CUIABÁ E VÁRZEA GRANDE: Só 8 hidrantes funcionam
Cuiabá e Várzea Grande têm apenas 16% dos hidrantes necessários de acordo com o estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e só 2,5% dos existentes estão funcionando adequadamente. Levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros de Mato Grosso mostra que as duas cidades teriam que ter 318 equipamentos, mas só há 53 instalados. Destes, em casos de incêndios, 8 poderão ser utilizados. Os outros apresentam diversos problemas.
A maioria dos hidrantes espalhados pelos 2 municípios (21) está sem água e outros 17 estão sem condições de uso, com pouca vazão da água, sem os tampões e caixas de ligação, e até sendo utilizados como lixeiras. Situação que coloca as cidades em risco.
De acordo com a Norma Técnica 594/77 da ONU, o ideal é que haja 1 hidrante a cada 1,1 quilômetro de distância. Sendo assim, em Cuiabá seriam necessários 223 e, em Várzea Grande, outros 95. Hoje há 44 na Capital e 9 na cidade vizinha.
Segundo o major bombeiro Jeferson Amarante, responsável pelo estudo que apontou as deficiências, em alguns pontos os equipamentos existem apenas para enfeite. "Eles não estão ligados à rede de água e outros não têm a caixa para abrirmos a válvula e liberar a água. Estão ali apenas para dizer que tem".
Até mesmo em frente ao quartel da própria corporação no município de Várzea Grande foi constatada situação como esta. "Ele não está ligado na rede, não tem função alguma ali".
Em outro ponto próximo ao Terminal Rodoviário André Maggi, o equipamento fica trancado em uma "casinha", e a corporação não tem acesso às chaves.
Outro ponto que chamou a atenção foi o canteiro ao lado da rotatória entre as avenidas Arquimedes Pereira Lima (Moinho) e Itália, de acesso ao bairro Jardim Itália. No local onde deveria haver um hidrante, hoje há uma bomba de captação de água da Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap).
A dona de casa Ana Lúcia Campos, 38, conta que mora próximo ao local há 10 anos e nunca viu um hidrante naquele ponto. "Nós frequentávamos aquele local porque tem espaço para as crianças brincarem. Mas eu nunca vi um hidrante. Há 36 anos eles implantaram esta bomba porque o bairro cresceu e a água não chegava em todas as casas".
Situação que também ocorreu em Várzea Grande. No local onde existia um hidrante, funciona uma estação de tratamento de água.
Já onde os equipamentos existem e estão em boas condições de uso, os bombeiros encontram dificuldades de acesso, como a utilização das calçadas por vendedores ambulantes e o estacionamento ao lado ocupado por carros.
Um deles fica na Praça Ipiranga, na rua 13 de Junho. Ao lado do hidrante, há várias barracas. "Se chegarmos com a viatura vamos ter dificuldades para estacionar e manipular as mangueiras".
O ambulante Josemar dos Santos, 37, conta que está naquele ponto há vários anos e nunca precisou sair dali porque o hidrante precisaria ser usado. "Se eles precisarem usar aqui a gente sai rápido e desocupa o local".
Para ele, este não é maior problema, e sim o estado de conservação dos equipamentos. "Eu lembro que uma vez teve um incêndio em uma loja aqui em frente, no período da noite, e nossas barracas não estavam aqui. O bombeiro tentou usar o hidrante mas só saía lama. Então eles tem que ver isso".
Esta é a realidade de muitos outros pontos. Conforme Amarante, a água suja não pode ser utilizada porque estraga a bomba do caminhão e pode atrapalhar ainda mais os trabalhos. "Nossos equipamentos são muitos sensíveis, se entrar sujeira pode estragar. Então, de nada adianta ter água e vir com lama".
Na rua Cândido Mariano, ao lado da Prefeitura de Cuiabá, também há um equipamento. A comerciaria Sandra Ribeiro, 35, conta que as pessoas não têm consciência e, como o hidrante está sem os tampões dos lados, acaba sendo usado como lixeira. "Esses dias os bombeiros vieram aqui fazer uma vistoria e quando abriram o registro saiu tanto lixo que eu nem acreditei".
Bombeiro aposentado, Sebastião Ferreira, 56, também ve com tristeza esta atitude. Ele sabe que, se tiver lixo nos equipamentos, o trabalho pode ser prejudicado. "Este lixo entope e a água não terá força. O que está aqui para ajudar acaba perdendo valor".
Nas ruas onde os equipamentos estão instalados não há nenhuma sinalização e os carros estacionam sem preocupação alguma. Marcilio Siverino de Oliveira Neto, 30, parou o carro na rua 13 de Junho, quase em frente ao hidrante, e revelou que nem tinha percebido a existência do equipamento naquele local. "Como não tem sinalização, eu nem percebo. É a primeira vez que vejo um aqui no centro".
Soluções - O levantamento realizado neste segundo semestre pelo Corpo de Bombeiros será apresentado ao Governo do Estado e Prefeituras, para que medidas sejam tomadas. "O comando vai buscar soluções para estes problemas, principalmente porque Mato Grosso se prepara para a Copa e não pode continuar nesta situação".
A prioridade, segundo Amarante, será a manutenção dos equipamentos já existentes. "Nós somos responsáveis por fazer esta verificação, mas a manutenção é responsabilidade do município".
Já a implantação de novos hidrantes deve ocorrer em uma segunda etapa. "Primeiro teremos que levantar em quais pontos eles são necessários para que sejam implantados. E este trabalho não é tão rápido assim. Depois será necessária liberação de recursos".
Tempo de resposta - Enquanto os problemas não são resolvidos, o Corpo de Bombeiros continuará pegando água nas duas estações da Sanecap, uma no bairro Porto e outra próximo ao Centro de Ressocialização, no bairro Planalto. "Dependendo do lugar em que estamos, demoramos muito para abastecer as viaturas e o trabalho é dificultado. Isso não significa que não temos condições de combater os incêndios, porque estamos bem equipados com viaturas, mas o tempo de resposta poderia ser menor".
Hoje, as equipes gastam em média meia hora para abastecer as viaturas e se deslocar à área central. "Se pudermos fazer isso nos hidrantes mais próximos, será muito mais rápido".
Outro lado - A reportagem tentou falar tanto com a Sanecap (Cuiabá) como com o DAE (Várzea Grande), mas não conseguiu contato e nem retorno dos responsáveis.