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Quinta - 21 de Agosto de 2014 às 06:47
Por: Alexandre Garcia

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Em qualquer país do mundo, a morte de um candidato à presidência da república cobra rigorosa investigação. As dúvidas não podem ficar no ar onde estava o avião. Se a caixa-preta não tem gravação, vai ser preciso explicar se o candidato costumava pedir para desligar, para que não registrasse as conversas na cabina. Se o avião era de excelência, tinha combustível e os pilotos bem-preparados, vai ser preciso explicar se foi algum erro humano, como recolher o flap (aberto para o pouso) acima de 200 nós, o que faz aquele avião mergulhar repentinamente. A baixa altura, não se recupera. Enfim, é preciso esclarecer.

Em poucos países do mundo se desfruta de um enterro como no Brasil. Enterros monumentais assim também foram os de Carmem Miranda, Getúlio,  Tancredo, Airton Senna, Mário Covas, Luís Eduardo Magalhães ou na expectativa do nosso Ulysses que não voltou do mar. Agora o que se viu foi de novo um longo réquiem, 24 horas por dia, em todos os meios de informação. Detalhes íntimos do sofrimento das famílias, entrevistas com os coveiros, reportagens sobre o cemitério, notícias macabras sobre o tamanho dos restos dos mortos. Adversários e até inimigos se apresentam como admiradores eternos; penetras que só quiseram aparecer em véspera de eleições, hipocrisia mais epidêmica que o ebola. Veneramos os heróis mortos, desprezamos os heróis vivos. E ficamos à mercê dos mais vivos - para usar uma idéia do Barão de Itararé. Por exemplo, agora desprezamos a chance de carregar em carro de bombeiro o nosso campeão mundial em Matemática, o premiado Artur Ávila Cordeiro de Melo, sob papel picado das avenidas Rio Branco e Paulista.

A composição do brasileiro típico, como é popularmente considerada, junta o banzo africano, o luto português e a melancolia indígena - e o resultado é que a gente adora uma tragédia e até a festeja com música, como foi agora, repetindo os enterros de Tancredo e Airton. E a política se integra a isso. O PSB chama a viúva de sua maior líder e tenta levá-la para a chapa com Marina. Uma solução familiar, como na Idade Média. Marina já está mais no noticiário que todos os candidatos juntos aparecerão no horário eleitoral. Política feita com emoções, que sempre atrapalhou soluções racionais. Os resultados são Jânio, Collor, Lula. Agora aparece Marina.

A frase da última entrevista de Eduardo já é repetida com eufórica exaustão: “Não vamos desistir do Brasil”. É uma frase para combater desespero, para sacudir os que não aguentam mais e já estão a ponto de desistir. Uma frase pronunciada por um candidato, em momento de grande audiência, certamente pensando no que iria encontrar em 2015 se fosse eleito. No ano que vem, nos espera um país precisando de UTI que evite mais tragédia.

Alexandre Garcia é Jornalista em Brasília 



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