Toque de Alerta - toquedealerta.com.br
Eu não aborto. Tu abortas?
“Minha missão é salvar vidas”. Com esta frase o médico César Khoury, personagem de Antônio Fagundes na novela global das 20h, manifestou posição contrária ao aborto. A fala, ainda que na ficção, provocou reações Brasil afora. Reclamou-se da falta de contraponto, de radicalismo, de fanatismo religioso e tudo mais que envolve o tema. Resolvi assistir a cena para saber por que tamanha repercussão. Sinceramente não vi razões para a polêmica. O diálogo do médico e da paciente me pareceu normal, honesto. Ela, uma mulher madura, buscou a ajuda de um profissional e acabou ouvindo o que não gostaria. O doutor da novela, além de deixar claro a postura antiaborto, passou um “sabão” na paciente. “Pensasse nisso antes. A senhora sabe. Há tantos meios de se evitar uma gravidez”.
Não creio que uma novela possa aprofundar uma discussão tão sensível como é a legalização do aborto no Brasil. Pode ser que o tema vá adiante, afinal a trama se chama “Amor à Vida”. Fora da ficção, o país vive um momento importante deste debate. Enquanto no Congresso Nacional tramita um projeto para a criação do Estatuto do Nascituro, que transforma o aborto em crime hediondo seja qual a circunstância, ativistas defendem o direito da mulher decidir sobre o uso que faz do próprio corpo. Quem dera que a questão fosse simplória assim, com apenas dois lados distintos. Legalizar o aborto envolve inúmeros indicadores sociais negativos que o Brasil ostenta e que, nós certamente, não nos orgulhamos. Entre eles, a miséria e a fome, a violência e o desemprego, a falta de escolas e de políticas públicas de saúde e, mais grave, a péssima (ou inexistente) distribuição de renda.
Estimativas apontam para a realização de mais de 2,2 milhões de partos no Brasil ao ano, enquanto números do Sistema Único de Saúde (SUS) indicam a ocorrência de cerca de 1 milhão de abortos no mesmo período. Deste total, 150 mil mulheres morrem ou ficam com graves sequelas, consequência de tentativas abortivas iniciadas em casa ou em clínicas clandestinas. E esta é uma das razões que leva a Organização das Nações Unidas (ONU) a considerar o tema como caso de saúde pública e não de polícia. Uma pesquisa de 2010 mostra que a maioria das mulheres que praticam aborto ganha até 2 salários mínimos, portanto pobres e alvos fáceis da criminalização. Na classe A, diferentemente, as mulheres são protegidas do crime e dos riscos de uma intercorrência durante a interrupção da gravidez.
Esta é a vitrine que exibe a ferida aberta pelas várias correntes favoráveis ou não ao aborto. E como todo assunto, em que nem a religião e nem o homem através da ciência consegue esclarecer, multiplica opiniões. A principal pergunta que se faz é: quando começa a vida? No ato da concepção? No nascimento? Embrião e feto possuem alma, espírito que seja? Ter a possibilidade de gerar um ser dentro da gente é uma manifestação concreta da existência divina? Caso não seja, então o que somos? De onde viemos? O silêncio ainda não se rompeu para nos fornecer respostas. A vida me parece muito mais que o encontro de um espermatozoide esperto que alcançou um óvulo.
Tenho 3 filhos. Admito que não teria coragem de interromper uma gravidez. Mas preciso ponderar que tenho filhos porque quis ter. Não sei como pensaria se um deles fosse fruto de um ato de violência. Também não saberia dizer o que sentiria se não pudesse gerar filhos e tivesse que aprovar o comportamento de mulheres que simplesmente descartam seus fetos. Acredito que o aborto vai além de um debate profano, com posições quase matemáticas, com dedos em riste, com pessoas votando sim ou não. Creio em um Deus alimento da alma, alimento da vida. Não sou adepta de uma religião específica. Mas a crença de que somos bem mais do que carne e osso, me faz avaliar que certas situações ultrapassam qualquer pragmatismo. Para ajudar nessas reflexões, me permita recomendar a leitura do diário do casal Frederico e Débora e de seu primeiro filho. "Hoje aos 7 meses, além de escapar das estatísticas de aborto, desafia a cada dia diagnósticos e previsões médicas. Entre no Facebook na página “O milagre DAVIda”, e compartilhe dessa história tocante.
Margareth Botelho é jornalista em Cuiabá e escreve em A Gazeta aos domingos. E-mail: mbotelho.jor@hotmail.com
Não creio que uma novela possa aprofundar uma discussão tão sensível como é a legalização do aborto no Brasil. Pode ser que o tema vá adiante, afinal a trama se chama “Amor à Vida”. Fora da ficção, o país vive um momento importante deste debate. Enquanto no Congresso Nacional tramita um projeto para a criação do Estatuto do Nascituro, que transforma o aborto em crime hediondo seja qual a circunstância, ativistas defendem o direito da mulher decidir sobre o uso que faz do próprio corpo. Quem dera que a questão fosse simplória assim, com apenas dois lados distintos. Legalizar o aborto envolve inúmeros indicadores sociais negativos que o Brasil ostenta e que, nós certamente, não nos orgulhamos. Entre eles, a miséria e a fome, a violência e o desemprego, a falta de escolas e de políticas públicas de saúde e, mais grave, a péssima (ou inexistente) distribuição de renda.
Estimativas apontam para a realização de mais de 2,2 milhões de partos no Brasil ao ano, enquanto números do Sistema Único de Saúde (SUS) indicam a ocorrência de cerca de 1 milhão de abortos no mesmo período. Deste total, 150 mil mulheres morrem ou ficam com graves sequelas, consequência de tentativas abortivas iniciadas em casa ou em clínicas clandestinas. E esta é uma das razões que leva a Organização das Nações Unidas (ONU) a considerar o tema como caso de saúde pública e não de polícia. Uma pesquisa de 2010 mostra que a maioria das mulheres que praticam aborto ganha até 2 salários mínimos, portanto pobres e alvos fáceis da criminalização. Na classe A, diferentemente, as mulheres são protegidas do crime e dos riscos de uma intercorrência durante a interrupção da gravidez.
Esta é a vitrine que exibe a ferida aberta pelas várias correntes favoráveis ou não ao aborto. E como todo assunto, em que nem a religião e nem o homem através da ciência consegue esclarecer, multiplica opiniões. A principal pergunta que se faz é: quando começa a vida? No ato da concepção? No nascimento? Embrião e feto possuem alma, espírito que seja? Ter a possibilidade de gerar um ser dentro da gente é uma manifestação concreta da existência divina? Caso não seja, então o que somos? De onde viemos? O silêncio ainda não se rompeu para nos fornecer respostas. A vida me parece muito mais que o encontro de um espermatozoide esperto que alcançou um óvulo.
Tenho 3 filhos. Admito que não teria coragem de interromper uma gravidez. Mas preciso ponderar que tenho filhos porque quis ter. Não sei como pensaria se um deles fosse fruto de um ato de violência. Também não saberia dizer o que sentiria se não pudesse gerar filhos e tivesse que aprovar o comportamento de mulheres que simplesmente descartam seus fetos. Acredito que o aborto vai além de um debate profano, com posições quase matemáticas, com dedos em riste, com pessoas votando sim ou não. Creio em um Deus alimento da alma, alimento da vida. Não sou adepta de uma religião específica. Mas a crença de que somos bem mais do que carne e osso, me faz avaliar que certas situações ultrapassam qualquer pragmatismo. Para ajudar nessas reflexões, me permita recomendar a leitura do diário do casal Frederico e Débora e de seu primeiro filho. "Hoje aos 7 meses, além de escapar das estatísticas de aborto, desafia a cada dia diagnósticos e previsões médicas. Entre no Facebook na página “O milagre DAVIda”, e compartilhe dessa história tocante.
Margareth Botelho é jornalista em Cuiabá e escreve em A Gazeta aos domingos. E-mail: mbotelho.jor@hotmail.com
URL Fonte: https://toquedealerta.com.br/artigo/249/visualizar/