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Domingo - 29 de Dezembro de 2013 às 11:16
Por: Alexandre Garcia

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Morreu Ronald Biggs, assaltante e assassino, que passou 34 anos refugiado no Brasil, virando celebridade. Não foi repatriado para a Inglaterra pela ausência de um acordo de mútuo tratamento a condenados - nada a ver com o filho que teve no Brasil. Velho e doente, resolveu retornar à pátria. Pois mesmo velho e doente, a lei e a Justiça inglesa o puseram na cadeia, para que pagasse a velha divida. Quando roubou o trem pagador, matou o maquinista. Aqui, foi recebido com honras de inglês famoso. Adoramos foras-da-lei e até costumamos votar neles.

O Brasil tem fama de valhacouto. Desde os tempos coloniais, quando Portugal mandava para cá os degredados - desde assassinos, assaltantes, e autores de pequenos furtos. Em muitos filmes estrangeiros, os bandidos falam em se refugiar no Brasil. Recentemente ofendemos a Justiça italiana considerando perseguido político o triplo assassino, condenado em todas as instâncias. Cesare Battisti não conseguiu asilo nem na França, que tem uma longa história de receber perseguidos. Mas no Brasil ganhou status de celebridade, lançou um livro e ganhou emprego na CUT.

Agora é Edward Snowden que se oferece para ser convidado a vir para o Brasil. Terceirizado sem importância da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, foi útil para mostrar a nós brasileiros que não levamos a sério a proteção de nossa privacidade. Para os Estados Unidos, é um traidor - traidor da Agência para a qual trabalhava e traidor do país onde nasceu. E, significativamente, fez as revelações estando na China, para depois buscar abrigo na Rússia. Se o Brasil lhe der asilo, como sugere o companheiro do repórter exclusivo de Snowden, estará cometendo um ato hostil contra seu principal parceiro, embora também possa parecer revide pela espionagem.

Recebemos assassinos, assaltantes, terrorista e agora um traidor quer vir também, para ficar mais próximo do seu repórter favorito. No entanto, às vezes tratamos mal aqueles que queiram fugir de uma ditadura, como é o caso dos dois boxeadores cubanos que desejavam se livrar dos Castro, que estão no poder há mais de meio século. É que temos governos que são tão difíceis de entender quanto o povo que os elege. Um povo que torna celebridade um Biggs ou um Battisti ou um Snowden. Seria solidariedade da genética de degredados? A Austrália também foi colonizada por degredados. Mas eram ingleses, dessa mesma cepa que não esquece de punir um criminoso, ainda que ele esteja velho e doente.



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