Castanha de terra indígena pode ser exportada para Europa
Em Rondônia, uma parceria entre a Associação do Povo Indígena Zoró (APIZ) e a Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua (Coocaram) pode resultar na exportação de castanhas com certificação orgânica produzidas dentro da terra indígena para a Europa. A possível experiência está sendo costurada pelo projeto Pacto das Águas, desenvolvido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã – STRA e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental.
“Os índios Zoró, parceiros do Pacto das Águas, produzem uma castanha de ótima qualidade e com certificação orgânica, mas eles não têm a expertise de trabalhar com o mercado externo, o que a Coocaram tem”, explica Plácido Costa, coordenador do projeto. Costa acredita que muitas experiências extrativistas, governamentais ou não, na região amazônica falharam por quererem que os trabalhadores tradicionais fizessem a gestão de toda cadeia produtiva de um produto. “A prática mostrou que isso quase nunca é um modelo eficaz”, avalia.
A ideia dos executores do projeto é juntar o que cada um faz de melhor. A APIZ produzindo a castanha e a cooperativa, que exporta café produzido por agricultores em doze municípios de Rondônia, e que por isso tem a experiência necessária para lidar com as exigências fitossanitárias dos países europeus e toda a documentação de alfândega necessária.
Leandro Martins, articulador institucional da Coocaram, explica que a cooperativa que trabalha principalmente com café e guaraná estava em busca de novos produtos para comercialização. “Nós vimos que poderia ser um arranjo produtivo interessante uma vez que os agricultores da cooperativa também produzem castanha, mas não em volume suficiente para exportação”.
Outro aspecto dessa parceria é a troca de experiências. A Coocaram aprenderá mais sobre boas práticas no manejo da castanha, como a melhor época de coleta, formas de armazenamento e estocagem. Já a Apiz poderá entender melhor o funcionamento da cooperativa que há mais de vinte anos trabalha com o mercado nacional e o mercado internacional.
“Tanto os agricultores quanto os índios ganham no capital político porque o nosso adversário é o mesmo, que é o agronegócio, e com isso nós reforçamos o nosso potencial”, argumenta. “A gente vê empresas de aviação se juntando, a gente vê empresas de alimentos se juntando e os pequenos produtores? Chegou a nossa vez também”, finaliza Martins.
Realidade no noroeste de MT
A união entre agricultores e indígenas já é uma realidade no noroeste de Mato Grosso. A Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), em Juruena (MT), que produz castanhas em amêndoas e óleo de castanha, adquire parte da matéria-prima oriunda de terras indígenas, pagando um preço justo. O destino é principalmente o mercado institucional, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Conab e empresas alimentícias e de cosméticos.
Além da cooperativa no assentamento Vale do Amanhecer, funciona a Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA). As duas entidades foram vencedoras de importantes prêmios como a de Tecnologia Social, promovido pela Fundação Banco do Brasil e Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.