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Copa do Mundo: qual o saldo?
Enfim, a Copa do Mundo chegou ao Brasil. Nas ruas, começamos a ver os penduricalhos e bandeiras verde- amarelos. Na TV, começaram as propagandas que nos convidam a aderir à dita ‘multidão’ dos torcedores emocionados em sediar este grande mundial esportivo. A alegria enfeitada pela mídia (que lucrará milhões com a Copa) contrasta com a realidade de um evento que será para poucos: quem for ao estádio, terá que desembolsar R$ 6 por uma água e R$ 8 por um saquinho de amendoim.
Poucos têm coragem de negar que a condução dos processos referentes à Copa do Mundo no Brasil é um exemplo do que não se deve fazer. A começar pela exorbitância nos gastos, que dos previstos de R$ 2,5 bilhões - bancados em sua maioria pelo financiamento privado - chegaram a nada menos que R$ 9,1 bilhões, 94% vindos do dinheiro dos impostos dos brasileiros e de contratos com o BNDES.
Na área trabalhista, perdeu-se um momento importante de valorizar os trabalhadores brasileiros. Devido às necessidades dos jogos, tentou-se discutir a flexibilização da jornada de trabalho, abrindo brecha para que o governo admita agora realizar mudanças nas regras trabalhistas que poderão permitir contratações com carga horária flexível, o chamado trabalho part-time, como foi informado recentemente pelo ministro chefe da Casa Civil, Gilberto de Carvalho.
Por outro lado, o governo fugiu a todo custo da discussão sobre a criação de um piso nacional único para os trabalhadores da construção civil, atitude que desfaria desigualdades incompreensíveis: grandes construtoras que atuam em várias partes do país pagam valores diferenciados pelo mesmo tipo de serviço.
Os sindicatos (e os movimentos sociais como um todo) esperaram em vão pela abertura de um diálogo com governo e empresários, permitindo acompanhamento e garantia do cumprimento da legislação trabalhista nos canteiros de obras.
Mesmo o Pacto pela Melhoria das Condições de Trabalho na Construção Civil, estrategicamente lançado pelo governo federal em meio a toda esta discussão, não mostrou resultados efetivos quanto à valorização, principalmente salarial, do trabalhador.
Aqui em Cuiabá, o movimento sindical só foi ouvido quando se quis seu apoio para aumentar a carga horária dos operários, extenuando suas forças na busca de atender a um calendário apertado pela ineficiência e incompetência na condução das obras. Mas nem a Justiça do Trabalho permitiu tanto.
Porém, o pior saldo negativo foi a morte: nove operários perderam suas vidas para garantir a construção dos belos estádios da Copa. Para estas nove famílias, não vai ter Copa.
Recentemente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentou relatório onde conclui que as melhorias nas condições de trabalho contribuem para o crescimento econômico sustentável. Que critérios como a proteção social, visando a melhoria na qualidade de vida, são determinantes para o desenvolvimento geral dos países.
Para todos os trabalhadores e população em geral, fica a sensação de despreparo e descaso. Fica também a dúvida sobre o futuro destas obras, já que temos exemplos como o do Hospital Central de Cuiabá, cuja conclusão foi várias vezes prometida pelo governo, sem resultados concretos. Outro agravante é que teremos mudança na administração estadual com as eleições deste ano, o que nos deixa temerosos de que estas obras não sejam assumidas pelo próximo governador, como já é de praxe na política brasileira.
E onde estão as melhorias na infraestrutura das cidades-sede, tão propagadas como legado da Copa e que até o momento ou não foram concretizadas de fato, ou ainda estão em execução, sem data correta para finalização? Onde estão os investimentos em esgoto e asfalto, cadê a contribuição efetiva da Prefeitura Municipal na execução das melhorias que a cidade – trabalhadores e população em geral – merece? O que vimos foi um aumento absurdo no número de buracos, o que piora muito nos tempos de chuva. E o esgoto continua correndo a céu aberto nos bairros mais carentes, onde a população predominante é a de trabalhadores.
Fica a revolta pelas obras inacabadas e mal feitas, pelo superfaturamento, pelo excesso de liberdade dada à Fifa, pelas mortes, pelos atrasos, pela qualificação profissional prometida aos trabalhadores e não cumprida a contento. Pela vergonha que passaremos, como país, perante todo o mundo.
Diante destes desmandos na condução do recurso público, são compreensíveis os protestos da população, que pede mais investimentos em áreas como saúde e educação, valorização salarial e respeito ao cidadão que trabalha.
As pessoas não são contra a Copa do Mundo ou o futebol. Elas são à favor do respeito.
*Ronei de Lima é presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Mato Grosso (FETIEMT) e vice-presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores em Mato Grosso (NCST-MT).
Poucos têm coragem de negar que a condução dos processos referentes à Copa do Mundo no Brasil é um exemplo do que não se deve fazer. A começar pela exorbitância nos gastos, que dos previstos de R$ 2,5 bilhões - bancados em sua maioria pelo financiamento privado - chegaram a nada menos que R$ 9,1 bilhões, 94% vindos do dinheiro dos impostos dos brasileiros e de contratos com o BNDES.
Na área trabalhista, perdeu-se um momento importante de valorizar os trabalhadores brasileiros. Devido às necessidades dos jogos, tentou-se discutir a flexibilização da jornada de trabalho, abrindo brecha para que o governo admita agora realizar mudanças nas regras trabalhistas que poderão permitir contratações com carga horária flexível, o chamado trabalho part-time, como foi informado recentemente pelo ministro chefe da Casa Civil, Gilberto de Carvalho.
Por outro lado, o governo fugiu a todo custo da discussão sobre a criação de um piso nacional único para os trabalhadores da construção civil, atitude que desfaria desigualdades incompreensíveis: grandes construtoras que atuam em várias partes do país pagam valores diferenciados pelo mesmo tipo de serviço.
Os sindicatos (e os movimentos sociais como um todo) esperaram em vão pela abertura de um diálogo com governo e empresários, permitindo acompanhamento e garantia do cumprimento da legislação trabalhista nos canteiros de obras.
Mesmo o Pacto pela Melhoria das Condições de Trabalho na Construção Civil, estrategicamente lançado pelo governo federal em meio a toda esta discussão, não mostrou resultados efetivos quanto à valorização, principalmente salarial, do trabalhador.
Aqui em Cuiabá, o movimento sindical só foi ouvido quando se quis seu apoio para aumentar a carga horária dos operários, extenuando suas forças na busca de atender a um calendário apertado pela ineficiência e incompetência na condução das obras. Mas nem a Justiça do Trabalho permitiu tanto.
Porém, o pior saldo negativo foi a morte: nove operários perderam suas vidas para garantir a construção dos belos estádios da Copa. Para estas nove famílias, não vai ter Copa.
Recentemente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentou relatório onde conclui que as melhorias nas condições de trabalho contribuem para o crescimento econômico sustentável. Que critérios como a proteção social, visando a melhoria na qualidade de vida, são determinantes para o desenvolvimento geral dos países.
Para todos os trabalhadores e população em geral, fica a sensação de despreparo e descaso. Fica também a dúvida sobre o futuro destas obras, já que temos exemplos como o do Hospital Central de Cuiabá, cuja conclusão foi várias vezes prometida pelo governo, sem resultados concretos. Outro agravante é que teremos mudança na administração estadual com as eleições deste ano, o que nos deixa temerosos de que estas obras não sejam assumidas pelo próximo governador, como já é de praxe na política brasileira.
E onde estão as melhorias na infraestrutura das cidades-sede, tão propagadas como legado da Copa e que até o momento ou não foram concretizadas de fato, ou ainda estão em execução, sem data correta para finalização? Onde estão os investimentos em esgoto e asfalto, cadê a contribuição efetiva da Prefeitura Municipal na execução das melhorias que a cidade – trabalhadores e população em geral – merece? O que vimos foi um aumento absurdo no número de buracos, o que piora muito nos tempos de chuva. E o esgoto continua correndo a céu aberto nos bairros mais carentes, onde a população predominante é a de trabalhadores.
Fica a revolta pelas obras inacabadas e mal feitas, pelo superfaturamento, pelo excesso de liberdade dada à Fifa, pelas mortes, pelos atrasos, pela qualificação profissional prometida aos trabalhadores e não cumprida a contento. Pela vergonha que passaremos, como país, perante todo o mundo.
Diante destes desmandos na condução do recurso público, são compreensíveis os protestos da população, que pede mais investimentos em áreas como saúde e educação, valorização salarial e respeito ao cidadão que trabalha.
As pessoas não são contra a Copa do Mundo ou o futebol. Elas são à favor do respeito.
*Ronei de Lima é presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Mato Grosso (FETIEMT) e vice-presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores em Mato Grosso (NCST-MT).
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