Onofre Ribeiro
Pra onde vamos?
O ano vai chegando ao fim e trazendo uma série de percepções desencontradas.
Algumas delas muito estranhas. Ora admitimos que o país chegou a um ponto insustentável. Ora imaginamos que é uma fase que está perto de acabar. E que poderemos até sair desse abismo de péssima autoestima em que nos metemos.
Gostaria de lembrar que durante o curso de Jornalismo, na UnB nos anos sessenta, tinha um professor que lecionava "Civilização Contemporânea". Um gênio: Pedro Moacir. Ele gostava do tema e aprofundou muito com os seis alunos da sua disciplina sobre as duas grandes guerras, a de 1914-1918 e de 1939-1945. Lembro isso agora porque sinto a sensação de que o Brasil está vivendo uma grande guerra.
Não é uma guerra de armas mecânicas ou químicas. É uma guerra de princípios morais, de ideologias e de todas as consequências que a ausência de uma educação educadora possa causar. Além do fato de que toda a história da civilização brasileira sempre foi pautada justamente pela ausência desses pontos citados.
A passagem da esquerda pelo governo revelou todas as podridões acumuladas. O escracho da falta de cultura de convivência com o poder, levou a esquerda ao extremo da desordem dos princípios. Não foi a única causadora da guerra em que vivemos. Mas fez muito pra potencializá-la. Desqualificou os princípios da já desgastada gestão brasileira e da política. Reflexos imediatos na economia e na percepção social da população. Ficou claro que os valores do Estado morreram. Virou uma ferramenta predadora dos cidadãos para alimentar os interesses que se agruparam em torno e perderam o medo e a vergonha.
O ano termina assim. Dividido entre esperanças e desesperanças. Muita coisa ainda poderá piorar. Muita coisa não poderá continuar como se nada estivesse acontecendo. Mudanças há. Mas enxergá-las sustentáveis pro longo prazo, é muito difícil. Há toda uma estrutura de civilização construída no país desde Portugal e que nunca mudou. Resistirá por muito tempo em mudar. Ao contrário. Aqui ela piorou. Uma em particular: a expansão das desigualdades sociais como política mal disfarçada de Estado. Só isso daria um milhão de artigos.
Contudo, encerro este com uma sensação muito desagradável de que as gerações brasileiras não têm justificado a sua existência...
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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