Desembargadores retratam paixão por Cuiabá
Os hábitos que fizeram parte da infância e juventude dos magistrados cuiabanos pouco a pouco foram desaparecendo e dando lugar ao asfalto, às construções modernas, ao grande volume de veículos e ao aumento vertiginoso da população. A antiga cidade de interior, isolada do centro político e comercial do Brasil, foi se transformando com o passar dos anos, e hoje, é ocupada por 585.367 pessoas que aqui residem.
A desembargadora Maria Helena Gargaglione Póvoas, 60 anos, faz uma metáfora para descrever a transformação que vivenciou em Cuiabá ao longo da vida: “Cuiabá é como uma jovem que todos os dias, ao tomar banho, vai se olhando no espelho e percebendo as diferenças. Ela vai percebendo que seu corpo está deixando o corpo de menina para assumir um corpo de mocinha e o corpo de mulher. Assim foi a minha Cuiabá, que cedeu lugar à cidade grande com todas as suas mazelas”.
O desembargador Orlando de Almeida Perri, 59 anos, afirma que viu a capital mato-grossense florescer e se desprender dos antigos costumes do estilo de vida cuiabano. “Cuiabá nunca foi uma cidade planejada; sempre foi uma cidade desordenada. Ela cresceu, se expandiu sem planejamento e ficou muito diferente. Antigamente as pessoas colocavam as cadeiras na porta para conversar, quando não tinha nem televisão. Hoje, por exemplo, estou morando em um condomínio há quatro anos e não conheço os meus vizinhos”, compara.
O desembargador Rubens de Oliveira Santos Filho destaca a movimentação nas rodovias em torno de Cuiabá, que tinham grande fluxo de saída em meses de festividades nas décadas de 1980 e 1990; hoje, esse movimento é o contrário: muitas pessoas vêm passar as festas de fim de ano na capital mato-grossense. “Isso é muito interessante. Era comum nos meses de dezembro e janeiro o intenso volume de veículos saindo de Cuiabá rumo ao Sul, pois as pessoas ainda mantinham um vínculo muito forte com aquela região. Hoje, gente do Brasil inteiro vem para cá”, observa o magistrado.
“A cidade mudou muito. Felizmente a hospitalidade e generosidade do nosso povo foram preservadas. Amo Cuiabá e me orgulho de ser filho desta terra. Minha família é essencialmente cuiabana, nos costumes e modo de viver esta cidade verde que nos oferece de tudo. Os que aqui chegaram adotaram esta terra não só porque comeram cabeça de Pacu, mas porque a cidade é mágica, mãe de todos”, afirma Rubens de Oliveira.
O presidente do TJMT, desembargador Rui Ramos, é exemplo de migrante que se encantou com a receptividade e carisma do povo cuiabano. Natural de Bauru (SP), o magistrado adotou Mato Grosso como sua morada em 1986, quando tomou posse como juiz, e passou a morar em Cuiabá no ano de 1993.
Rui Ramos conta que ouviu falar de Cuiabá no ano de 1972 ao folhear uma revista esportiva e notar o brasão do clube Dom Bosco. O distintivo do time de futebol lhe chamou atenção e já conquistou simpatia, adotando o clube como torcedor e despertando a curiosidade sobre a capital mato-grossense. No ano de 1983, o então advogado Rui Ramos esteve no Fórum de Cuiabá para verificar a situação de dois processos do escritório de seu pai, em Bauru, e sentiu que ali era onde deveria ficar. “A opção por Cuiabá era tanta que em 1986 desisti do exame oral do Ministério Público de São Paulo para optar pelo concurso da magistratura, sabendo que depois de passar pelas comarcas, retornaria a Cuiabá. Depois que vim para cá, nunca pensei em sair. O povo cuiabano é estupendo para acolher, mostrar sua cultura, seu modo de falar, de agir e de cativar”.