Construção Civil: Nos canteiros, operários apoiam greve
Trabalhadores visitados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil estão confirmando a intenção de cruzar os braços caso o Sindicato das Indústrias da Construção de Mato Grosso (Sinduscon-MT) não apresente percentual de reajuste salarial superior aos 7% apresentados até o momento pela categoria patronal.
Os canteiros de obras de Cuiabá e Várzea Grande estão sendo percorridos pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil (SINTRAICCCM) desde a manhã desta segunda (17). Até o momento, foram visitados 12 canteiros de obras das construtoras Plaenge, Camilotti, Sisan, Lotuffo, WSM, Brookfield, Concremax e a Arena Pantanal. A mobilização não tem data para ser encerrada.
A categoria reúne cerca de 30 mil pessoas em Cuiabá e Baixada Cuiabana. Os operários pedem reajuste de, no mínimo, 17% sobre os pisos, cesta básica, redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas sem redução de salário; aumento do percentual pago pela hora extra, redução do valor descontado referente à alimentação, deixando de ser 10% e passando a um valor simbólico, café da manhã em todos os canteiros de obras, plano de saúde e cesta básica. Eles lutam pela criação de um piso nacional, tendo como base situações mais favoráveis, como no Rio de Janeiro, onde o piso mais alto da categoria é de R$ 1.540,00. Em Mato Grosso, o maior piso pago é de R$ 1.003,20 para profissionais (pedreiros, carpinteiros, eletricistas etc) e R$ 743,60 para serventes e ajudantes.
A categoria encontra-se em estado de greve desde a manhã desta segunda, e aguarda que o Sinduscon-MT agende a próxima reunião de negociação, esperando que a entidade patronal traga novas propostas. Na última reunião, no dia 11 deste mês, os empresários ofereceram 7% de reajuste, o que significará menos de um por cento de ganho real sobre a inflação e se negaram a atender às demais reivindicações, o que gerou protesto em todos os canteiros na tarde desta segunda.
O sindicato se contrapõe ao que vem sendo divulgado pelo Sinduscon-MT, de que os salários locais são altos, e pedem a valorização dos trabalhadores. O operador de máquinas R.J. veio de Minas Gerais para trabalhar na obra do edifício Piaza de Sena, em Cuiabá. Ele conta que precisa fazer pelo menos 70 horas extras mensais para obter um salário melhor. O que consegue, envia para a esposa, que ficou na terra natal. “Para a função que eu exerço, o valor está muito baixo”.
Nos canteiros, os operários estão aproveitando a presença dos presidentes do SINTRAICCCM, Joaquim Santana, e da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de MT (FETIEMT), Ronei de Lima, para apresentar reivindicações. Uma delas é a melhoria das refeições oferecidas pelas empresas. O pedreiro M.N.S., natural do Maranhão, reclamou da comida “mal feita e sem tempero”, oferecida na obra.
A falta de plano de saúde e a burocracia necessária em caso de doenças ou acidentes foi outra reclamação dos operários. Eles relatam dificuldade de ter que enfrentar filas nos postos de saúde para pegar atestados e ficarem livres do desconto pelos dias de falta ao trabalho. “Estou tossindo e com febre há vários dias e não consigo consultar, já vi vários aqui na mesma situação. E ainda com essa poeira a doença piora”, contou o carpinteiro T.F.B., no bairro Jardim Cuiabá. O pedreiro O.P. gastou cerca de R$ 300,00 em exames de alta complexidade e acredita que pagaria menos caso houvesse plano de saúde.
Para quem é de fora, outro problema são as falsas promessas de salário que não se cumprem em Cuiabá. O servente G.P., de Pernambuco, até o ano passado recebia um piso de R$ 1.103,00 e agora está tendo dificuldades para sobreviver com os R$ 743,60 pagos em Cuiabá. “Vim para cá com muitas promessas de bons empregos e salários altos, mas é tudo mentira. Meu filho vai nascer esta semana em Pernambuco e estou preocupado, tudo que ganho, mando para a família”, disse ele.
O movimento dos trabalhadores da construção civil é apoiado também pela Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), a qual a entidade é filiada.