Manu Monteiro
A liderança feminina no agronegócio: desafios e oportunidades
Nos dias atuais, a liderança feminina no agronegócio está se destacando como um ponto crucial para a transformação do setor. A mulher, que historicamente tem desempenhado papéis secundários, agora está assumindo a gestão e liderança de propriedades rurais com competência e determinação.
Quando pensamos na administração de uma propriedade rural, muitas vezes, o primeiro pensamento recai sobre o marido como responsável pela gestão. No entanto, em situações inesperadas, como a morte do marido ou a incapacidade de um herdeiro menor de idade, a esposa frequentemente se vê à frente da administração da propriedade. A falta de conhecimento e experiência pode levar a decisões precipitadas, como a venda do patrimônio, por não saber como gerir adequadamente.
A proposta aqui é mostrar que a mulher pode não apenas assumir a liderança, mas também prosperar nesse papel. Para isso, é crucial que ela tenha acesso a ferramentas e direcionamentos específicos para a gestão rural. A propriedade rural deve ser vista como uma empresa que requer uma administração eficiente, incluindo contabilidade, gestão financeira, compras e administração de recursos.
A gestão de uma propriedade rural envolve dividir a administração em setores, como contabilidade, jurídico, financeiro e gestão geral. A mulher que assume esse papel deve ser capaz de delegar responsabilidades, garantindo que cada área seja bem cuidada, enquanto ela lidera e supervisiona o conjunto das operações.
Desafios e Capacitação
A maior dificuldade para as mulheres na gestão de propriedades rurais é a falta de conhecimento e orientação. Muitas vezes, a mulher que assume a gestão da propriedade não tem o treinamento adequado, o que pode levar à insegurança e ao medo de tomar decisões erradas. Por isso, é essencial criar assessorias especializadas que ofereçam capacitação em gerenciamento de propriedades rurais para mulheres.
Minha experiência pessoal em gestão de agronegócios reforça essa necessidade. Após me formar, trabalhei em uma empresa de nutrição animal, onde enfrentei o desafio de ser reconhecida pela minha competência, apesar de ser uma mulher em um setor tradicionalmente dominado por homens. Com o tempo, percebi a necessidade de demonstrar que as mulheres podem não apenas participar, mas liderar e transformar o setor agropecuário.
Dados Recentes
O Censo Agropecuário de 2017 revela dados significativos sobre a presença feminina na gestão de propriedades rurais no Brasil. Quase 1 milhão de mulheres são responsáveis pela administração de propriedades rurais, de um total de 5,07 milhões. A maioria dessas mulheres está no Nordeste (57%), seguidas pelo Sudeste (14%), Norte (12%), Sul (11%) e Centro-Oeste (6%). Essas mulheres administram cerca de 30 milhões de hectares, o que representa 8,5% da área total ocupada por estabelecimentos rurais no país.
Entre as proprietárias, 50% das atividades econômicas estão relacionadas à pecuária, 32% à produção de lavouras temporárias e 11% à produção de lavouras permanentes. As mulheres, em geral, enfrentam desafios adicionais, como menor acesso a informações técnicas e participação reduzida em atividades associativas.
Caminhos para o Futuro
Para apoiar a crescente liderança feminina no agronegócio, é fundamental investir em capacitação e criar redes de apoio. Propostas como a criação de assessorias via sindicatos rurais podem oferecer a formação necessária para que mulheres possam gerir suas propriedades com confiança e eficiência.
A gestão de uma propriedade rural não é muito diferente da administração de uma casa: ambas exigem habilidades de organização, planejamento e liderança. Com o devido suporte e treinamento, as mulheres podem transformar o agronegócio, trazendo inovação e prosperidade ao setor.
Assim, a mensagem é clara: as mulheres têm o potencial de não apenas assumir a liderança, mas de transformar o agronegócio com sua visão e habilidades únicas. Com a devida preparação e suporte, elas estão prontas para enfrentar os desafios e colher os frutos dessa nova era de liderança feminina no campo.
Manu Monteiro é Gestora do Agronegócio e Direito