Reflexão necessária
O cenário político-partidário e eleitoral está sempre em construção. Construção que não chegará a ser toda realizada. Mesmo quando se têm todas as candidaturas postas, ou os eleitos tomados posses, ainda assim faltará uma peça ou outra. Falta que levanta dúvidas, gera questionamentos e pode ou não provocar fissuras entre poderes, ou até entre os grupos políticos. O que gera dissidências, e, a partir destes, a formação de um novo agrupamento, que se coloca como "diferente". Mas, de fato, é idêntico aos já existentes. Inclusive, no discurso. Embora se valha de duas ou três palavrinhas não usadas anteriormente. Isto, porém, não o torna realmente "novo", pois em nada se distingui dos demais agentes políticos. Mudam-se, na verdade, os rostos das fotografias nos plenários dos Legislativos e nos salões centrais das administrações públicas. Mudanças que, na realidade, são substituições, trocas. E as substituições ou as trocas nada têm a ver com mudanças, até porque o comportamento é o mesmo de antes.
Descoberta que não precisa ser um Sherlock Holmes, saído da ficção e da literatura britânica, criada pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Dovle. Bastam ficar atento para as peripécias de o governo Michel Temer (sempre na corda bamba), as barbeiragens do governador Pedro Taques, as incertezas da gestão Emanuel Pinheiro. Somadas às derrapadas da Câmara cuiabana, a ausência de traquejo da Assembleia Legislativa mato-grossense e a inescrupulosidade de muitos dos integrantes do Congresso Nacional. Derrapadas, ausências e faltas que deixam bem mais insatisfeitas a população. Uma população que, em sua grande maioria, já vivia, e continua a vir distante dos negócios públicos, das questões políticas e das discussões a respeito do Estado. Distanciamento que tem o porquê, ou os porquês, mas de maneira nenhuma se justificam, uma vez que esse distanciamento permite que os mesmos grupos de agentes políticos se mantêm no poder de mando. Grupos que tem seus nomes trocados, mas das iguais pessoas de antes, com uma ou outra cara diferente.
Mas o ser diferente, aqui, não implica em transformação, em revolução e em mudança expressiva, pois o coletivo, a comunidade política (o Estado é a maior das comunidades políticas e a família é a menor delas) jamais é levada em consideração. Levam-se em conta tão somente o interesse particular, o interesse individual e suas próprias ambições políticas. Ambições e interesses que se entrelaçam de tal maneira que transformam o Legislativo em um enorme balcão de negócios, nos quais se vendem e compram-se de tudo, até mesmo o voto e a aprovação de determinadas leis e projetos. Leis e projetos que, de acordo com as delações do Josley Batista, Silval Barbosa e dos executivos da Odebrecht, foram encomendadas por empresários e empresas. Estes e estas, evidentemente, beneficiam quem as encomendaram. Deixando, assim, chupando o dedo a imensa maioria da população. Maioria que depende sobremaneira da assistência e da ajuda do Estado.
Um Estado arcaico e carcomido, pois é sustentado por um tripé de colunas: corporativismo, cartorialismo e patrimonialismo. Por conta disso, infelizmente, o país e a sociedade brasileira se veem afastadas do chamado desenvolvimento. Um desenvolvimento que se distância também porque os chamados representantes do povo continuam enfurnados em seus erros. Mal sabem eles que o estarem na oposição não é o mesmo que o serem do contra, e os situacionistas não devem falar Amem a tudo que vem do governo. É isto.
Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.