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Quarta - 05 de Março de 2014 às 11:40
Por: WILSON CARLOS FUÁ

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Economista Wilson Carlos Fuáh – É Especialista Relações Sociais e Políticas
Economista Wilson Carlos Fuáh – É Especialista Relações Sociais e Políticas
Quem viveu registrou na memória tudo aquilo que foi o carnaval cuiabano, passei pela velha Avenida Getúlio Vargas hoje silenciada, ficaram apenas as lembranças dos grandes carnavais de rua, onde as famílias deslocavam a pés, vinha gente com alma festiva de todos os bairros para assistir aos desfiles emocionantes, mas aproveitava também para “zanzar” e tomar um “goró” nos bares das ruas de cima, do meio e debaixo.

Infelizmente os Secretários que tomaram posse da Secretaria de Cultura, “baianizou” o carnaval cuiabano carinhosamente chamado de “descentralizado”, porque poucos sabem sobre os movimentos culturais da cidade e por isso, todas as atividades culturais de Cuiabá a cada ano vão desaparecendo, porque essa Secretaria de Cultura é usada como cargo de troca de favores eleitorais em nome da satisfação partidária, quem assume não tem noção da grandeza dessa Secretaria ou pouco sabe de cultura cuiabana, jamais vão entender que das suas ações nascem e perpetuam das atividades culturais, e que necessariamente contribui para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, através dos movimentos artísticos, sociais e recreativos.

Qual é a estratégia dessa Secretaria de Cultura para o carnaval? 

Criou-se Carnaval descentralizado, que transformou em carnaval do pula e pula, e os desfiles foram resumidos em uma única Escola de Samba, (que é uma espécie em extinção) e alguns blocos. E sem estrutura e sem estratégia, o que deveria ser transformada em promoções de atividades culturais, onde o público seja participante ativo, dinamizando da cultura local a partir de suas referências, preferem copiar, do que considerar e amparar a arte popular existente, o poder público não pode interferir diretamente no processo de criação, mas deve abrir todos os espaços e meios para que o povo tenha acesso aos bens culturais e possam participar na criação dos processos culturais através de oficinas e agendas anuais com programas culturais e o carnaval deve fazer parte dessa agenda anual, mas não é considerado, por isso é meu dever reescrever sempre esses momentos emocionantes do Carnaval Cuiabano:

A Avenida Getúlio Vargas, que era preparada de um modo simples, a Prefeitura colocava uma corda bem grossa amarradas nas palmeiras e arvores dos dois lados da Avenida, para que o povo pudesse assistir ao desfile sem invadir ou atrapalhar as evoluções dos Blocos e Escolas de Sambas, porque o importante era o desfile do carnaval e porque o processo de construção da cultura vinham dos improvisos originário das raízes culturais do povo simples dos bairros, que dedicavam momentos das suas vidas pela cultural cuiabana no espetáculo carnaval cuiabano, cabia a Prefeitura a construção apenas um palanque ao lado da Catedral, local destinado para as autoridades e os árbitros dos desfiles para que pudessem dar as notas aos participantes.

Era muita alegria e pouco gasto do poder público, poucas brigas e muitas alegrias, o povo trazia na alma e no rosto a alegria do carnaval. Nos Bares da Av. Getúlio Vargas, reunia-se a nata da boemia, bebia-se a boa bebida, conversava-se de tudo ao som do carnaval, podemos citar: o Bar do Bugre, Beto Lanche e o Bar Internacional que era o principal, e pelas andanças por essa Avenida podia-se sentir aqueles momentos mágicos e parecia que a alegria morava ali, as grandes gargalhadas misturavam-se com a alegria do som do carnaval, e para finalizar a noitada o lugar certo era tomar o famoso “escaldado” no Chopão.

Mas o grande momento era o desfile dos Blocos, entre os que mais destacavam estavam: o Estrela Dalva, sob o comando de Zé Maria; o Sempre Vivinha, comandado pelo Nozinho; o Clube dos Marinhos, comandado pelo Nelsinho e o Estrela do Oriente que era comando por Jaime Camargo.

Na composição dos blocos tinha a Comissão de Frente, e em seguida vinha os Índios com os cocares, rodeados com os espelhinhos redondos que eram fixados no suporte na cabeça, e eram enfeitados de penas de emas, araras e tucanos para dar o colorido, cada um tinha seu arco e flecha, e o machadinho de pau na cintura que também vinha rodeado de penas. E o momento marcante era a presença da Rainha que era rodeada pelos Balizas com roupa branca e quepe arredondado na cabeça, com suas danças em forma de malabarismo, sua missão era proteger sempre a Rainha, que recebia as investidas do Morcego, este vinha vestido com Roupão vermelho e preto, e o rosto pintado de preto e fazia sua evolução para cima da Rainha na tentativa de pegá-la. E em seguida vinham os Marinheiros vestidos de branco e pedalando suas bicicletas estilizadas em forma de um pequeno navio de papelão pintado de branco, e por fim, vinham as moças e moços fantasiados com o uniforme dos blocos cantando o Hino próprio, juntamente com a bandinha.

As Escolas de Sambas começaram surgir em Cuiabá, a partir dos anos 70, a pioneira foi a Escola de Samba – “Deixa Cair”, foi criada, tendo no comando da criação estrutural os cariocas: Beto e China que passaram os conhecimentos do ritmo da Bateria trazidos do Rio de Janeiro e logo-logo já tinham os primeiros batuqueiros cuiabanos juntamente com os jogadores do Mixto, que faziam também a composição da bateria, e até os ensaios eram realizado a quadra da Rua Candido Mariano, não podemos esquecer o grande carnavalesco da Escola - Wilson Diniz, que agitava na organização.

A Escola de Samba - Deixa Cair, tinha como grande destaque as dançarinas da escola, as moças com muita beleza e pouca roupa, eram trazidas das boates das noites cuiabanas e muitas eram destaques das boates cariocas, era samba no pé e grande molejo nas cadeiras, era a grande explosão no carnaval de Rua de Cuiabá.

A Escola de Samba - Mocidade Independente Universitária, eram uma Escola com estrutura das grandes agremiações do país e começou como “Bloco – Banda U” que desfilava nos sábados de carnaval e era composto na sua maioria de universitários e que mais tarde originou a Mocidade Independente Universitária, os ensaios eram realizados no Ginásio da Uniselva e todos os anos eu estava lá, tocando o meu tamborim, e arrepiando na Avenida.

No comando da organização estavam sempre os abnegados: Batista, Abílio, Rico, Jamil, Wilson Breguncci, Estélio, como carnavalesco tinha o Sandro Vilar, como destaque de fantasia vinha Fernando Delamônica e Rafael Rueda, tinha também os Passistas com os seus Pandeiros: lá estavam o famoso Alair Fernando e Marcelo, negões vestidos a caráter: camisa de renda branca, calça branca e sapato branco, e faziam a evolução jogando os seus pandeiros lá no alto, aparando-os com a mão direita e rolando pelo peito até cair na mão esquerda e depois davam um show de samba no pé, não posso esquecer-me do Herbert Richers da Silva, era a figura destacada, era o Mestre Sala, com a sua vestimenta estilizada, dava seus passos protegendo a Porta Bandeira Marlene.

A alma das Escolas eram Os Batuqueiros, foram formados pela experiência do Alair Fernandes, e seus ritmistas eram do Bairro Areão, Araés e Baú, que atravessavam a cidade e iam fazer samba de qualidade nas quadras das Escolas. Como destaque na Bateria na Mocidade Independente Universitária, estava sempre presente no comando do Mestre Zequinha, com seu apito de ouro inconfundível e seus batuqueiros, aproximadamente 100 componentes, com o ritmo afinadíssimo, faziam tremer a Avenida Vargas, quantas saudades do Ripinique do Vasquinho e do Valtinho, o Tarau do Cabibi, Contra-Surdo do Miguel, o Agogô do Lau; o Reco-Reco do Kim, o Tamborim do Zeca Adrião e Dito Manequim, o Treme-Terra do Ditinho Fuminho e do Pinote, só para citar alguns batuqueiros, mas todos foram importantes, ainda hoje quando vai chegando o carnaval e vem sinto uma saudade daquelas. O coração aperta e chegamos a conclusão: o carnaval das nossas lembranças não existe mais.

Infelizmente, o espaço é pequeno para falar da alegria dos carnavais de Rua de Cuiabá, mas não podemos esquecer das Escolas de Samba que proporcionaram momentos históricos do carnaval cuiabano, entre elas temos que destacar duas grandes Escolas:

1 – Escola de Samba - Pega no Meu, que reunida os batuqueiros do bairro do Porto, comandada por Pacheco; 

2 – Escola de Samba - Pedroca, comandada por Camargo, foi formada para homenagear o Governador Pedro Pedrossian – trazia o samba da Cohab Velha;
3 – houve outras, mas o espaço é pequeno para homenagear a todas. 
Hoje o que se vê, é uma Cuiabá descaracterizada, desumanizada, comandada por pessoas que não veem a nossa cidade com os olhos do processo histórico evolutivo da cultura de um povo que viveu isolado no Centro da América do Sul.

Estarei sempre escrevendo e reescrevendo como forma de grito de alerta recheado de saudade, porque sempre participei ativamente.

Economista Wilson Carlos Fuáh – É Especialista Relações Sociais e Políticas e Batuqueiro da Mocidade Independente Universitária.
Fale com o Autor: wilsonfua@gmail.com"


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