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Quinta - 19 de Junho de 2014 às 23:15
Por: Lourembergue Alves

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Em meio aos jogos da copa do mundo, outra disputa, bastante diferente e fora das dimensões das arenas, a da presidência da República, parece ganhar impulso e visibilidade com as convenções partidárias. Fala-se em cinco, seis ou não se sabem ainda quantos candidatos irão entrar em campo. O ideal, contudo, seria a inscrição de postulantes com grande capital político. Pois o que está em jogo é a imposição legítima dos princípios de visão e divisão do universo social brasileiro. Daí a importância das candidaturas de oposição, contrapondo-se ao da presidente-candidata, sempre a valer-se de lupas para tentar ampliar sobremaneira as conquistas alcançadas.

O irreal e o real, contudo, estão longe de ser tema dos debates. Bem que poderiam ser. Deixariam à mostra a grossa maquiagem que serve de adornos a obras sem importância e ações tocadas de improviso. E isso, até como consequência, obrigaria cada ator a apresentar um projeto alternativo. Este nada tem a ver com acrobacia de palavras, tampouco com jogos de imagem e, muito menos, com frases de efeito. Pois o tal projeto sempre é resultado de um pensar, de um discutir e de um planejar – verbos conjugados, no entanto, fora do campo da política, desconsiderando o fato de que é no dito campo em que se realiza o viver humano.

Este viver se dá por idas e vindas. Nada, aliás, se concretiza de forma linear. O que, por si só, deveria levar os políticos à lembrança e a reflexão no plural, no dizer de Kant, na “Crítica do Juízo”, que consistem em ser capazes (os candidatos) de pensarem no lugar e na posição da maioria dos brasileiros, em vez de estarem cotidianamente de acordo consigo mesmo.

Neste sentido, cabe lembrar, a política é a gestão dos desejos conflitantes. A partir daqui se deve analisar o discurso do Aécio Neves, na convenção nacional do PSDB (14/06). Ele, acertadamente, fez duras críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff, não poupou o PT e condenou os que permitiram a volta da inflação e a atual situação do país, em plena crise de confiança.

O mineiro, no entanto, se esqueceu do mais importante: a apresentação do projeto de governo – em falta também nas bagagens dos outros candidatos. É o tal projeto que será capaz de nortear o Estado, sobretudo quando este se encontra em meio a águas revoltas. Afinal, as diretrizes administrativas são necessárias até para o “encontro” do país “consigo mesmo” ou o seu “reencontro com a nação” que sempre foi.

As palavras, portanto, devem vir acompanhadas de ações, ou de um planejamento de ações. Equivocam-se os que pensam de maneira diferente, sejam governistas ou oposicionistas. Pois não se debelam a inflação com um grito, à moda Pedro I, nem alcançam a justiça trocando os instrumentos de mensuração dos índices de desigualdade social e, tampouco, se chegam ao desenvolvimento com brincadeiras de esconde-esconde.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br



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