Um Patrocínio Questionado
Nesta semana, o Estado de Mato Grosso foi pauta da mídia nacional. Nada tem a ver com o desmatamento bastante presente por aqui, nem com o atraso das obras da Copa. O motivo é bem outro. Mas tão devastador quanto. Pois histórias foram desrespeitadas e o cotidiano de lutas de um povo, simplesmente ignoradas. Isso é grave. Bem mais quando se sabe que tamanho estrago fazia parte de livros destinados a alunos do curso de “Atendimento em Hotelaria e Turismo”, patrocinado pelo governo estadual.
Alguns leitores pensam em se tratar de um deslize, fruto do desconhecimento do quadro histórico, geográfico e social da região. Mas as agressões aos municípios, diretas e bastante fortes, contudo, descartam tal hipótese.
Mesmo que se saiba que a vergonha pelo não saber pode resultar em ataques a outrem, a exemplo do que se vê muito em um debate político-eleitoral, quando um dos candidatos se põe a desqualificar a pessoa do seu concorrente, e este a daquele, ou no caso dos bate-bocas de ruas. Situação, porém, completamente diferenciada da que se tem em um “programa de qualificação”, voltado para um público específico, com o fim de atender as necessidades proporcionadas pela chegada de turistas a Mato Grosso por ocasião da Copa do Mundo de 2014.
Percebe-se, portanto, a importância dos dados históricos, dos relatos sobre a cultura e, enfim, das comidas típicas dos lugares-turísticos. Sempre com uma linguagem adequada. Jamais, entretanto, o que se passou a ler nas ditas “apostilas”, palavreados chulos, desacompanhados das verdades trazidas pelos fatos, os quais foram mapeados por estudiosos de períodos distintos e cuidadosamente, por estes, analisados e avaliados. Inclusive relembrados em obras bastante conhecidas, a exemplo das que tem como autores Virgílio Corrêa Filho, Lenine Póvoas, João Carlos Vicente Ferreira, Ivane Inêz Piaia e Elizabeth Madureira – para citar alguns poucos.
Estes mestres, quando lidos de verdade, ajudariam sobremaneira os responsáveis pela feitura da referida “apostila”, sem que estes fossem preciso buscar no site de humor Desciclopédia que satiriza o formato da Wikipédia.
Busca inapropriada. Ainda que motivada pela pressa ou pela falta de tato com a pesquisa, de forma nenhuma, pode ser utilizada para acobertar as agressões dirigidas aos municípios mato-grossenses.
Agressões que, por outro lado, jamais podem ser minimizadas por um depoimento que levanta a hipótese de uma proeza de hackers, com o fim de sabotarem o “programa qualificar do governo”.
As investigações nesta direção são necessárias. Mas são insuficientes. Pois um povo e o Estado foram agredidos, com o dinheiro público. Isso obrigaria, imediatamente, a manifestação do governador. É este, afinal, o agente número “1”, defensor primeiro das coisas idas e vividas por cada município.
Não se viu, contudo, nenhuma fala do governador neste sentido. Erro grosseiro, e que demonstra a sua dificuldade em conversar com a população, prestar contas. Pecou, então, a sua assessoria.
Cáceres, Poconé e Barão de Melgaço são municípios que merecem consideração e respeito.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.