Os verdadeiros motivos da greve
Sou servidora estadual há quase 10 anos. Quando me tornei economista do Detran-MT, entrei na entidade achando que ela arrecadava IPVA ou que ficava com algum percentual desse imposto, mas logo vi que a autarquia arrecadava apenas taxas e algumas multas de trânsito, mas ainda assim, pagava suas despesas e ainda ajudava o governo do Estado com as despesas da segurança pública, algo no mínimo, questionável...
Nós, servidores da casa, sempre achamos um absurdo a entidade pagar as despesas de outros órgãos sendo que sabíamos que era necessário muito investimento para termos um Detran de verdade, um que realmente cumprisse com suas funções previstas no Código de Trânsito Brasileiro – CTB.
Infelizmente, as “campanhas educativas”, tendem a responsabilizar exclusivamente os condutores por toda a mortandade que vivenciamos nas nossas vias públicas. Dezenas de pessoas morrem a cada feriado prolongado, a cada final de semana, a cada dia, ou ainda, ficam com sérias sequelas.
Mas está tudo bem: foi acidente. Não! Não foi acidente, foi negligência do governo em suas três esferas, mas principalmente, na esfera estadual de onde parte a autorização de dirigir do condutor, a autorização do veículo trafegar, e onde se localiza o Conselho Estadual de Trânsito, o CETRAN-MT tão pouco conhecido por nossa sociedade.
O Detran-MT, ao longo dos últimos 15 anos delegou boa parte de suas funções à iniciativa privada, porém não faz nenhuma fiscalização sobre tais procedimentos, ao contrário, o que temos são muitos e muitos cargos de chefias desnecessários na autarquia, ocupados através de indicações políticas, por pessoas que agem com muito clientelismo e não tem a mínima ideia do que seja o CTB, comprometendo assim o desenvolvimento de um projeto a longo prazo que busque um trânsito seguro para o nosso Estado. Particularmente, já presenciei amigos e familiares mergulhando em uma depressão profunda por terem um ente amado como vítima fatal do trânsito, e infelizmente caro leitor, é possível que isso também aconteça com você, pois em Mato Grosso o Código de Trânsito não é cumprido nem mesmo pelo governo!
E agora nossa categoria vive uma fase ainda pior. Mesmo sendo vista historicamente pelo governo do Estado como uma entidade meramente arrecadadora (e não preventiva de crimes de trânsito), o Detran chega ao ponto de ter sua função básica inviabilizada ao passo que nos falta tudo: infraestrutura, equipamentos tecnológicos, móveis, material de expediente, material de consumo, e principalmente, respeito e condições dignas de trabalho. Com os míseros repasses que a Sefaz-MT disponibiliza ao Detran-MT, certamente nem o melhor administrador do Brasil reverteria essa situação de caos e abandono que vivemos.
E se engana quem pensa que entraremos em greve só por copos descartáveis, água mineral, canetas e papel higiênico. Aliás, ressalto que nunca nos faltou papel higiênico e sim o papel sulfite, utilizado para imprimir as altas taxas do Detran-MT aos explorados cidadãos matogrossenses.
Veneranda Acosta Fernandes, economista e presidenta do Sinetran-MT.