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Domingo - 05 de Novembro de 2017 às 12:42

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Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos
Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos

O jogo político-eleitoral ainda não começou. Nem se encontra tão perto do seu início. Tampouco os atores das disputas já estão postos. Mas o bolão de apostas há muito foi aberto. Fichas são atiradas, enquanto o mestre de cerimônia desliza-se mansamente pelo tablado. Tablado? Ou será arena? Na verdade, pouco importa se será tablado ou arena. Este último traz a lembrança os tempos dos digladiadores romanos, ao espaço das touradas e, por fim, aos antigos estádios de futebol; ao passo que o primeiro refere-se diretamente a jogos de dama, gamão e de xadrez. Ambos podem sim significar um palco, ainda que em um as peças ou pedras sejam movimentadas e no outro, pessoas se movem taticamente ou atabalhoadamente. Sempre, claro, sob os olhares de um público (ou não necessariamente).

Na disputa eleitoral, como no juízo, qualquer pessoa que representa se encontra na presença de outros, sendo que cada um destes agem e pensa de acordo com a sua própria visão particular. E, juntos, eles são os espectadores, cuja aprovação e desaprovação dependem os atores, ou seja, os candidatos. Aprovação ou desaprovação baseia-se na opinião, no julgamento. Não uniforme. Mas, sem dúvida, uma manifestação democrática. Ainda que provocada pela persuasão. Esta se distingue do convencimento, embora em muitos momentos tende-se a serem misturadas como se elas tivessem o mesmo sentido, ou significado. Não são sinônimas. Aliás, as palavras iniciais de Aristóteles, em a Retórica, demove qualquer dúvida neste sentido. Deveria, porém são pouquíssimos os que se atreveram e se atrevem a ler aquele livro. E, mesmo entre esses pouquíssimos, um número menor ainda deles entendeu verdadeiramente o que escreveu o filósofo.

Assim, infelizmente, o dito pelo filósofo se perde pelas ondas do senso comum. Igual onda em que surfam os agentes políticos. Estes se preocupam em dizer o que as pessoas querem ouvir, buscam atrair o eleitorado pela emoção, e nunca pela razão. Por isto, evidentemente, que os debates político-eleitorais se resumem em ataques pessoais, em tentativas de desqualificação da pessoa do adversário. Nunca em discussão de ideias, de projetos e de programas. O que empobrece, e muito, o jogo político-eleitoral. Empobrecimento que não desaparece por conta do surgimento de uma cara nova, ou de um rosto jovem. Isto porque o comportamento dos que se dizem "não político" é o mesmo dos que são taxados por estes como "políticos tradicionais", pertencentes à chamada "velha política". Aqui, os supostamente "velhos" são iguais aos que se autoproclamam "novos", e por aí vai o jogo político, cujo discurso é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras, onde as palavras são postas, alinhadas e conectadas umas com as outras, sem que elas, de fato, tratem de fatos, da realidade. E, neste meio de campo cheio de truques do marketing e entre um trapézio e outro com as palavras, o grosso do eleitorado, já combalido pelas crises política, econômica e moral, tende a acompanhar aquele de fala agressiva ao "status quo", a situação vivida, sem, contudo, apresentar-se projeto algum que venha impactar, frear o crescimento da inflação e mudar os rumos atuais. E, mesmo assim, o dito cujo cresce nas pesquisas de intenção de votos. E o faz, estranhamente, sem nada dizer de substancioso. O mesmo se dá com alguém que tenta passar pelo que não é, e nunca foi, embora tenha alcançado certa popularidade no país, e se vale dela, somada ao papel de vítima de uma perseguição, para se colocar bem no centro da arena político-eleitoral. Neste particular, Bolsonaro e Lula da Silva se igualam, e que deverão ser seguidos por outros (risos). Faça, então, suas apostas, (e) leitores. É isto.

Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.



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