Misturados: Grêmio e São Paulo vencem, e empate visita Flu e Timão
Está todo mundo "junto e misturado". A gíria carioca cabe como uma luva para definir a tabela do Brasileirão após a rodada #30. Isso graças principalmente ao Grêmio, que derrotou o líder Cruzeiro por 2 a 1, no Olímpico, e segue em sua incrível arrancada. Depois de se ver ameaçado pelo rebaixamento, o Tricolor se reencontrou com Renato Gaúcho no comando e faz a melhor campanha do returno. Mas a obra de deixar o Brasileirão ainda mais embolado não pertence somente aos gremistas. Afinal, dos cinco primeiros colocados na tabela, ninguém venceu.
A oito rodadas do fim, cinco times brigam diretamente pelo título. Do líder Cruzeiro, 54 pontos, ao quinto colocado Internacional, com 47, são apenas sete pontos de distância. Entre eles, Fluminense (vice-líder com 53), Corinthians (terceiro com 50) e Santos (quarto com 48). Porém, matematicamente, não dá sequer para desprezar o grupo que começa com Atlético-PR (sexto lugar com 46) e passa por Grêmio (sétimo com 46), Botafogo (oitavo com 45), São Paulo (nono com 44) e Palmeiras (décimo com 44).
Mas, e a rodada? Foi das melhores deste Brasileirão. No Olímpico, Grêmio e Cruzeiro fizeram uma grande partida. Líder, a Raposa mostrou um grande futebol e contou mais uma vez com sua arma importada: Montillo. O argentino fez um gol de muita intelgência ao aproveitar rebote do próprio chute, iludir um zagueiro com uma finta e trocar de pé para vencer Victor. Mas Júnior Viçosa empatou no apagar das luzes do primeiro tempo, aos 48, para desespero de Cuca. O treinador celeste, que deixou o gramado atirando contra a arbitragem, ainda viu um gol de Wellington Paulista ser mal anulado no início da segunda etapa por um impedimento que não existiu.
Aos 28 do segundo tempo, pênalti para os gaúchos. Jonas bateu duas vezes, converteu ambas, mas só valeu uma - o juiz mandou repetir a cobrança por conta de invasão de gremistas na área. Era o suficiente: 2 a 1 no placar, e a certeza que o Imortal briga, sim, por uma vaga na Libertadores. Com 44 pontos, o time está a seis do Corinthians. O G-3, portanto, é ali.
Artilheiro do Brasileiro com 20 gols, Jonas já é também o maior goleador do Grêmio numa só edição da competição. E os planos dele são bem ambiciosos. Mas duvidar do Imortal, quem há de?
- Eu penso no primeiro colocado. Assim, a chance de Libertadores é muito grande. Temos que ver os confrontos que temos pela frente. A gente tem que sonhar alto, sim. Chegou o momento. O time está muito bem – afirmou o jogador.
Já Cuca deixou o campo garantindo que não queria reclamar, mas... cornetou, sim, o árbitro Paulo César de Oliveira.
- Não dá para ganhar o jogo se eles anulam mal um gol nosso e dão impedimento onde não tem. Fizeram um gol aos 49 minutos, depois de avisar que ia dar três minutos. Não quero reclamar, mas...
Mas a melhor partida da rodada aconteceu no Morumbi. Em um San-São, alucinado, o Tricolor venceu por 4 a 3 com direito a gol nos acréscimos e com um homem a menos - Richarlyson foi mais uma vez expulso ao dar um carrinho tresloucado em Zé Eduardo (assista aos gols no vídeo ao lado). Com apenas 20 minutos de jogo, o placar já registrava 3 a 2 para o São Paulo. Allan Patrick inaugurou o marcador aos três minutos, mas Dagoberto, aos seis e 16, virou. Pará, contra, fez o terceiro dos anfitriões, mas Zé Eduardo diminuiu um minuto depois.
Com um a mais a partir dos 13 da etapa final, o Peixe igualou aos 26. Neymar entrou na área e caiu após chegada de Alex Silva. Sem Dorival no banco, o menino-prodígio-problema do Santos bateu no ângulo de Ceni. Mais tarde, no Fantástico, o atacante disse, em entrevista gravada durante a semana, que se arrependia da confusão que provocou por ter sido preterido por Dorival Júnior a cobrar um pênalti e disse que, se encontrasse o ex-treinador, lhe daria um abração.
Mas ainda tinha jogo. Jean, que devia estar com a consciência pesada pelos dois gols perdidos, se redimiu. Aos 48, ele aproveitou rebote e fez o gol que deu mais que os três pontos ao time dirigido por Carpegiani. Com 44 pontos, e devido ao mais novo tropeço do Corinthians, o São Paulo manda seu recado: está vivo na briga pela Libertadores. Afinal, apenas três pontos o separam do G-3. Mas o herói do clássico pensa mais longe.
- Não estava acostumado a chegar ao ataque. Estava um pouco sem noção de como fazer gol. Mas Deus me premiou com esse gol. Essa vitória nos dá perspectiva de conseguir uma vaga na Libertadores. Quem sabe até pensar em título - disse Jean.
O Timão, aliás, segue seu calvário. Desta vez, porém, a Fiel vai poder voltar suas baterias para outro culpado pelo empate sem gols com o Guarani em Campinas: o juiz Salvio Spinola. O árbitro anulou dois gols de Ronaldo, que voltava a campo após dez partidas. Aliás, se a volta de Ronaldo aos gramados não foi de todo ruim, a saída não foi das melhores. Irritado pelos erros, mas principalmente pelo "sufocante assédio" dos repórteres, o Fenômeno não jogou bomba de fumaça, mas sumiu rapidamente.
- Calma aí, gente. Tem fio não (ao responder repórter que disse ter fios atrás do jogador), vocês ficam me encoxando. Falar o que dos gols anulados? A gente está ali para fazer (gols), a arbitragem hoje foi péssima. No meu modo de ver, foram dois gols mal anulados. Enfim. Está todo mundo sujeito (a erros). É isso, gente, esse cara chegou gritando no meu ouvido - disse abruptamente, usando toda sua velocidade e partindo para o vestiário (assista no vídeo acima).
Agora já são sete partidas sem vitória (quatro derrotas e três empates). Mas, se o Timão lamenta os tentos anulados de Ronaldo (no primeiro, a bola só entrou após bater no braço do craque, mas no segundo não houve qualquer irregularidade, com o árbitro marcando impedimento), a tabela emite sinais ambíguos para a equipe. A quatro pontos do líder Cruzeiro, o time está bem vivo na briga pelo título. Porém, vê várias equipes se aproximando e, portanto, precisa tomar cuidado para não perder seu posto no G-3 - e, consequentemente, a vaga na Libertadores. A batata-quente agora será de Tite, anunciado pelo presidente Andrés Sanchez ao fim da partida como substituto de Adilson Batista, demitido no fim de semana passado.
Flu e Bota empatam no Engenhão; Fla surpreende o Colorado no Rio
Outro empate reunindo um candidatíssimo ao título foi no clássico vovô. No Engenhão, Fluminense e Botafogo fizeram um jogo mais ou menos. O resultado foi um 0 a 0 ruim para os dois lados. O Flu, porém, segue vice-líder e, se perdeu a chance de retomar o primeiro lugar, pelo menos encurtou em um ponto a distância para o Cruzeiro - 54 a 53. A lamentar mesmo a falta de vocação ofensiva da equipe nas últimas rodadas: nenhum gol em três partidas. Nem a volta de Emerson, recuperado de uma lesão na coxa esquerda, foi o suficiente para reencontrar o caminho do gol. O atacante deixou o campo no segundo tempo com uma torção no tornozelo esquerdo, mas não preocupa. O Botafogo reclamou muito da arbitragem ao fim da partida, por conta de um lance em que Caio foi agarrado e o juiz errou ao dar vantagem. Mas os alvinegros têm de reclamar mesmo é com sua sina: empatar, empatar e empatar. Foi o oitavo empate seguindo do time que mais vezes saiu de campo sem festejar ou lamentar neste Brasileiro: 15 vezes.
Mas dos times que brigam diretamente pelo título, a maior decepção foi o Inter. Mas um olhar inverso também cabe: dos times que brigam para não cair, a maior surpresa foi o Flamengo. Mesmo desfalcado de peças importantes (Léo Moura, David, Willians e do renascido Val Baiano), o Rubro-Negro sapecou um 3 a 0 no Colorado praticamente completo. Deivid, duas vezes, e Renato em cobrança de falta (em que contou com franca colaboração do goleiro Renan) marcaram no Engenhão. O Fla segue invicto sob o comando de Vanderlei Luxemburgo e, com 37 pontos, respira na luta para não cair - está em 13º e, no momento, pegaria uma vaga na Sul-Americana. Já o Inter dá mostras de que está com a cabeça já no Mundial de Clubes, apesar de a tabela indicar que há vida no Brasileirão.
Dos times que sonham com a vaga na Libertadores, o Atlético-PR segue dizendo presente. Em casa, ganhou do Goiás por 2 a 1 e segue vivo, com 46 pontos em sexto, a quatro do Corinthians. Verdade que um dos gols do Furacão a bola não entrou, mas a equipe não tem culpa se juiz errou. Pior para o Goiás, que mais uma vez jogou bem e não ganhou - segue na zona de rebaixamento, em penúltimo, com 28 pontos. Decepção foi o Palmeiras, que empatou na Arena Barueri com o Ceará. Marcos Assunção mais uma vez marcou de falta, mas o time nordestino empatou em pênalti cobrado por Geraldo. O Verdão está em décimo, com 44, enquanto o Vozão mostra que não está disposto a entrar na briga contra o rebaixamento: 12º com 39.
Quem se deu bem na luta para se manter na elite foi o Atlético-GO. Superou o Vasco por 2 a 0, no Serra Dourada, e deixou a zona do rebaixamento. Com 32 pontos, a equipe agora está em 16º. Já o time carioca parece ter se despedido da briga pela Libertadores: tem 41 pontos em 11º. Quem também saiu do Z-4 foi o Atlético-MG, que bateu o Avaí por 2 a 0. Mas a alegria durou apenas pouco mais de duas horas: após vencer o Avaí por 2 a 0 em Sete Lagoas, o Galo voltou ao grupo dos quatro últimos após o triunfo do Vitória sobre o Prudente, por 2 a 0. Os mineiros estão em 17º com 31 pontos, enquanto o Avaí ingressou na zona de degola, 30 pontos e em 18º. Por fim, o Vitória alcançou os 34 pontos em 15º, enquanto o Prudente parece contar tempo para sua volta à Série B: é o lanterna com 21 pontos.
Seleção da rodada
Rogério Ceni (São Paulo), Rafael Cruz (Atlético-MG), Welinton (Flamengo), Márcio Rosário (Botafogo) e Diogo (São Paulo); Marcos Assunção (Palmeiras), Serginho (Atlético-MG), Montillo (Cruzeiro) e Douglas (Grêmio); Dagoberto (São Paulo) e Ricardo Oliveira (São Paulo). Técnico: Paulo César Carpegiani (São Paulo).