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Socioeducativo classifica 7 adolescentes nas olimpíadas de matematica
Cerca de 15% dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa no Complexo Pomeri, em Cuiabá, foram aprovados para a etapa final da 11ª Olimpíada Brasileira de Ciências da Matemática das Escolas Públicas, média superior a de colégios de renome no país. A prova está marcada para o dia 12 de setembro e os melhores colocados receberão bolsas de estudo e de iniciação científica.
Esta foi a primeira vez que jovens do Centro de Atendimento Socioeducativo da Capital participaram da competição. Logo na estreia, sete dos 47 internos foram aprovados para a fase final do concurso. Para Anísio José Guimarães, diretor da Escola Estadual Meninos do Futuro, que funciona na unidade, a classificação dos garotos não chegou a ser uma surpresa devido ao nível de dedicação que eles apresentam nas aulas. Contudo, não esperava que na primeira participação a unidade tivesse um número tão expressivo de classificados.
K.C.S, 15 anos, é o mais jovem entre os sete classificados. Internado há 10 meses por tentativa de latrocínio, ele encontrou nos estudos a possibilidade de mudar de rumo. Agora, sonha em cursar a faculdade de direito após concluir o ensino médio. “Antes me faltou oportunidade e acabei indo para um caminho que não deveria. Eu já havia me metido em algumas confusões antes, até que na ultima delas acabei vindo parar aqui. Mas ainda bem que foi agora que sou ‘de menor’ e ainda dá tempo para mudar. Se fosse no presídio eu não sei se aguentava. Tenho que arcar com o que fiz. Agora é seguir em frente e melhorar.”
No dia da prova, relembra, havia recebido visita dos pais e por conta disso se esforçou para resolver as questões e entregar o gabarito em apenas 10 minutos. Para ele, independente do resultado da fase final a Olimpíada já valeu a pena, pois conseguiu encher sua mãe de orgulho. “Dar uma esperança para a minha família já é uma medalha de ouro. Perder não importa mais agora, pois na vida também perdemos, tem que aprender e continuar”.
O diretor da escola conta que incentivou os garotos a participar da prova instigando neles a vontade de vencer na vida. “Muitas vezes recebemos alunos com muitas dificuldades, mas quando nós perguntamos se eles queriam participar eles mesmos retrucaram dizendo: por que não? Nós podemos”. Conforme Anísio, 23 professores revezam entre turmas de sete a oito garotos e a Olimpíada prova que esse trabalho tem que continuar e que a educação é a melhor alternativa reeducar, ressocializar e reinserir os meninos na sociedade de maneira responsável.
“A escola é um dos melhores momentos para eles, mas não teríamos como fazer o trabalho que fazemos sem o apoio da Sejudh [Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos], que até mesmo cede alguns professores para nos ajudar”. Dos sete alunos aprovados, três já foram reintegrados às famílias por bom comportamento. Todos serão comunicados para participar da segunda etapa.
Entre o grupo de aprovados da Escola Estadual Meninos do Futuro está R.C.S, 16 anos, que nem acreditou quando ficou sabendo da classificação. Teve que pedir à mãe que procurasse na internet para que ambos se convencessem do resultado. Há um ano na unidade, ele conta que sempre gostou de matemática, ao contrário de esporte. Tímido, tem vergonha de expor o seu passado de delitos e garante que quer continuar estudando matemática após deixar o complexo, pensando em um futuro como professor ou pesquisador.
Já o colega L.G.A.F., também de 16 anos, tem na família um motivo a mais para gostar de números: o pai é matemático. Apreendido há cinco meses após roubo a uma residência no interior de Mato Grosso, ele relatou que a vontade de adrenalina e dinheiro o motivaram a cometer o ato, mas nada foi tão doloroso quanto à decepção da família. Por conta disso, vê na Olimpíada uma possibilidade de voltar a orgulhar seus familiares. “Não havia feito boas escolhas, porém agora vai ser diferente”.
G.R.P.S. é o único reincidente do quarteto de jovens classificados na competição. Ele já havia passado um ano na unidade por conta de um homicídio, porém após ser reintegrado voltou a entrar em conflito com a lei. Foi apreendido tentando assaltar uma lotérica, em Tangará da Serra. Aos 16 anos, voltou para o Complexo Pomeri.
“Eu estava tentando juntar dinheiro rápido para vir para Cuiabá, arranjar uma casa e morar com a minha namorada, já que o pai dela desaprovava o namoro por eu já ter cumprido pena. Porém, fiz a pior escolha e acabei provando que ele estava certo. Se eu tivesse apenas trabalhado durante todo este tempo que estou aqui já teria conseguido o que eu queria e também teria convencido meu sogro”.
Diferente dos colegas, ele confessa que nem gosta tanto de matemática, mas como pensa em fazer alguma engenharia quer se esforçar para apreender tudo o que for possível. O namoro continua, mas ela não é a única pessoa da qual sente saudade. “Tenho um sobrinho de um ano e alguns meses que quase não vi. Mas, agora vou dar a volta por cima”.
O exemplo
Aos 37 anos, Erli da Silva tem a missão de preparar os internos para a fase final da Olimpíada de matemática. A professora aposta em aulas dinâmicas e utiliza os elementos do dia a dia para fazer com que os adolescentes se apaixonem pela matemática. “Eles são muito aplicados, tudo o que passamos eles querem fazer e aprender mais. Às vezes pedem material para estudar fora do horário”.
Erli vem de uma família com pouca estrutura e conta que trabalha desde os seis anos para ajudar a mãe e os seis irmãos. Foi quando um deles acabou preso que o desejo de dar aulas despertou dentro dela. “Eu visitava ele no presídio e via que precisava fazer alguma coisa para mudar essa realidade. Ele mesmo dizia que eu deveria dar aulas lá.”
Como casou cedo ela demorou a começar uma faculdade, mas por meio de um programa de bolsas do Governo Federal conseguiu concluir os estudos. “Eu dei aula em outras escolas, mas o meu desejo sempre foi vir para cá. Eu entendo a história deles e acredito que somente com conhecimento o futuro poderá ser diferente.”
Há dois anos Erli é uma das professoras e incentivadoras dos garotos, que para ela podem ter um futuro promissor desde que recebam as devidas oportunidades. “Eu primeiro falo de Deus e do futuro, depois dou a aula. Mas quero que eles sempre saibam o motivo de acordarem a cada dia. Eles têm que acordar para serem diferentes, para serem melhores”.
Sobre a Olimpíada
Ao todo, 6,5 mil alunos de todo o Brasil serão premiados na OBMEP 2015 com medalhas de ouro, prata ou bronze. Os vencedores também terão a oportunidade de participar do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC-OBMEP), que também dará direito a uma bolsa de Iniciação Científica Jr. pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Saiba mais em www.obmep.org.br .
Esta foi a primeira vez que jovens do Centro de Atendimento Socioeducativo da Capital participaram da competição. Logo na estreia, sete dos 47 internos foram aprovados para a fase final do concurso. Para Anísio José Guimarães, diretor da Escola Estadual Meninos do Futuro, que funciona na unidade, a classificação dos garotos não chegou a ser uma surpresa devido ao nível de dedicação que eles apresentam nas aulas. Contudo, não esperava que na primeira participação a unidade tivesse um número tão expressivo de classificados.
K.C.S, 15 anos, é o mais jovem entre os sete classificados. Internado há 10 meses por tentativa de latrocínio, ele encontrou nos estudos a possibilidade de mudar de rumo. Agora, sonha em cursar a faculdade de direito após concluir o ensino médio. “Antes me faltou oportunidade e acabei indo para um caminho que não deveria. Eu já havia me metido em algumas confusões antes, até que na ultima delas acabei vindo parar aqui. Mas ainda bem que foi agora que sou ‘de menor’ e ainda dá tempo para mudar. Se fosse no presídio eu não sei se aguentava. Tenho que arcar com o que fiz. Agora é seguir em frente e melhorar.”
No dia da prova, relembra, havia recebido visita dos pais e por conta disso se esforçou para resolver as questões e entregar o gabarito em apenas 10 minutos. Para ele, independente do resultado da fase final a Olimpíada já valeu a pena, pois conseguiu encher sua mãe de orgulho. “Dar uma esperança para a minha família já é uma medalha de ouro. Perder não importa mais agora, pois na vida também perdemos, tem que aprender e continuar”.
O diretor da escola conta que incentivou os garotos a participar da prova instigando neles a vontade de vencer na vida. “Muitas vezes recebemos alunos com muitas dificuldades, mas quando nós perguntamos se eles queriam participar eles mesmos retrucaram dizendo: por que não? Nós podemos”. Conforme Anísio, 23 professores revezam entre turmas de sete a oito garotos e a Olimpíada prova que esse trabalho tem que continuar e que a educação é a melhor alternativa reeducar, ressocializar e reinserir os meninos na sociedade de maneira responsável.
“A escola é um dos melhores momentos para eles, mas não teríamos como fazer o trabalho que fazemos sem o apoio da Sejudh [Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos], que até mesmo cede alguns professores para nos ajudar”. Dos sete alunos aprovados, três já foram reintegrados às famílias por bom comportamento. Todos serão comunicados para participar da segunda etapa.
Entre o grupo de aprovados da Escola Estadual Meninos do Futuro está R.C.S, 16 anos, que nem acreditou quando ficou sabendo da classificação. Teve que pedir à mãe que procurasse na internet para que ambos se convencessem do resultado. Há um ano na unidade, ele conta que sempre gostou de matemática, ao contrário de esporte. Tímido, tem vergonha de expor o seu passado de delitos e garante que quer continuar estudando matemática após deixar o complexo, pensando em um futuro como professor ou pesquisador.
Já o colega L.G.A.F., também de 16 anos, tem na família um motivo a mais para gostar de números: o pai é matemático. Apreendido há cinco meses após roubo a uma residência no interior de Mato Grosso, ele relatou que a vontade de adrenalina e dinheiro o motivaram a cometer o ato, mas nada foi tão doloroso quanto à decepção da família. Por conta disso, vê na Olimpíada uma possibilidade de voltar a orgulhar seus familiares. “Não havia feito boas escolhas, porém agora vai ser diferente”.
G.R.P.S. é o único reincidente do quarteto de jovens classificados na competição. Ele já havia passado um ano na unidade por conta de um homicídio, porém após ser reintegrado voltou a entrar em conflito com a lei. Foi apreendido tentando assaltar uma lotérica, em Tangará da Serra. Aos 16 anos, voltou para o Complexo Pomeri.
“Eu estava tentando juntar dinheiro rápido para vir para Cuiabá, arranjar uma casa e morar com a minha namorada, já que o pai dela desaprovava o namoro por eu já ter cumprido pena. Porém, fiz a pior escolha e acabei provando que ele estava certo. Se eu tivesse apenas trabalhado durante todo este tempo que estou aqui já teria conseguido o que eu queria e também teria convencido meu sogro”.
Diferente dos colegas, ele confessa que nem gosta tanto de matemática, mas como pensa em fazer alguma engenharia quer se esforçar para apreender tudo o que for possível. O namoro continua, mas ela não é a única pessoa da qual sente saudade. “Tenho um sobrinho de um ano e alguns meses que quase não vi. Mas, agora vou dar a volta por cima”.
O exemplo
Aos 37 anos, Erli da Silva tem a missão de preparar os internos para a fase final da Olimpíada de matemática. A professora aposta em aulas dinâmicas e utiliza os elementos do dia a dia para fazer com que os adolescentes se apaixonem pela matemática. “Eles são muito aplicados, tudo o que passamos eles querem fazer e aprender mais. Às vezes pedem material para estudar fora do horário”.
Erli vem de uma família com pouca estrutura e conta que trabalha desde os seis anos para ajudar a mãe e os seis irmãos. Foi quando um deles acabou preso que o desejo de dar aulas despertou dentro dela. “Eu visitava ele no presídio e via que precisava fazer alguma coisa para mudar essa realidade. Ele mesmo dizia que eu deveria dar aulas lá.”
Como casou cedo ela demorou a começar uma faculdade, mas por meio de um programa de bolsas do Governo Federal conseguiu concluir os estudos. “Eu dei aula em outras escolas, mas o meu desejo sempre foi vir para cá. Eu entendo a história deles e acredito que somente com conhecimento o futuro poderá ser diferente.”
Há dois anos Erli é uma das professoras e incentivadoras dos garotos, que para ela podem ter um futuro promissor desde que recebam as devidas oportunidades. “Eu primeiro falo de Deus e do futuro, depois dou a aula. Mas quero que eles sempre saibam o motivo de acordarem a cada dia. Eles têm que acordar para serem diferentes, para serem melhores”.
Sobre a Olimpíada
Ao todo, 6,5 mil alunos de todo o Brasil serão premiados na OBMEP 2015 com medalhas de ouro, prata ou bronze. Os vencedores também terão a oportunidade de participar do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC-OBMEP), que também dará direito a uma bolsa de Iniciação Científica Jr. pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Saiba mais em www.obmep.org.br .
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