Riqueza e Pobreza
“Mato Grosso é uma região potencialmente rica, mas ladeada de enorme pobreza”. Contraste que se dá também no governo, cuja arrecadação cresce ano a ano, porém quase na mesma proporção aumenta a conversa de que o Estado está quebrado. Falta dinheiro, inclusive, para custeio da máquina. Razão pela qual, dizem, o governador demorou a negociar com os professores em greve. Verdade ou não, o certo é que a especulação em torno da crise financeira ganha os corredores palacianos, atravessa as ruas e chega ao domínio popular, instigando os bate-papos nos botequins e norteando as discussões políticos-eleitorais.
Esses boatos alimentam o discurso oposicionista. Bem mais no período em que antecede a fase eleitoral, e esta se “esquenta” à medida que os falatórios se intensificam. O responsável disso é igualmente a oposição, cuja intenção é provocar desentendimentos no seio da administração pública regional, que se vê também ameaçada pelos conflitos entre os supostos aliados. Cada um destes briga por maior espaço, e, entre eles, evidentemente, se encontra o chefe do Executivo, na condição de um refém que cede às exigências, deixando sua gestão em uma sinuca de bico permanente.
Situação que favorece a onda de boataria. Cresce, então, a suspeita de que alguma coisa não anda muito bem. Suspeita que se agigante com o aparecimento de mais e mais indícios, a exemplo dos atrasos constantes dos repasses da saúde aos municípios e do crescimento de obras inacabadas pelo Estado afora.
Isso se agrava quando o Fethab, criado no governo Dante de Oliveira para atender unicamente a habitação e as estradas, se encontra fatiado, responsável também pelo pagamento de parte das chamadas obras da Copa do Mundo e para ajudar a quitar a folha de pagamento.
Aumenta ainda mais a especulação em torno da crise financeira do Estado. Outro dia, em depoimento a um site local, o senador Blairo Maggi afirmou que a situação financeira de Mato Grosso não é tão caótica quanto se comenta, e que o próximo governador receberá o Estado em situação muito mais confortável do que ele recebeu em 2003. “Está se criando um clima de caos, de que tudo vai mal”. Por fim, o republicano acrescenta: “o governo precisa mostrar os números com transparência”.
Transparência, inclusive, é uma exigência da democracia. Pois este é o regime do nada por debaixo do tapete, do tudo às claras, até para que o contribuinte possa acompanhar todas as ações do gestor e de sua equipe.
Acontece, porém, que o governo se comunica mal com a sociedade, nem se movimenta desembaraçadamente no cenário que exige certa organização e planejamento, pois age demasiadamente no improviso, e, então, está longe de despertar segurança.
Daí as especulações. Próprias do ambiente vivido, onde os partidos parecem se agrupar em duas ou três alianças. Sempre lideradas por velhas raposas. Estas, claro, estão atentas ao tabuleiro de xadrez, sem se descuidarem um só segundo, pois temem perder o controle das jogadas e das movimentações. Vem desse processo a especulação de que o Estado de Mato Grosso se encontra empurrado pela onda da crise financeira, ainda que a sua prancha propagandeie um enorme potencial de riqueza, apesar da pobreza a todos os lados.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lpolou.alves@uol.com.br.