Um Boato, Nenhuma Dúvida
Já ocorreu outra vez. Mas, desta feita, o boato do “fim” do Bolsa Família levou muitos beneficiários aos pontos de atendimentos da Caixa Econômica Federal. A movimentação ficou 65% acima do normal. A reação do governo foi rápida. Bem mais do que o de costume. Certamente “porque temia que o programa viesse a ser desacreditado”, e, assim, “deixasse de ter um papel importante nas eleições vindouras”. Frase que chegou recentemente a esta coluna. O missivista não tem dúvidas de quem seja o autor do boato, e que está longe de ser a oposição, embora esta tenha sido apontada como tal por gente do governo, enquanto alguns petistas associaram os boatos ao “terrorismo” da pré-campanha eleitoral.
O período é mesmo apropriado para uma série de ações. As páginas da imprensa são ricas neste particular, e que se pode ler de tudo, desde a criação de dossiês até as plantações de notícias, passando por falsas verdades. Até o Plano Real foi chamado de “plano eleitoreiro”, embora com ele a inflação fosse domada e as finanças públicas, reequilibradas. Foi nesta esteira que um presidente chegou a ser eleito e reeleito, enquanto os dois - que o sucederam - também se valeram da mesma arquitetura da rede de proteção social construída a partir e por conta da estabilização da economia.
Destacam-se, aqui, o Bolsa Alimentação, Bolsa Escola, Auxílio-Gás e as transferências do Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Todos criados, instituídos e desenvolvidos no governo Fernando Henrique Cardoso. Programas que, em 2004, já na gestão Lula da Silva, pela Lei 10.836, foram unificados em Bolsa Família.
Milhões de pessoas são contempladas, e que retribuem com votos os benefícios recebidos. Por isso, candidato algum iria propor o “fim” do Bolsa Família. Nem mesmo a oposição que, até por conta do dito programa, vê sua possibilidade de vitória bastante distanciada.
Então, a quem interessa o boato do “fim” do Bolsa Família? Indagação nada fácil de ser respondida. Ainda que se desconfie de quem possa ser. Sobretudo quando se conhece de fato a história das campanhas eleitorais brasileiras, cujas páginas – quando lidas, de verdade - se possam identificar as formas de ação de determinados grupos.
Nesse sentido, o missivista, mencionado no início deste texto, dá uma pista que, para ele, faz sentido e é bastante elucidativa. Sua pista pode ser seguida com outra questão: Por que o tal boato ocorreu justamente na semana em que os tucanos divulgavam o documento de resgate histórico dos programas de distribuição de renda no país?
Indagação que pode se associar a duas ou a mais três questionamentos. Questionamentos que seriam impossíveis de serem respondidas agora. Isso em razão das poucas linhas que restam para concluir este texto. Um texto que não tem, e jamais terá o papel de investigação, no sentido de formatar inquérito.
Este papel, aliás, está a cargo das autoridades competentes, as quais – segundo se sabe – já foram acionadas. E isso faz parte da reação imediata e rápida do governo federal. Embora se desconfie que os nomes dos autores do boato do “fim” do Bolsa Família jamais serão divulgados. Reprise de outros eventos, a exemplo da compra de certo dossiê contra um político, cuja grana foi cuidadosamente fotografada em um hotel, porém ainda de “origem desconhecida”.
O certo, porém, é perceber e se indignar com o “vale tudo” na política. O que afasta a possibilidade de se discutir aquilo que, de fato, interessa ao país e ao seu povo, isto é, um projeto alternativo de governo. Necessário diante do quadro que se vive, cheio de incertezas e de dúvidas, em função da alta da inflação e do baixo crescimento econômico.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.