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Domingo - 25 de Outubro de 2020 às 22:40

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Aproveito a bela campanha do Cuiabá na série B do Campeonato Brasileiro para refletir sobre a importância dos espaços urbanos públicos destinados ao lazer e às práticas esportivas, em especial agora com a triste experiência da pandemia exigindo novas formas de convivência da população com seu entorno e valorizando o uso seguro dos espaços abertos ao sol, ao ar e à natureza. O esporte e o lazer sadios são as mais expressivas formas de manifestação da vida em sua plenitude, corpo, mente e alma. Ao tratar as cidades o principal objetivo deveria ser a qualidade de vida de seus cidadãos, buscando condições físicas, psicológicas e ambientais para uma gente saudável e feliz. A cidade como um gerador contínuo de vida saudável com o povo voltando à vida e revificando a cidade. Tudo na cidade deve existir em função da qualidade de vida da população que lhes dá origem e sentido. E não o inverso.

É óbvio que um dos pilares da qualidade de vida urbana é a saúde da população. Saúde é vida e ter um povo saudável é mais de meio caminho andado no rumo dos altos padrões urbanos. Infelizmente as estruturas públicas responsáveis pela saúde no Brasil e mesmo no mundo, apesar da abnegação e resistência de grande parte de seus profissionais, estão elas próprias bastante doentes, refém dos poderosos lobbies industriais e de corporações profissionais, dedicando-se mais à rentável cura das doenças do que à manutenção e promoção da saúde. Meio brincando, meio a sério, digo aos amigos que se fosse candidato a prefeito (felizmente não o sou), o ponto alto de minha plataforma seria a criação de uma “Secretaria das Curas” destinada apenas à uma das mais sublimes atividades humanas que é a de tratar as doenças, atropelamentos, feridos diversos, cuidar de hospitais, remédios, etc., liberando assim a atual Secretaria da Saúde para cuidar só da Saúde, sua função primordial como diz seu próprio nome, permitindo o protagonismo também a outros profissionais fundamentais da área como fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e outros, hoje caudatários de um modo geral no tratamento das doenças, assim como profissionais de outras áreas como médicos e engenheiros sanitaristas, biólogos, botânicos, psicólogos e outros, e em especial os urbanistas.

Arriscando avançar nesta concepção, cuidar da saúde seria o desenvolvimento efetivo de programas de saneamento, resíduos sólidos, abastecimento de água, arborização pública e calçadas, proteção aos mananciais hídricos, educação nutricional, transporte coletivo digno, criação de centros esportivos, parques e academias públicas com profissionais especializados ministrando atividades coletivas, estímulos a torneios saudáveis diversos com inicialização à práticas esportivas com prêmios, bolsas, e mesmo a profissionalização, valorizando e estimulando o jovem atleta. Essenciais seriam programas de estímulo ao uso dos espaços públicos com agendamento de atividades artísticas e esportivas com apresentações de corais de empresas e órgãos públicos, escolas de dança, pintura, música, capoeira etc. As ações dedicadas à cura seguiriam na nova secretaria na expectativa de uma progressiva redução na sua demanda com as ações voltadas à saúde.

Vejam o sucesso dos parques da cidade junto à população e seria bom que as autoridades notassem isso. O que significa esse intenso uso dos parques da cidade em termos de redução na demanda de jovens e adultos sobre nosso sistema de “saúde”? Para cada atleta exemplar, tipo Felipe Lima, Davi Moura, Michael, Fábio, Jael e Ana Sátila, para cada time local nos diversos esportes ascendendo no ranking nacional, quantos jovens deixam o caminho da droga, da violência, liberando leitos em hospitais, celas nos presídios e túmulos nos cemitérios?

JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é conselheiro licenciado do CAU/MT, acadêmico da AAU e professor aposentado.



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