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COMUNICAÇÃO
Quarta - 21 de Março de 2012 às 09:51
Por: Ismael Cardoso

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O governo brasileiro divulgou duas portarias nas últimas semanas obrigando fabricantes a embarcarem o Ginga - software que possibilita a interatividade na TV Digital - em televisores de cristal líquido e plasma fabricados no Brasil para que tenham benefícios fiscais. O recado é claro: para o governo, se a interatividade ainda não decolou nesses pouco mais de quatro anos de TV Digital no Brasil, a culpa, em grande parte, é dos fabricantes.

O Ginga é um software livre nacional, que torna possível a interatividade na TV digital, permitindo que o telespectador consulte informações sobre a programação, faça compras e acesse dados bancários pela televisão, entre outras atividades. Mais adiante, o governo pretende usá-lo como ferramenta de inclusão social, possibilitando, por exemplo, a marcação de consultas no Sistema Único de Saúde.

"A indústria não demonstrou o interesse esperado em colocar o Ginga na sua linha de produção, talvez por miopia, por considerar que o Ginga fosse uma competição com as Smart TVs", afirma o analista de infraestrutura do Ministério das Comunicações Otavio Caixeta. Segundo ele, quando o governo estabeleceu o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTV), elencou três objetivos: alta definição, multiprogramação e interatividade. O terceiro ainda não engrenou.

"O governo pesquisou e investiu dinheiro para criar uma tecnologia que prestasse serviços digitais através da televisão, e a expectativa é que os fabricantes fizessem isso", afirma Caixeta. "OS fabricantes começaram a afirmar que não havia conteúdo nas emissoras, e as emissoras, que não havia capacidade de interatividade nos aparelhos. A solução para quebrar esse ciclo foi exigir que 75% dos televisores saíssem da fábrica com esse sistema embarcado", disse em entrevista ao Terra.

Para o o especialista em conteúdo interativo e transmídia e professor da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), Valdecir Becker, o Ginga ainda pode emplacar, mas a medida do governo é tardia. "Eu acho que essa decisão deveria ter sido tomada em 2007 e 2008. Vejo com bons olhos, mas não sei se vai dar conta de desenvolver o mercado. O Ginga já está velho e alguns recursos estão ultrapassados", avalia.

Para ele, hoje vale muito mais a pena para as emissoras investirem em aplicações de interatividade para tablets e smartphones do que no sistema de TV digital brasileiro através do Ginga. "Se o Ginga tivesse sido implementado em 2007, quando ainda não tinha iPad e pouquíssimos smartphones, seria uma ótima ferramenta de comunicação. Hoje, cinco anos depois, esses produtos são muito mais atrativos, e perdeu-se muito tempo", afirma.

Fabricantes
Para o vice-presidente de Novos Negócios da Samsung, Benjamin Sicsú, a obrigatoriedade do Ginga não pegou a indústria desprevenida. "Nós estamos atendendo a uma política pública, e política pública a gente tem que cumprir. Ela era voluntária, mas todas as empresas fizeram esforço para cumpri-la, as empresas se prepararam para que todos os aparelhos tivesssem o Ginga, todo mundo investiu nisso. O governo agora resolveu transformar o que era voluntário em obrigatório, e pegou o setor todo preparado, não interferiu no plano de nenhuma empresa", afirma.

Segundo o gerente de Marketing da Linha de TVs da Sony Brasil, Luciano Bottura, todo os modelos LCD e LED da Sony, desde 2010, têm o Ginga embarcado. "Desde o começo, nós optamos por incorporar este middleware e continuamos acreditando muito fortemente na TV Digital brasileira", afirma. Para ele, Ginga e Smart TVs não concorrem. "Nossa internet TV conta com conteúdos exclusivos da Sony, vídeos da internet e redes sociais. O Ginga, por outro lado, traz conteúdos relativos ao segmento da TV, oferecidos pelas emissoras. Acredito que as duas tecnologias possam conviver harmoniosamente. Todo o nosso line up hoje possui Ginga e 22 dos 26 modelos de TV que produzimos atualmente são internet TVs", diz.

A Samsung é uma das companhias que ajudou desenvolver uma das plataformas do Ginga e, segundo Sicsú, domina a tecnologia e já embarca o sistema em alguns aparelhos, mas ainda não faz publicidade disso. O número só vai aumentar quando a suíte de testes - para avaliar o funcionamento do software - estiver concluída, o que deve ocorrer em setembro. "São três plataformas correndo paralelamente. Temos que ter certeza que elas serão interoperáveis entre si, e que o todo o conteúdo enviado pelas emissoras será compatível em todas elas", explica.

Segundo o analista do Ministério das Comunicações, a obrigatoriedade do Ginga obecedeu ao prazo pedido pela indústria. "Na consulta pública da inclusão do Ginga no PPB (processo produtivo básico, uma série de regras que as empresas devem cumprir para receber benefícios fiscais), queríamos colocar em vigor a partir de janeiro de 2012. Eles sempre disseram que a suíte de testes estaria pronta em junho, por isso que demos prazo para início de 2013 para que esse problema estivesse resolvido", afirma Caixeta.

Becker diz que a uniformização da execução do Ginga pode ser resolvida com uma atualização de software quando a suíte de testes for finalizada, mas pode representar um problema. "Uma porcentagem considerável da população não tem a cultura de atualizar o televisor", afirma.

Ginga e Smart TVs
Para Becker, um dos motivos que levou a indústria a não investir no Ginga é que o sistema, aberto e disponível para todos os fabricantes, não produz nenhum diferencial entre os aparelhos disponíveis no mercado. "A indústria não comprou a ideia do Ginga porque não é diferencial de produto, não consegue vender mais TVs porque o concorrente tem a mesma coisa. As TVs conectadas têm diferenciais que fazem com que o consumidor compre uma determinada marca e pague mais caro por isso. O Ginga vai causar um custo e não vai aumentar a quantidade de vendas", avalia.

No entanto, para Caixeta, as Smart TVs não competem com o Ginga, que é a única tecnologia capaz de trazer interatividade associada à radiodifusão. "A Smart TV copia o modelo da internet, com a compra e download de aplicativos", diz. O Ginga, um software livre nacional, possibilita que o telespectador consulte informações sobre a programação, faça compras e acesse dados bancários pela televisão, por exemplo, além de poder acessar aplicativos criados pelas emissoras para interagir com os programas.

Além disso, enquanto as emissoras devem investir em aplicativos de entretenimento por meio do Ginga, o governo pretende transformar a interatividade na TV digital em uma plataforma de inclusão social e digital. "A visão do governo é usar as emissoras públicas construindo aplicativos sociais", afirma Caixeta, citando como exemplo aplicativos que permitam a marcação de consultas ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou informações da Previdência Social.






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