Sebrae vai investir 180 milhões para promover consultorias técnicas até 2013
Programa “Territórios da Cidadania” deve beneficiar 800 mil empreendedores
Inicialmente cinco, as pousadas do vilarejo de São Miguel do Gostoso (RN) foram multiplicadas para 26 e hoje são disputadas por turistas estrangeiros, para alegria de Ruiz Mazurek, um dos donos da Pousada Casa de Taipa.
O mamão que José Manoel do Nascimento vendia a R$ 0,65 o quilo para atravessadores na região de Maxaranguape (RN) agora rende R$ 1,10 o quilo, comercializado diretamente em supermercados de todo o estado, também do Ceará, São Paulo e até de Portugal.
Assim como dona Maria, José Manoel e Ruiz, centenas de milhares de novos empreendedores ou de micro e pequenas empresas estão sendo beneficiados com o projeto do Sebrae nos Territórios da Cidadania. O programa leva atendimento e consultoria técnica às regiões mais carentes do país, fomentando o empreendedorismo, a formalização da economia e o desenvolvimento regional. Na segunda etapa do programa, que começou em 2011 e vai até 2013, serão investidos R$ 180 milhões.
O projeto Territórios da Cidadania foi lançado pelo governo federal em 2008, com o envolvimento de 22 ministérios. O objetivo era trabalhar em três eixos: inclusão produtiva, infraestrutura e acesso à cidadania. A participação do Sebrae, inicialmente em 55 dos 120 territórios, logo se mostrou gratificante. “Conseguimos chegar a comunidades mais distantes e carentes, onde faltava todo tipo de informação e apoio técnico para a inclusão produtiva. O resultado foi a formalização de um sem-número de negócios e o fortalecimento do tecido econômico”, resume o gerente de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Nacional, André Spínola.
Associações
Em Santa Terezinha, no território da Grande Dourados, onde mora dona Maria Alves, a ideia de aproveitar as goiabas descartadas na hora de vender na feira de Itaporã rendeu outros frutos. Primeiro a criação da Associação de Mulheres Rurais Empreendedoras de Santa Terezinha, dedicadas à produção de doces, sorvetes e alimentos à base de goiaba, e depois a comercialização dos produtos. Além de evitar o desperdício, o novo negócio orientado pelo Sebrae ganhou as mercearias do município e de Dourados.
No caso de José Manoel do Nascimento, que hoje lucra o dobro com a venda do mamão, o segredo foi a formação de uma cooperativa com outros 80 produtores, que teve o apoio técnico do Sebrae. Sem as limitações legais da antiga associação de produtores, a Coapaz - presidida por Manoel - ele livrou-se dos atravessadores e conseguiu um preço mais justo para seus produtos. “Trocar ideia é que dá certo”, resume o produtor-empresário.
Ciclo
O empreendedorismo e o crescimento dos negócios locais aumentam a renda da população, gerando empregos formais e fazendo que o dinheiro gire na própria comunidade. “Ao mesmo tempo em que os municípios dependem das pequenas empresas, o crescimento delas depende da criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento das cidades”, diz o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos.
Todos os lugares, enfatiza o diretor, têm potencial para gerar produtos competitivos e promover o desenvolvimento regional. “O desafio está em transformar esse potencial em produto atraente ao mercado”. Segundo ele, isso requer estratégia, planejamento, ação política e integração entre os empresários.
O objetivo do Sebrae é levar esse ciclo virtuoso a todos os 120 territórios da cidadania, incluindo cerca de 800 mil empresas ou empreendedores individuais, com atendimentos coletivos, por meio de consultorias, palestras, feiras, oficinas e rodadas de negócios, e também atendimentos individuais, com foco no programa Negócio a Negócio, pelo qual o Sebrae oferece orientação na própria empresa.
Prêmio
Ruiz Mazurek era executivo em uma multinacional em São Paulo e deixou tudo para abrir uma pousada em uma praia paradisíaca do Rio Grande do Norte. Ele buscou apoio do Sebrae para mergulhar no mundo do micronegócio. Aprendeu a organizar o modelo de gestão e traçar o planejamento estratégico para a empresa. No ano passado, Mazurek e os sócios receberam o prêmio de melhor microempresa do Rio Grande do Norte no setor de turismo.
“Não dá para atirar no escuro na hora de empreender. É preciso ter o pé no chão”, pondera Mazurek, de bem com a vida em São Miguel do Gostoso, um dos municípios do território de Mato Grande, que atrai turistas do mundo inteiro. Há cinco anos, havia 100 leitos à disposição dos turistas, hoje são mais de 550. Sem falar nos restaurantes e nos pequenos negócios que se multiplicaram, impulsionando a economia local.