JUACY SILVA
O papel da propaganda
São sempre boas as campanhas pensadas, elaboradas e veiculadas pela Justiça Eleitoral. Elas sempre convidam o eleitorado para a reflexão de si mesmo, de seu próprio papel e de sua importância no processo democrático. É este o caso da agora campanha que tem como objetivo diminuir o "não voto" nas eleições deste ano. Uma campanha igualmente belíssima, ainda que não tenha sido feita por nenhuma equipe de marketing dos candidatos a chefia do Executivo estadual e federal. Sem o jogo de imagens e falsas verdades bastantes presentes nos programas do horário político-eleitoral das candidaturas, com o fim de chegar ao eleitor pela emoção. Nem deveria tê-las. A peça do TSE possui outra característica. Ainda bem que tem. Toca pelo emocional. Mas a sua maior força está em outro lugar, inalcançável pelas propagandas eleitorais.
Pois se preocupa, e muito, com o convencer. E se vale de uma argumentação muitíssimo forte, a qual busca provocar o pensar e o analisar. Daí a sua insistência em três pontos: (a) possibilidade de escolhas, (b) representatividade pelo voto e, (c), importância do voto como instrumento de participação na escolha dos governantes. Até porque o abrir mão de votar é o mesmo que deixar os outros decidirem por você. Aliás, são altos os índices percentuais do "não voto" (abstenções, votos brancos e nulos) registrados pelas pesquisas de intenção de voto. Índices que tendem a crescer. Tendem a crescer pela ausência do Lula da Silva na disputa à presidência, dizem os institutos de pesquisas.
Na verdade, não é só por isso. Existem outros fatores, a exemplo do envolvimento de agentes políticos e públicos em falcatruas, em recebimento de propina e em desvios do erário. Envolvimentos que fazem um sem número de brasileiros a se distanciarem dos negócios públicos e do jogo político-eleitoral. Outro dia, uma pesquisa registrou que 35% dos brasileiros não dão a menor importância para as eleições e 26% dão pouca importância, perfazendo assim 61% (Ibope). Procede, então, a preocupação do TSE. Sua campanha vem em boa hora. Mas só ela não resolverá, nem diminuirá o número do "não voto".
Isto porque os partidos, políticos e, principalmente, os candidatos não contribuem com coisa alguma nessa direção. Candidatos (todos) completamente despreparados brigam, por exemplo, pela cadeira central do Palácio Paiaguás. Sem discurso e sem proposta. Valem-se de promessas e de textos decorados, destituídos de qualquer substância. Suas peças de propagandas lindíssimas. Ricas em tecnologia e jogos de imagens, capazes de obter a nota máxima no quesito. Mas, infelizmente, quando se trata de conteúdo, a nota que se deve atribuir é zero.
Além da falta de conteúdo, transformam suas peças em defesa (pelo candidato situacionista) e de acusações (pelos candidatos do contra e de oposição) no horário político-eleitoral de TV e de rádio. Nada, além disso. Somados a mentiras e a meias verdades contadas como se verdades fossem. Na semana passada, aliás, um dos postulantes de oposição se autointitulou "gestor por excelência", enumerando três ou quatro obras. Mas, de propósito, esqueceu-se de mencionar seus desacertos, que foram muitos. Inclusive nas obras que apareceram na propaganda. Imagens impecáveis. Tão somente para cativar o eleitor pela emoção, ainda que fracas da força persuasão. As propagandas eleitorais são zeradas em matéria de convencimento. Todas elas. Pois são motivadas pelo despreparo latente. O que realça a convicção de que a improvisação será igualmente a marca da administração do eleito. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.