JUACY DA SILVA
Brasil prestes a explodir
Há poucos dias li duas notícias que, para muita gente talvez tenham passado desapercebidas. Uma se referia à possibilidade de um projeto de lei que transformaria o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em movimentos terroristas e, como tais, suas manifestações seriam enquadradas na Lei de Segurança Nacional que, mesmo em plena democracia, ainda está em vigor como uma espada prestes a cortar a cabeça de quem não segue as ordens e normas dos donos do poder e das elites dominantes, incluindo os latifundiários e seus aliados.
Outra notícia é a defesa de candidatos, como Bolsonaro, seus aliados e apoiadores pelo Brasil afora, no sentido de que fazendeiros e talvez qualquer pessoa que assim o desejar possam comprar armas de guerra (fuzis, metralhadoras, pistolas e outras mais) para defenderem suas propriedades a ferro e fogo. Para esses, a segurança está na ponta do fuzil e não nas ações que os poderes públicos deveriam executar através de políticas públicas que garantam teto, terra e trabalho, nas palavras do Papa Francisco, enfim, a vida, a liberdade e o direito de ir e vir e não apenas à propriedade.
Talvez seja bom lembrar que essas armas já estão nas mãos do crime organizado há vários anos, razão pela qual nem a intervenção federal, sob a batuta do Exército brasileiro na segurança pública do Rio de Janeiro, tem conseguido reduzir o poder de fogo da bandidagem e, com certeza, levará à desmoralização, não apenas do nosso glorioso verde oliva, mas também das Forças Armadas e policiais como um todo e, inclusive, do governo Temer e de diversas governos estaduais que não estão conseguindo enfrentar o crime organizado que, a cada dia, age com mais destemor na certeza da impunidade, inclusive facilitada por uma justiça morosa.
Em meio a tudo isso, todos os dias surgem notícias e fatos novos para anuviar o cenário nacional, complicando sobremaneira o período eleitoral e pós-eleitoral, se é que vamos ter eleições este ano. Alguns analistas e também videntes costumam dizer que Temer não termina seu governo e que um golpe de força não estaria descartado, na esteira de uma corrente de extrema direita que prega abertamente uma nova intervenção militar.
O exemplo mais patente da fragilidade política, econômica, social e institucional que estamos vivendo é esta greve dos caminhoneiros, mais de 800 mil em todo o Brasil, que está colocando o governo Temer de joelhos e afetando o país como um todo, incluindo a possibilidade de desabastecimento, aumento exagerado de preços e a volta da inflação.
O interessante nesta estória que todo mundo já sabia, o fim desta novela, afinal, é atrelar o preço dos combustíveis à variação do preço internacional do petróleo, apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores de etanol e um produtor médio de petróleo, preço este que é cotado em dólar que tem se valorizado nos últimos meses, levaria a um desastre econômico e social.
Quem autorizou a Petrobras a aumentar diariamente o preço dos combustíveis foi o Governo Temer, sem avaliar as consequências desta medida, cujo objetivo nada mais é do que capitalizar novamente a Petrobras que foi destruída ao longo dos últimos anos pela corrupção patrocinada pelos governos Lula, Dilma/Temer e com o apoio de todos os partidos que apoiavam aqueles governos e continuam apoiando o governo Temer e têm suas mãos manchadas, não apenas pela corrupção como também pela conivência e incompetência que os caracterizam. Para este governo e seus apoiadores no Congresso e nos Estados, "salvar" a Petrobras é mais importante do que salvar o povo brasileiro que vive no desemprego e subemprego e com um salário de fome (13,7 milhões de desempregados e 14 milhões de subempregados); mais de 50 milhões de inadimplentes com seus nomes sujos devido às taxas de juros escorchantes e o desemprego; mais de 1,5 milhões de pessoas que voltaram à condição de pobreza extrema e mais de 5 milhões que voltaram a viver na pobreza.
O aumento do preço dos combustíveis, principalmente do óleo diesel e outros derivados como gás de cozinha, está paralisando o transporte urbano, intermunicipal e interestadual; transporte aéreo, transporte de cargas, contribuindo também para o desabastecimento de alimentos e outros produtos, enfim, infernizando a vida da população, principalmente das camadas pobres e miseráveis, mas também afetando a vida das camadas média e alta que não vão poder viajar de avião por falta de combustível e aeroportos fechados com já está acontecendo.
Enquanto isso, os corruptos, os marajás da República e os sanguessugas do Tesouro continuam com suas ações, uns poucos a caminho da prisão, como aconteceu há dois dias com o tucano, ex-governador mineiro que foi condenado a 20 anos de prisão por crimes de colarinho branco cometidos há exatamente duas décadas e outros em sua insensibilidade social.
Isto é Brasil, uma panela de pressão prestes a explodir e levar pelos ares nosso tão decantado "estado democrático de direito" ou, nas palavras do Conde Affonso Celso, em sua obra Porque me ufano de meu país, escrito em 1906, publicado em 1908 e que vale a pena ser lida.
Juacy da Silva é professor universitário, mestre em sociologia, colaborador e articulistas de diversas veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com