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Quarta - 18 de Agosto de 2021 às 00:59

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Já sabemos que a fome no Brasil e no mundo não é uma catástrofe inevitável. Há tempos sabemos que a miséria de tantas pessoas não se deve à escassez de recursos, nem a causas naturais, muito menos ao destino ou aos desígnios misteriosos de Deus.

E sabemos disso, também, graças a muitos que ousaram – ousar* no sentido pleno dessa palavra: os romancistas da fome como Rachel de Queiroz (OQuinze) eJosé Américo de Almeida (A Bagaceira); ossociólogos da fome no Brasil, Euclides da Cunha (“Os Sertões”) e Rodolfo Teófilo (A Fome). Josué de Castro, nas obras Geografiae Geopolítica da Fome,derrubou mitos.

Um amigo de infância (com fome) me disse que não quer ler ou ouvir romances. Elecansou da sociologia. Ageografia não o encontrou.E a poesia é para quem quer as nuvens, mas ele só tem o chão duro, batido, de terra.

Herbert de Souza, o Betinho, já dizia isso:“Quem tem fome tem pressa”.

Fomos produzindo, ao longo da nossa história, a pobreza. Fomos aprendendo como natural, quase como se não tivesse outro jeito: que tem aqueles que têm e aqueles que não têm; os que comem carne todo dia e os que não comem; os que usam gás de cozinha e os que usam pedaços de madeira entre os tijolos de oito furos; os que têm mansões e os que nem barraco têm; os que compram calças de R$ 1.000 (mil reais) e os que não enchem nem metade do carrinho do mercado…

A indiferença “cômoda, fria e globalizada” é parte da fome e da pobreza, das pessoas e do mundo.

Essa indiferença (in)comum está a caracterizar o “aqui”, o agora e nos leva a nos afastarmos e ignorarmos “o outro” (o outro é tudo que é vivo: a planta, a árvore, os pássaros, os bichos todos… as pessoas… nós)

Eu digo nada deste mundo nos é indiferente, queiramos ou não.E quando eu decido o meu destino não é só ele que decido.

Um amigo atual (faminto) me disse que não é possível alguém sofrer de fome no Brasil. Alguém sentir uma sensação desconfortável ou dolorosa causada por energia insuficiente advinda da alimentação; pessoas privadas de alimentos, num estado de incerteza sobre a capacidade de obter alimentos; o risco de pular refeições ou ver a comida acabar, de ficar sem comida. A fome experimentada, ficar sem comer por um dia ou mais…

Já marquei um encontro entre meus amigos, não serei mediador de nada. A vida é a arte do encontro embora haja tando desencontro pela vida. (Vinícius)

Amigo leitor, despertapara a fome! Perceba a miséria que vivemos. Há a fome e ela vem de várias maneiras.

*Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se. (Kierkegaard)

*Emanuel Filartiga é Promotor de Justiça em Mato Grosso



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