta vez, ele foi pego em flagrante.

Dezenove dias se passaram e um membro da equipe da Patrulha de Assistência à Vítima, do 5º Batalhão da Polícia Militar, liga para a jovem perguntando se ela poderia receber a visita dos policiais para saber como se sente, passado duas semanas dos fatos. Ela aceita. A decisão da vítima, seja ela de violência doméstica, idosos, crianças, LGBTQI+ ou outro público vulnerável, em receber os policiais militares é determinante para que o PAV funcione.

O sargento Juliano Bruno Mota, acompanhado da soldado Juliana, passam em uma unidade de saúde e levam a assistente social Graciela Rodrigues da Silva e a psicóloga Cristina Lopes para visitar a vítima. Há pouco mais de duas semanas, a Prefeitura de Rondonópolis retomou a parceria com o programa da Polícia Militar. A partir de 1º de outubro, a Delegacia da Mulher também passará a integrar o PAV.

O trabalho de pós ocorrência desenvolvido em Rondonópolis pode fazer toda a diferença, no caso de violência doméstica. Somente de janeiro a agosto de 2019, 59 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso. Cerca de 61% das mortes foram dentro de casa e por motivos passionais na maioria dos casos. Se não tem arma na mão, o agressor usa faca e outros objetos contundentes, perfurantes ou mesmo a força física. Os dados são da Coordenadoria de Estatísticas e Análise Criminal (Ceac) da Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Mudança cultural

Essa ação da Polícia Militar em Rondonópolis busca quebrar o ciclo da violência. Mas o desejo da vítima é respeitado. No caso de violência doméstica, muitas não aceitam a visita.

“Algumas é por conta de não acreditar que a visita pode ajudar ou reativar o vínculo com o agressor e prefere não receber. Mas aquelas que recebem a patrulha, relatam os problemas e buscamos dar acompanhamento apoio jurídico, assistência social e psicológico”, destaca o sargento.

A psicóloga Cristina Lopes diz que o trabalho da Polícia Militar é louvável, contudo, parar essa agressão, especialmente, às mulheres, e reduzir feminicídio, passa por uma mudança cultural da sociedade.

“Até pouco tempo era permitido o homem matar a mulher em nome da honra. É necessária a mudança de cultura, que estrutura essa violência. Temos uma cultura machista enraizada dentro de nós. Quando a gente pensa em mudar, há dificuldade de aceitação. A gente pensa muito em políticas públicas de enfrentamento, mas não em prevenção. A gente precisa educar os filhos para não serem machistas, há a masculinidade tóxica que não aceitam uma negação, isso precisa ser mudado”.

Para a assistente social Graciela Rodrigues da Silva, para que deixem de ser vítimas, as mulheres também precisam deixar a dependência econômica dos companheiros.

“A dificuldade de desligar do parceiro mesmo após a agressão é grande. Acredito que uma estratégia é prepará-las ao mercado de trabalho, por meio de cursos, de treinamentos. Às vezes nem tem sentimento mais, só a dependência econômica para sobrevivência dela e dos filhos”.

Olhar mais humano às vítimas

O PAV foi criado em 2016 pelo coronel PM Wilker Sodré, comandante do Comando Regional de Rondonópolis, e iniciou na cidade sede. O PAV é um dos 15 programas do Guardiões do Sudeste. Apesar de não se restringir às vítimas de violência doméstica, ele serviu como inspiração e modelo para a Patrulha Maria da Penha, que funciona em outros municípios do Estado.

O comandante do 5º Batalhão da PM, tenente-coronel Gleber Cândido Moreno, faz questão de destacar que o PAV atende também crianças vítimas de violência, idosos, LGBTQI+. “São todos os públicos vulneráveis. A gente busca esse atendimento de pós ocorrência e também busca dar encaminhamentos”.

Além da Prefeitura Municipal, Conselho da Mulher, que ajudam na parceria, a seção de Rondonópolis da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se interessou em ajudar com atendimento jurídico nos casos mais graves.





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