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HABITAÇÃO
Sábado - 23 de Julho de 2016 às 06:37
Por: Do R7, em Brasília

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Foto: Divulgação
A inflação acima do teto da meta, o desemprego em alta e a taxa de juros no maior patamar desde 2006 resultaram na fuga dos brasileiros da tradicional caderneta poupança — ainda a forma mais comum de economizar dinheiro no Brasil.No primeiro semestre deste ano, os saques superaram os depósitos em R$ 42,6 bilhões, no maior volume de retiradas dos últimos 21 anos.

A movimentação acertou em cheio o mercado de financiamento imobiliário, que recebe a maior parcela dos ativos aplicados na poupança e já dificulta a concessão de crédito para quem deseja realizar o sonho da casa própria.Conforme estabelecido pela Resolução 3.932, do BC (Banco Central), 65% de todo recurso depositado na caderneta deve ser destinado para esse fim.

Desse total, no mínimo, 80% devem ser enviados exclusivamente para operações do sistema SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que financia imóvel de até R$ 750 mil pelo País. Os 20% restantes tem condições de ser destinado para a concessão de crédito a imóveis de valores acima de R$ 750 mil.

Questionados sobre o impacto das consecutivas fugas recordes de recursos da poupança, especialistas ouvidos pelo R7 são unânimes ao dizer que o fenômeno já afeta o mercado de concessão de crédito imobiliário. O diretor-executivo da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Luiz Fernando Moura, classifica as retiradas da caderneta como “nocivas” para o mercado de imóveis.

— A análise de crédito ficou mais rigorosa e surgiram critérios que criam uma seletividade maior. Quando o recurso é mais abundante, esses critérios são um pouco mais flexíveis e acabam favorecendo os tomadores desses financiamentos.

A afirmação dos especialistas já é comprovada pelos dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). O último relatório da entidade, datado do mês de maio, mostra que o montante de financiamentos nos primeiros cinco meses deste ano foram 52,9% menor que o verificado no mesmo período de 2015.

Para Luiz França, presidente da França Participações, consultoria especializada no ramo imobiliário, os saques da poupança interrompem o funcionamento da engrenagem do mercado de financiamento. Ele avalia que a escassez da oferta de crédito é danosa principalmente para os empreendimentos em fase de construção, que aguardam por compradores.

— É fundamental ter crédito para que as pessoas físicas tenham a capacidade de financiar, as incorporadoras recebam esse dinheiro e paguem para os bancos. É muito importante que a gente tenha dinheiro para esse ciclo.Viver de aluguel é mais vantajoso do que comprar a tão sonhada casa própria.

A utilização de recursos da caderneta no mercado imobiliário não significa que o recurso estará indisponível na hora que o poupador optar por sacá-lo no banco.

Fuga de recursos

Com a situação econômica desfavorável, os brasileiros que buscam por um investimento satisfatório não encontram motivações para manter suas economias na caderneta, que tem rendimento de R$ 6,17% ao ano + TR (Taxa Referencial).

De acordo com o professor da Faculdade de Economia da USP (Universidade de São Paulo) Keyler Rocha, quem olha para o resultado financeiro já migrou para outro fundo e a parcela da população com dificuldades sacou o que tinha aplicado para liquidar suas dívidas. Evidentemente, a poupança cai porque o rendimento dela está muito abaixo da inflação. Hoje, os títulos do Tesouro rendem 14,25% [ao ano] e alguns pagam ainda mais.

França defende que são necessários três estímulos para o mercado de mercado de crédito imobiliário crescer: taxas de juros compatíveis, baixo nível de desemprego e um bom marco regulatório.— No Brasil, nós tivemos esses critérios muito bem estabelecido em 2006. Hoje, o nível de desemprego aumentou, os juros subiram muito, mas continuamos com um marco regulatório ainda bom.

Ainda que a economia se recupere ao longo dos próximos meses, a avaliação do professor de finanças da Fipecafi George André Willrich Sales é de que a poupança seguirá como um “péssimo investimento” em um mercado de juros elevados. Ele explica que com o alto número de poupadores com valores elevados na caderneta a tendência é de que novos saques sejam realizados.

— Existe ainda, aproximadamente, R$ 638 bilhões depositados em poupança. Desse dinheiro, cerca de R$ 330 bilhões são de depositantes com mais de R$ 50 mil, que têm condições de investir em outros ativos de maior rentabilidade.

 





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