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Segunda - 30 de Junho de 2014 às 05:17
Por: Lourembergue Alves

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Outro dia, um leitor desta coluna trouxe à lembrança de que toda eleição é movida por dois desejos gerais, a saber: ou o de mudanças ou o de continuidade. Ele, claro, está correto. Aliás, os resultados de pesquisas têm apontado nessa direção. Os ditos resultados, contudo, também têm realçado que o eleitorado não abre mão do que já conquistou. E, aqui, talvez, aparece um complicador, e este certamente reforça a condição conservadora do brasileiro. Daí a máxima: “o eleitor vota com o estômago”. Esta, por sua vez, nem por tabela, invalida a afirmação primeira. Afinal, nada pode ignorar os fatos, inclusive de disputas recentes, ainda que as versões dos acontecimentos predominem no campo da política.

Detalhe bem mais claro quando se observa que o jogo político se dá em um cenário apropriado, bastante assemelhado ao teatro, onde existem igualmente os expectadores e os atores, os quais carecem da aprovação daqueles. Mas, entre os primeiros e os segundos, ou até entre estes, disfarçados ou não, se encontram os analistas. Estes, até por ofício, deveriam ser críticos, embora existam evidências fortíssimas de que alguns deles agem como torcedores - assim como se percebe com relação a muitos dos votantes que, vez ou outra, nada recebem em troca.

Este tipo de votante tem força pela quantidade. É o dito segmento eleitoral, somado aos que votam sempre em quem lidera as pesquisas de intenção de votos, sustentados pela argumentação de “não perderem seus votos”, que atrapalha o aprofundamento das discussões sobre os entraves na economia, na educação, saúde e na segurança públicas.

Atrapalha a ponto de desobrigar os políticos, partidos e candidatos a pensarem em projetos de governo, de atuação, preferindo assim se juntarem em função da conquista e/ou da manutenção dos cargos e do poder de mando. É a partir daqui que se deve debater os desejos gerais de que falava o missivista do início deste texto. Um debate que deve primar pelos fatos, não pelas versões, cujas essências nortearam as candidaturas que pregavam ou as mudanças e/ou a continuidade. Aliás, o Blairo Maggi foi eleito governador pela primeira vez, em 2002, com a bandeira do “novo” contra o “velho”, sem, contudo, deixar de ser apoiado por forças políticas que o seu próprio discurso, contraditoriamente, classificava como “tradicionais”, e que deveriam ser “eliminadas” do tablado. O eleitorado votou embalado por esta cantilena, e, em 2006, renovou-lhe o contrato de trabalho, atraído pela promessa de continuidade do “modelo de gestão implantado”. Continuidade que garantiu a reeleição de Silval Barbosa, em 2010. Quando, na verdade, em sentido prático, as três últimas administrações nada trouxeram de mudanças. Pois trilharam na esteira indicada lá atrás por Dante de Oliveira que, por força do momento vivido, eliminou certos encargos do Estado com as privatizações, além da readaptação do governo para a exigência que vem ocorrendo. Medidas de readaptação que carecem de reoxigenação, assim como precisa o plano real – instrumento de todos os ganhos do país e da população -, mas que os atuais governantes foram incapazes de implementarem. E tal incapacidade – tanto da presidente quanto do governador – alimenta a vontade de mudança por parte do eleitorado regional e nacional. A jogada, portanto, está nos pés das oposições, as quais, em especial as nacionais, patinam na pista ensaboada do conservadorismo do brasileiro, a despeito das denúncias de desvio do erário.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulistas de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  



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