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Domingo - 24 de Março de 2013 às 17:48
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

Li que Jorge Mário Bergoglio nunca teve celular nem jamais mexeu em computador. E, no entanto, chegou a Papa, o mais universal dos poderes. Fico a perguntar aos viciados em celular e computador, se esses dois aparelhinhos seriam tão essenciais para a vida. Eu tinha algo em comum com o cardeal Bergoglio: ele não freqüentava as chamadas redes sociais. Não tenho tempo para facebook nem twitter. Mas o Vaticano acaba de convencê-lo a postar uma mensagem no twitter do site da Igreja. A mensagem pede orações por ele, Papa Francisco.

Em 1958, quando eu era noticiarista de rádio, acompanhei a morte de Pio XII e a eleição de João XXIII. Depois acompanhei a chegada de Paulo VI, João Paulo, João Paulo II, Bento XVI. Mas nunca me entusiasmei tanto com um Papa como agora. Francisco é simpatia à primeira vista. E seus atos, passados e presentes, justificam esse amor à primeira vista. Em poucos dias, conquistou o mundo - e não apenas os católicos. Aliás, ele foi o cardeal argentino que mais próximo esteve de judeus e muçulmanos. Simples, espontâneo, ao visitar as paróquias, chegava sozinho.

Há quem o calunie. Afinal, ninguém é argentino impunemente. Um ex-montonero (um grupo guerrilheiro peronista-marxista) e partidário de Cristina Kirchner, escreveu que ele colaborou com a ditadura militar argentina. Para derrubar a calúnia basta conferir o calendário feito por outro papa, Gregório: o último governo militar argentino começou em 1976, quando Bergoglio era um padreco que havia feito os votos três anos antes. E só foi feito bispo - e auxiliar - 10 anos depois de ter acabado o governo militar. E ainda assim, suponhamos que o padreco estivesse acompanhando os acontecimentos políticos. Entre o General Videla, carola que comungava, com sua mulher, todos os dias, e a guerrilha marxista que queria impor uma ditadura atéia, de que lado ficaria um padre católico se tivesse que tomar partido?

Da mesma forma, alguns alegam que ele é conservador porque é contra o casamento entre homossexuais e contra o aborto. Queriam que ele fosse contra a doutrina da própria Igreja? Ele nunca rejeitou a "união civil", nem negou comunhão a divorciados. Outros, ingênuos, alegam que ele é maravilhoso porque anda de ônibus, arruma a própria mala e paga a conta do hotel, faz seus próprios telefonemas e não usa crucifixo de ouro. Não, ele é diferente porque prega tolerância zero para os pedófilos, porque diz que padres e bispos tem que sujar os pés no barro; falou em igreja pobre - e a gente se escandaliza com as riquezas do Vaticano. A propósito, leio em livro de Bergoglio a mesma pregação de meu amigo Frei Vicente, um franciscano: "Se Deus, na Criação, correu o risco de nos tornar livres, quem sou eu para me meter(na vida das pessoas)?"

Na América Latina estão mais de 40% dos católicos do mundo. E também é onde estão os demagogos, governos populistas, igrejas que se aproveitam da pobreza e da ignorância. Francisco é o homem certo que a sabedoria dos cardeais elegeu para apagar essa maldição do continente. Quando o governador romano Pôncio Pilatos entregou Jesus à multidão hostil para crucificá-lo, pronunciou em latim: Ecce hommo(eis o homem!). Foi o que quis dizer a fumaça branca: Ecce Franciscus! Eis Francisco, para salvar a Igreja.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
 



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