Pesquisa revela que, na saúde, a despesa das famílias é de R$ 835 para cada morador da casa, enquanto o estado gasta R$ 645 por pessoa.
Brasileiro gasta mais que governo para ter serviços de qualidade
As contas só aumentam. Escola particular, plano de saúde, aposentadoria privada – o brasileiro está pagando a mais por serviços que até são oferecidos pelo Estado, mas não com qualidade. Uma pesquisa mostrou que as famílias estão gastando mais que o governo.
A diferença não é pequena nessa conta e pesa no bolso. O resultado ajuda a aumentar a insatisfação com esses serviços, que o Estado deveria oferecer com qualidade e para os quais todos pagamos com os impostos.
A bombeira civil Raquel Alves do Prado colocou as duas filhas em uma escola particular. Gasta R$ 600 por mês. Tomou a decisão ao perceber que Ana, de 11 anos, estava muito atrasada na escola pública. “Ela estava lendo muito mal. Ela estava no 6º ano e estava lendo como uma criança de 1ª série. Quando eu a passei para a escola particular, ela melhorou bastante”, comentou a mãe.
Raquel Alves do Prado faz parte de um grupo de brasileiros que está abandonando a rede pública em vários setores. Com esforço, a classe média dá um jeito de pagar por serviços que o Estado até oferece, mas nem sempre com qualidade.
A saúde é um deles. A secretária Jorgina Maria Afonso não aguentava mais as filas e a longa espera para marcar consultas e exames. A família se uniu e contratou um plano de saúde para ela. “Se não fosse meus filhos, eu nem isso conseguia. Não tinha. Continuava em lista de espera”, diz.
Pesquisa do IBGE revela que o brasileiro gasta mais do que o próprio governo com saúde. A despesa das famílias é de R$ 835 para cada morador da casa, enquanto o Estado gasta R$ 645 por pessoa. Trata-se de uma diferença de quase 30%.
Os trabalhadores também estão mais preocupados com o futuro. Como pagar todas as despesas e manter a qualidade de vida quando não der mais para trabalhar? Quem se aposenta pelo INSS hoje recebe, no máximo, R$ 3.916. Para melhorar essa renda, é cada vez maior a procura pela previdência privada.
“A gente vai envelhecer. A gente vai precisar, as coisas vão ficar mais caras, a tendência é o salário não acompanhar. Se você aposenta, esse teto que é oferecido hoje pelo INSS certamente não vai cobrir”, alerta o bancário Glauber Pinheiro de Lima.
No ano passado, os planos de previdência complementar arrecadaram mais de R$ 46 bilhões, o que representa uma alta de 18% em relação a 2010. A classe média paga duas vezes: primeiro nos impostos e depois quando contrata o serviço de educação, saúde ou previdência.
O economista José Carlos de Oliveira, da Universidade de Brasília (UnB), alerta: a solução não é simplesmente aumentar os investimentos públicos. “O problema é a qualidade na gestão desses recursos. Onde você tem desperdícios, onde você tem má alocação. Enfim, é a má gestão que faz com que você não tenha essa qualidade”, aponta.
Uma pesquisa internacional sobre o retorno que os cidadãos obtêm para os impostos que pagam mostrou, que pelo segundo ano consecutivo, o Brasil ficou em último lugar. Perdemos, por exemplo, para o Uruguai e a Argentina. Austrália, Estados Unidos e Coreia do Sul são os que mais devolvem o que cobram.