Toque de Alerta - toquedealerta.com.br
Geral
Quinta - 07 de Fevereiro de 2013 às 14:18
Por: Lourembergue Alves

    Imprimir


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

Ao ouvir ou ler um discurso é possível perceber, claramente, as intenções e objetivos de quem o proferiu. Desde que se atente pelo que está claro no texto, e, ao mesmo tempo, pelo que as palavras utilizadas não dizem. Isso porque o explícito e o não explícito, juntos e entrelaçados, formam as imagens que o político constrói para parecer fidedigno. Ainda que ele tente esconder seus propósitos reais. Estes, contudo, são sempre denunciados pelas estratégias discursivas de persuasão. É a partir daqui que se deve analisar a fala do presidente José Riva na sessão de posse da “nova” Mesa Diretora da Assembléia Legislativa.

Durante toda a falação, sem seguir as regras recomendadas de uma boa redação, o “Eu” se reveza com o “Nós” e por vezes se fundem, senão a terceira pessoa se faz passar pela primeira, e esta por aquela ao longo do texto. Construção nada por acaso. Pois segue uma tática, o de esconder ou diminuir o peso do personalismo – bastante forte e enraizado no desenho das ações do político. Até mesmo quando se faz suas “as palavras do povo mato-grossense que pede atenção maior e com mais carinho a saúde pública”, ou cobra “a presença dos secretários no interior”, muito sentida e necessária, uma vez que “a população pode expressar melhor suas demandas e os gestores terão maior capacidade para ajudar, já que reconhecem a realidade em loco”.

Denúncia e cobrança, fortemente complementares, cujos papéis são bastante claros: vender a imagem de alguém altamente comprometido com a fiscalização das ações do Executivo estadual e ligado aos interesses da população.

Daí a sua luta por um “Estado enxuto”, “que gaste menos com as atividades meio, e tenha mais fôlego para poder investir em infraestrutura, serviços e melhorias da qualidade de vida”, a qual também depende da “justiça melhor aparelhada” e do Ministério Público com “sua estrutura adequada e melhorada”; no igual instante em que o Parlamento aperfeiçoe suas ferramentas de trabalho e de transparência, e esta unidade da federação consiga desenvolver todas as suas potencialidades, via investimentos, e programas do tipo MT Integrado, MT Invest e o de pontes de concreto. “E através da parceria público privada” (PPP), outro meio, “ainda pouco explorado”, com vistas para tornar “Mato Grosso em um espaço de caminhos seguros e que barateiem” o “custo de produção”.

O deputado Riva, na verdade, fez um balanço das deficiências do governo Silval Barbosa, não da Assembléia Legislativa, como deveria fazê-lo, até para não comprometer a si próprio, nem para desviar de seus objetivos, que são bem outro: apresentar-se como um político atenado as coisas da gente e da terra mato-grossenses, ainda que o poder que ele representa não cumpra o seu real papel. O cenário lhe era propicio, assim como também o era a platéia, da qual - no dizer Kant – vem à aprovação ou a desaprovação, embora atraída pelo mundo das aparências.

O curioso é que muitos analistas também se deixam levar por esse mundo. Certamente por se sentirem envolvidos pelo espetáculo. O que os impede de refletirem sobre os imaginários de verdade que sustentam os propósitos do debutado, e até mesmo suas estratégias de persuasão.

Estratégias e propósitos não apenas de um presidente que era reempossado. Mas, com certeza, de um político dedicado – de corpo e alma – na construção de sua própria candidatura ao governo do Estado. Daí o enaltecer de seus laços familiares, de valorização dos amigos e sua disposição e crença na preparação de um “novo” Mato Grosso, “com uma melhor e mais diversificada produção de riquezas”. Isto se entrelaça com o trecho da canção de Milton Nascimento, citada no início de sua fala, onde “renova-se a esperança, nova aurora, cada dia”, com um único objetivo: de mostrar-se o único preparado para a tarefa de fazer com que o território mato-grossense “dê flor e o fruto” tão desejado pela população. Carece saber se esta considera o deputado como tal.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.   



URL Fonte: https://toquedealerta.com.br/artigo/314/visualizar/