Desde o início de 2015, país perdeu mais de 2 milhões de vagas formais. Recuperação deve começar em 2017, mas será lenta, segundo projeções.
Brasil só deve recuperar estoque de empregos perdidos a partir de 2021
O G1 publica, esta semana, reportagens especiais sobre o desemprego, que atinge níveis recordes no país. Na quarta-feira, contamos como e por que o desemprego cresce no Brasil. Na quinta, contamos histórias de quem procura trabalho, e revisitamos trabalhadores que já foram personagens de histórias do G1. E nesta sexta, mostramos o que pode acontecer, e damos dicas para quem procura um emprego)
Projeções das consultorias Tendências e GO Associados, com base nas estimativas do mercado para o PIB (Produto Interno Bruto), apontam que só a partir de 2021 o Brasil deverá recuperar o nível de estoque de empregos formais do final de 2014, quando o país vivia uma situação considerada de quase pleno emprego.
Desde janeiro de 2015, o Brasil perdeu 2,07 milhões de vagas com carteira assinada, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
O país terminou o mês de junho com um estoque de 39,1 milhões de empregos formais ante 41,2 milhões no final de 2014. O recorde da série foi registrado em setembro daquele ano, nas vésperas das eleições presidenciais, quando o total de trabalhadores celetistas chegou a 41,8 milhões.
Já são 15 meses seguidos de demissões superando as contratações. No ano passado, o Brasil perdeu 1,54 milhão de empregos formais. Em 2016, no acumulado no ano, até junho, foram eliminados outros 531,7 mil postos de trabalho no regime celetista.
Perda de 1,3 milhão de vagas em 2016
O economista Luiz Castelli, da GO Associado, projeta que o número de vagas perdidas ao longo de 2016 chegará a 1,36 milhão, totalizando cerca de 2,9 milhões de empregos formais eliminados no país em 2 anos.
"O país ainda está destruindo empregos. A partir de 2017, paulatinamente, o Brasil deve voltar a apresentar criação líquida positiva de empregos, conforme o PIB do país volte a crescer. Mas o caminho será bastante lento e duro”, afirma.
Pelas contas do economista, entre 2017 até o final de 2020, deverão ser criadas 2,79 milhões de vagas formais, se confirmadas as projeções de alta do PIB de 1% em 2017, 2% em 2018, 2% em 2019 e 2,10% em 2020. Ou seja, o número de vagas criadas nos próximos 4 anos ainda deverá ser insuficiente para recuperar os 2,9 milhões de empregos perdidos no ano passado e neste ano.
“Apenas no primeiro trimestre de 2021 definitivamente o Brasil deve ultrapassar o estoque de empregos formais apresentado em dezembro de 2014”, diz Castelli, ressalvando que quanto maior for a recuperação da economia, mais rápido será a melhora do mercado de trabalho.
Procurado pelo G1, o Ministério do Trabalho não quis fazer análise de cenários, informando que apenas elabora e divulga estatísticas relativas ao emprego formal.
Taxa de desemprego de 13% em 2017
O economista Rafael Bacciotti, da Tendências, avalia que as demissões devem perder força nos próximos meses e que o país voltará a criar vagas a partir de 2017, mas também projeta que só em 2021 será retomado o patamar de estoque de empregos formais pré-crise.
“Ainda que os números de ocupação parem de cair, tem o efeito do aumento da força de trabalho", destaca o analista.
Ou seja, há mais gente disputando hoje um número menor de vagas disponíveis, tanto pelo aumento do desemprego quanto pelo ingresso de novos trabalhadores no mercado de trabalho.
A taxa de desemprego ficou em 11,3% no trimestre encerrado em junho e a população desocupada bateu 11,6 milhões, o maior número da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Tendências projeta que a taxa ainda vai crescer mais e baterá os 13% em 2017. Veja gráfico ao lado
"Para o país voltar a contratar, antes é preciso observar uma volta da confiança e da demanda, que ainda está muito fraca", afirma Bacciotti.
Embora o nível de emprego esteja diretamente relacionado com o ritmo da atividade econômica, os índices de ocupação e de desemprego costumam ter uma recuperação mais lenta.
"Num cenário de contração, antes de voltar a contratar, as empresas tendem a usar ao máximo os trabalhadores que já tem, aumentanto o número de horas extras, até sentir que a demanda já é forte o suficiente para valer a pena contratar. Por isso tem esse delay", explica Castelli, da GO Associados.
Retomada
As apostas do mercado são de que a indústria deverá sair na frente na recuperação do estoque de empregos formais, uma vez que também foi o primeiro setor a sentir os sintomas da crise e vem registrando uma melhora nos indicadores de atividade. Em junho, a produção da indústria brasileira cresceu 1,1% em junho, na comparação com o mês anterior.
Segundo os números do Ministério do Trabalho, a indústria foi o setor que mais perdeu vagas no país: foram 752 mil postos eliminados desde o início de 2015. Na sequência, está a construção civil (perda de 531 mil vagas), o comércio (- 467 mil) e o setor de serviços (-393 mil).
Levantamento publicado no G1 no dia 20 de julho mostrou que o só Brasil só tem criado vagas formais de até 1 salário mínimo. De janeiro a maio, a única faixa salarial a apresentar saldo positivo de postos de trabalho foi a de meio a 1 salário mínimo, com a geração de 96,5 mil vagas em 5 meses.
Salários em queda e poucas alternativas
Em uma economia em recessão, é inevitável que informalidade cresça. A chamada economia subterrânea aumentou pela primeira vez em pelo menos 11 anos, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e do Ibre/FGV, passando a representar 16,2% do PIB, um crescimento de 0,1 ponto percentual em relação ao ano anterior.
Os números do IBGE apontam, entretanto, que o emprego sem carteira assinada deixou de ser a válvula de escape para quem fica desempregado. O número de trabalhadores informais passou para 10,083 milhões em junho ante 10,067 milhões 1 ano antes.
Até mesmo o trabalho por conta própria dá sinais de saturação. São quase 23 milhões de brasileiros com esse tipo de ocupação, que reúne os autônomos, os chamados PJs (pessoas jurídicas), microempreendedores individuais (MEIs) e todos aqueles que não pagam salário para funcionário.
Nos 12 meses encerrados em maio, cresceu 3,9% o número de brasileiros se virando por conta própria, um acréscimo de 857 mil pessoas. Na comparação com o trimestre anterior, entretanto, o número caiu 1,1%, com uma saída de 263 mil trabalhadores. Veja abaixo reportagem do Jornal Nacional
“A pior consequência da queda do emprego formal é a perda de qualidade da ocupação e todas as implicações sociais dessa queda da taxa de formalização”, afirma Bacciotti.
Segundo o IBGE, o rendimento médio do trabalhador caiu 4,2% no trimestre encerrado em junho, na comparação com o mesmo período de 2015. Já a massa salarial recuou 4,9%. Ou seja, menos oferta de emprego, maior concorrência e queda real dos salários.
"Teremos que remar muito para recuperar o que se perdeu. Primeiro é preciso parar de destruir empregos e voltar a criar vagas em um nível que acompanhe a taxa de crescimento da força de trabalho, só então é que o desemprego poderá começar a se estabilizar", conclui Castelli.