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Terça - 19 de Novembro de 2013 às 17:58
Por: Lourembergue Alves

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Sentir-se como, nada tem a ver com o sê-lo de fato. Trata-se de dois verbos, é verdade, mas de sentidos e de ações completamente distintas. Pois o segundo revela o que é, enquanto o primeiro tem somente a sensação. Esta condição se encontra bastante distante daquela, ainda que a pessoa – que se diz sentir – faça a si mesma parecer real, “o que por si não é”. Nem será, ainda que fora no pretérito, e isso por mais que ela, hoje, tente imitar ou procure passar. Isso porque, agora, são bem outras as razões que levaram à prisão os petistas José Dirceu e José Genoino, que se somam a outros, julgados igualmente pela Ação Penal 470, mais conhecida com a denominação de “Mensalão”.

As provas são robustas, e os acusados, agora condenados, tiveram todas as oportunidades para suas defesas.  Equivocam-se os que pensam de maneira contrária. Ainda que saiam com a argumentação de julgamento político. Particular que eles têm certa razão. Aliás, inexiste ato, processo ou efeito de julgar que não seja também político, até porque ao pronunciar uma sentença (de condenação ou de absolvição) o integrante do tribunal se manifesta diante do que ouviu e viu e leu nos autos, e este manifestar não deixa de ser político, sem, contudo, ser político-partidário.

Detalhe, porém, ignorado. Ignorado, mas não desconhecido por quem torcia pela não punição dos culpados, entre os quais os que se encontravam muitíssimo próximos do poder de mando federal. Proximidade que não lhes serviram de guarda-chuva da impunidade, embora lhes tenha sido valioso como passaporte para transitarem e se envolverem livremente com o desvio de dinheiro público e pagamento de mesada a parlamentares, convocados a votarem nos projetos do governo.

Com a decretação de suas prisões, estranhamente, se apresentam à Polícia Federal como “inocentes”. Procuram ser convincentes, e quase são realmente, sobretudo com o apoio da plateia postada à frente do prédio. Mas exageraram na dose. O exagero não foi o baterem no peito e erguerem os punhos para o alto, como se quisessem mandar um recado, afinal o dito gesto é simbólico. O exagero está no fato de considerarem a si próprios como “prisioneiros políticos”.

Um prisioneiro político - vale dizer - é um indivíduo encarcerado numa prisão pelas autoridades de um país por exprimir, por palavras ou atos, a sua discordância com o regime político em vigor. Este, certamente, não é o caso dos referidos petistas. O que os levaram para a prisão foi bem outra coisa. Nada tem a ver com seus posicionamentos políticos, com suas opiniões políticas ou porque eles conspiraram contra o governo, até porque o governo era e é chefiado por quem se encontra filiado ao PT – agremiação partidária conduzida até recentemente pelos referidos prisioneiros.

Prisioneiros que devem ser tratados como tal. Mesmo que, ocasionalmente, alguém venha a repetir a lenga-lenga de “prisioneiro político”, cujo eco poderá fazer acordar Peter Benenson do “sono dos mortos”, e deixá-lo arrependido por ter cunhado o termo “Prisioneiro de consciência, em um seu artigo datado de 28 de maio de 1961 (“Os prisioneiros esquecidos”), publicado no jornal londrino “The Observer”.

As causas que levaram José Genoino e José Dirceu não se encaixam nas razões enumeradas por Benenson. São, aliás, as que igualmente condenaram Delúbio Soares e João Paulo Cunha – ambos petistas. O mesmo partido que também teve e tem como filiados figuras que jamais tiveram seus nomes na lista de denunciados e acusados por corrupção, a exemplo do que ocorrem com tantos outros – não incluídos na tal lista - pertencentes às demais siglas.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.



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