Programa estimula geração de renda em assentamentos rurais
Para o jovem Clayton Mateus de Campos, o cumbaru, além do fruto de uma grandiosa árvore, é também uma fonte de renda para a comunidade rural onde vive, em Poconé. O morador do Capão Verde desenvolveu juntamente com sua mãe o projeto ‘Aproveitamento Sustentável do Fruto do Cumbaru’, que incentiva a comercialização da castanha e fabricação de carvão, aliada à conservação do meio ambiente.
O projeto de Clayton foi um dos nove aprovados pelo Ministério do Meio Ambiente como parte do Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar (Peaaf). No total, foram mais de 80 trabalhos apresentados por moradores de seis assentamentos rurais do estado de Mato Grosso que participaram do curso de capacitação de agentes ambientais ministrado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT).
O Peaaf, desenvolvido pelo Governo Federal em parceria com órgãos estaduais de meio ambiente e demais organizações governamentais ou não governamentais, visa práticas sustentáveis e manejo dos territórios rurais. Por meio de ações educativas, presenciais e à distância, o programa apoia a elaboração e implementação de projetos ambientais para as comunidades.
Um dos objetivos do PEAAF é que, a criação de empregos e renda, por meio de projetos inovadores, incentive jovens a permanecerem nos assentamentos em que vivem. Para Clayton, de 20 anos, são de extrema importância as iniciativas dos governos Federal e Estadual para as futuras gerações. “O curso de agente ambiental foi excelente, nos ensinou não apenas a desenvolver projetos, mas também caminhos para buscar recursos para implementação. O conhecimento que adquirimos foi muito valioso”, destacou.
A mãe de Clayton, Andrelina Domingas de Oliveira, também autora do projeto, descreve em três palavras como é ver o empenho do filho em um trabalho que beneficiará toda a comunidade: “Alegria, orgulho e esperança” e emenda “é prazeroso ver tantos jovens interessados e ajudando na implementação deste projeto, na plantação destas mudas. Eles são o futuro da nossa comunidade”.
O cumbaru é fruto do baruzeiro, uma árvore nativa do cerrado brasileiro. A castanha encontrada em seu interior é de alto valor nutricional, uma grande fonte de proteína e muito apreciada por ser saborosa e saudável. Em Mato Grosso ela vem ampliando seu mercado e é cada vez mais comercializadas em feiras livres.
Clayton explica que a sua região, em Poconé, tem ainda um grande campo para a exploração do fruto, tanto para a comercialização da castanha como para a produção de carvão feito com a casca da amêndoa. “A elaboração de mudas do cumbaru beneficiará muitas pessoas diretamente e indiretamente, desde quem está na coleta até as pessoas que trabalham na agroindústria processando e comercializando. Também é muito importante para reflorestar a nossa comunidade, uma forma de valorizar o meio ambiente”.
Capacitação de agentes ambientais
O curso de capacitação foi desenvolvido pela Sema, com a intenção de formar multiplicadores ambientais, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação e prefeituras municipais. Foram certificados 84 agentes de assentamentos rurais de Tangará da Serra, Barra do Bugres, Nova Olímpia, Nossa Senhora do Livramento, Peixoto de Azevedo, Rosário Oeste e Poconé.
Os nove projetos desenvolvidos durante o curso e aprovados pelo Ministério do Meio Ambiente estão agora em fase de financiamento. Entre os temas escolhidos estão reflorestamento, recuperação de nascentes e hortas comunitárias. A servidora da Superintendência de Educação Ambiental da Sema, Maria Dulce de Oliveira, uma das organizadoras da qualificação, explica que o curso abordou não só a elaboração, mas também formas de buscar a fonte financiadora e dar continuidade ao projeto.
“Precisamos orientar essas pessoas para que a partir da pesquisa, do olhar para a comunidade elas possam desenvolver projetos de acordo com a necessidade delas e também buscar os mecanismos para financiar esses projetos. Não adianta fazer investimentos se não for a partir de uma vontade e necessidade da comunidade, ou o risco de ficar abandonado é muito alto”.
Visando buscar o melhor para os moradores, os projetos foram escolhidos por uma banca formada por servidores públicos estaduais e municipais com a participação de membros dos assentamentos. Os examinadores julgaram de acordo com o edital olhando a possibilidade de continuidade, envolvimento e fortalecimento da comunidade.
De acordo com Maria Dulce, o principal público beneficiário do programa são mulheres e jovens. “O público prioritário foi definido pelo pertencimento e permanência do território, que é um dos princípios de fortalecimento da agricultura familiar. A ideia é apoderar essas pessoas a olhar para sua comunidade e identificar os conflitos socioambientais”, disse.
O Peaaf é direcionado ao financiamento de projetos da agricultura familiar elaborados de acordo com os editais e outras formas de fomento lançados pelo programa. Os projetos devem conter ações de formação, capacitação, comunicação e mobilização social para a mediação de interesses e conflitos socioambientais e também estímulo ao exercício da cidadania ambiental e à garantia do direito ao meio ambiente saudável.
A superintendente de Educação Ambiental da Sema, Vânia Montalvão, avalia o programa como um avanço nas políticas públicas ambientais. “Os representantes dos assentamentos, principalmente jovens e mulheres, enxergam que é possível continuar a viver na terra com qualidade por meio de planejamento de ações que envolva a participação da comunidade. O edital do programa é muito vantajoso porque possibilita a formação de projetos e colabora para que ele seja colocado em pratica”.
Após o curso de agentes ambientais, coordenado pela Sema, com 216 horas presenciais e a distância, o Peeaf está na fase de implementação dos nove projetos desenvolvidos no curso e aprovados. A próxima fase será o intercâmbio, em que estes trabalhos trocam experiências e amostra do que foi realizado em cada assentamento.
Caderno de receitas
Um dos temas trabalhado, soberania e segurança alimentar, resultou em um livro de receitas com objetivo de recuperar o saber tradicional da comunidade, de como as pessoas interagem e se reconhecem naquelas receitas.
Do bolo de arroz ao pão de banana. Do pudim de abóbora à geleia de jabuticaba. Da banana chips ao bolinho frito de mandioca. Da moqueca de peixe ao pacu recheado.
O livro “Nosso Saber conta a Nossa História” tem como autores agentes populares de educação ambiental na agricultura familiar e traz receitas diversas de doces, lanches e pratos. Traz também um espaço reservado para explicações sobre formas de preparar alimentos e como fazer sabão econômico com variados ingredientes.