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Terça - 14 de Agosto de 2018 às 23:40

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Vicente Vuolo é economista e cientista político
Vicente Vuolo é economista e cientista político

As declarações do Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, divulgadas amplamente pela mídia que, de "todos os projetos existentes, a FICO e a Ferrogrão são as ferrovias que melhor atendem o escoamento da produção mato-grossense" traduz o descaso, desleixo de Blairo Maggi pela ferrovia por Cuiabá. E a sua tese é longe de ser o ideal e vou explicar o porquê, ao longo deste artigo.

Ao contrário do projeto pessoal do ministro, o projeto da ligação ferroviária São Paulo - Cuiabá nasceu de um grande estudo e debate nacional. Há 100 anos o escritor Euclides da Cunha escreveu como "o melhor caminho para ligar o Norte e o Sul do Brasil". Esse projeto, idealizado 70 anos depois pelo ex-senador Vicente Emílio Vuolo, foi amplamente discutido no Congresso Nacional cuja luta se travou durante mais de 40 anos até a sua morte. Coube aos demais mato-grossenses ilustres continuarem a luta até a chegada dos trilhos em Rondonópolis. A iniciativa de Maggi é um duro golpe contra Cuiabá!

Para o "Rei da Soja" ficou claro, que o projeto mais importante é atender os seus interesses, da sua produção, dos seus portos, do seu império. E não os interesses do Estado. É uma visão tacanha de Mato Grosso. E não como um grande líder que defende projetos de país, pensando na próxima geração.

O ministro, com a sua influência e ganância, já até articulou pesado junto ao governo federal. Conseguiu aporte de R$ 8.400 bilhões do BNDES, o que representa 70% do valor total para a construção do terminal de cargas em Sinop e assim viabilizar o seu projeto particular.

Ministro, como pode ignorar a importância de Cuiabá, o maior polo industrial do Estado? Por que tanto ódio por Cuiabá? Com a ferrovia em Cuiabá, indústrias se instalarão no distrito industrial da Capital, dinamizando toda uma cadeia produtiva, gerando milhares de empregos e contribuindo para o aumento da arrecadação do município, trazendo recursos para investir em saúde, educação, segurança e mobilidade urbana.

Isso é projeto de Estado. Temos que agregar valor aos nossos produtos. E não simplesmente encher o bolso de empresários e políticos gananciosos.

Ministro, V. Exa. defende a construção de 1.142 km de trilhos do seu quintal em Sinop até Miritituba, como prioridade. Ora ministro, o racional é defender a ferrovia chegar primeiro em Sinop, via Cuiabá, passando por Nova Mutum, Lucas, Sorriso, Sinop indo direto a Santarém, ligando à hidrovia do Amazonas. Isso se chama projeto de integração regional!

O projeto nº 312-A, de autoria de Vuolo, está carregado de idealismo e sem interesse econômico. Ele nasceu de um estudo técnico consistente do brilhante engenheiro Domingos Iglésias Valério, foi aprovado no Congresso Nacional e transformado na Lei nº 6.376-1976. Uma vez construída, a ponte rodoferroviária sobre o Rio Paraná (3.600 metros) viabilizou cerca de 1.000 km de trilhos até Rondonópolis.

Falta pouco para chegar em Cuiabá. Mesmo com esse "golpe contra Cuiabá" que é, na verdade, um "tapa na cara" na história de Cuiabá, que ficou isolada por mais de 200 anos após o fim do ciclo do ouro.

Ministro, tenha respeito com a nossa terra. Não deboche do nosso povo quando diz que a sua ferrovia "será a primeira que virá para dentro da roça". Ora ministro, roça (uma chácara, um lugar simples onde prevalece a agricultura familiar) não existe no agronegócio, muito menos nos 100 mil hectares de terra esparramados pelo Estado. Na roça nós carpimos. Na sua "roça" as máquinas de 500 mil dólares fazem esse serviço.

Ministro, não menospreze a inteligência dos cuiabanos. É minha obrigação lutar contra as ações de maus brasileiros que insistem em usar o mandato eletivo para cuidar de interesses pessoais e inflar a divisão do Estado de Mato Grosso.

Vicente Vuolo é economista e cientista político



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