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A “Marcha” do Retrocesso
O Brasil ainda não é, na essência, um Estado democrático. Caminha para tal. Já deu muitos passos nessa direção, porém faltam outros tantos para alcançar o dito estágio. Mas, sem dúvida, vive em um cenário muitíssimo melhor que o do período burocrático-militar, onde o país e o seu povo tinham a liberdade cerceada e a participação política impedida. E, mesmo assim, volta e meia, surge alguém na defesa do regime anterior, fazendo rasgados elogios à situação da época. Vivida ou não por ele. Nos últimos dias, inclusive, um grupo de brasileiros está à frente da organização da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, com previsão para ocorrer no próximo sábado, em mais de duzentas cidades.
Esta “Marcha”, vale dizer, é uma espécie de reprise da que se viu em 1964, cuja razão-motora – assim como a primeira – é a solicitação pelo retorno dos militares ao poder, como forma de garantir a democracia e a ordem pública.
Garantia que não se dá sem o Estado de direito, o qual é improvável sua existência sem a liberdade de manifestação. Esta e aquele são partes inseparáveis da construção democrática. E nesta, cabe acrescentar, jamais é aceito à proibição às manifestações e aos movimentos populares. Próprios da democracia, cuja argamassa-conceitual deve ser o respeito às diferenças e aos diferentes. Isso significa dizer que os organizadores da “Marcha” têm todo o direito de realizarem suas manifestações, desde que respeitem as regras e as normas.
Mas, sempre é bom lembrar, que pedir o retorno dos militares ao poder é um dos maiores equívocos e, bem pior, ignorar e/ou desconhecer as páginas da história do país entre 1964-1985. Período em que ocorreu avanços, e estes se estendem da abertura das portas da escola até a construção de estradas, bem como o asfaltamento, passando por investimentos na segurança e na indústria do entretenimento, com o fim de legitimar o ilegítimo e o imoral.
Isso, contudo, não escamoteia as enormes desvantagens do regime, a despeito da grossa maquiagem utilizada e da tentativa de fazer do presidente-militar um “cidadão comum”. O presidente, aliás, contava com um rádio de pilha para acompanhar a sua equipe de futebol, enquanto o país, com a prancha do milagre econômico, deslizava pelas ondas do faz de conta e da corrupção que nunca deveria ser denunciada.
O maior de todos os males, gerados pelo governo burocrático-militar, foi o cerceamento da liberdade de expressão. Tanto que o ajuntamento, nos logradouros, de três ou mais pessoas era caso de polícia. Isso, pelo seu turno, afastou qualquer possibilidade da participação popular nos negócios públicos, nas questões políticos-eleitorais. O que paralisou de vez todo o processo de politização do brasileiro, que vinha em um estágio crescente desde 1945. E esta paralisação, sem dúvida, gerou consequências desastrosas. Inclusive na atua fase vivida, iniciada com o fim do regime, que uma fatia pequena de brasileiros – por desconhecimento e conservadorismo – torce para ver ressuscitado. É o fim da picada!
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Esta “Marcha”, vale dizer, é uma espécie de reprise da que se viu em 1964, cuja razão-motora – assim como a primeira – é a solicitação pelo retorno dos militares ao poder, como forma de garantir a democracia e a ordem pública.
Garantia que não se dá sem o Estado de direito, o qual é improvável sua existência sem a liberdade de manifestação. Esta e aquele são partes inseparáveis da construção democrática. E nesta, cabe acrescentar, jamais é aceito à proibição às manifestações e aos movimentos populares. Próprios da democracia, cuja argamassa-conceitual deve ser o respeito às diferenças e aos diferentes. Isso significa dizer que os organizadores da “Marcha” têm todo o direito de realizarem suas manifestações, desde que respeitem as regras e as normas.
Mas, sempre é bom lembrar, que pedir o retorno dos militares ao poder é um dos maiores equívocos e, bem pior, ignorar e/ou desconhecer as páginas da história do país entre 1964-1985. Período em que ocorreu avanços, e estes se estendem da abertura das portas da escola até a construção de estradas, bem como o asfaltamento, passando por investimentos na segurança e na indústria do entretenimento, com o fim de legitimar o ilegítimo e o imoral.
Isso, contudo, não escamoteia as enormes desvantagens do regime, a despeito da grossa maquiagem utilizada e da tentativa de fazer do presidente-militar um “cidadão comum”. O presidente, aliás, contava com um rádio de pilha para acompanhar a sua equipe de futebol, enquanto o país, com a prancha do milagre econômico, deslizava pelas ondas do faz de conta e da corrupção que nunca deveria ser denunciada.
O maior de todos os males, gerados pelo governo burocrático-militar, foi o cerceamento da liberdade de expressão. Tanto que o ajuntamento, nos logradouros, de três ou mais pessoas era caso de polícia. Isso, pelo seu turno, afastou qualquer possibilidade da participação popular nos negócios públicos, nas questões políticos-eleitorais. O que paralisou de vez todo o processo de politização do brasileiro, que vinha em um estágio crescente desde 1945. E esta paralisação, sem dúvida, gerou consequências desastrosas. Inclusive na atua fase vivida, iniciada com o fim do regime, que uma fatia pequena de brasileiros – por desconhecimento e conservadorismo – torce para ver ressuscitado. É o fim da picada!
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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