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Segunda - 21 de Janeiro de 2013 às 12:48
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

Cristina Kirchner acaba de levar uma Bíblia para acompanhar Chavez, mas não conseguiu entregá-la pessoalmente. Deixou com um intermediário, Fidel Castro. Fidel deve estar orgulhoso de que a ilha que é dele há 53 anos, esteja sediando, em Havana, o governo da Venezuela - que há 191 anos se tornou independente da Espanha. Que confusão! Confusão maior ainda é que o mandato de Chavez terminou dia 10 e ele não tomou posse, mas a Constituição foi atropelada e ele continua presidente - se estiver vivo.

Nós, brasileiros, não temos por que estranhar o que acontece na Venezuela. Passamos por um episódio quase idêntico há 28 anos, quando Sarney assumiu a Presidência da República com Tancredo quase moribundo no hospital. A Constituição venezuelana estabelece que se o presidente eleito está ausente, quem assume é o presidente da Assembléia Nacional, que convoca novas eleições em 30 dias. A Constituição brasileira vigente na época é semelhante. Nos artigos 78 e 79, estabelece que em caso de vaga do presidente(e não havendo vice para assumir), assume o presidente da Câmara Federal, que convoca eleições para 30 dias depois.

Na noite da internação de Tancredo, eu li esses dois artigos no estúdio da TV Manchete e concluía que assumiria o Doutor Ulysses, e que as eleições seriam diretas, porque já havia passado a emenda das diretas. É bom lembrar que Tancredo fora eleito pelo Congresso, tal como generais presidentes(Geisel e Adalberto ganharam de Ulysses e Barbosa Lima Sobrinho por 400 votos contra 76). Quando terminei a leitura da Constituição, Roberto d`Ávila entrou nervoso no estúdio dizendo que não seria assim; que assumiria José Sarney. Repliquei que não tendo presidente, ele não tem vice, mas Roberto me informou que Afonso Arinos já dava entrevista na Globo dizendo que seria Sarney.

Figueiredo, que se recusou a entregar a faixa a Sarney e saiu pelos fundos do Palácio, alegando inconstitucionalidade, me contou que quem decidira entregar a presidência a Sarney fora o já escolhido novo ministro do Exército, general Leônidas. Segundo se comenta, o general teria dito que não daria posse a Ulysses porque o deputado comparara Geisel com Idi Amin Dada. Nesse ponto, a Venezuela nos supera, porque lá, consultaram o Supremo. Aqui, consultaram um general. De qualquer forma, o resultado foi o mesmo. O Brasil não correu o risco de ser expulso do Mercosul, porque ainda não havia a cláusula exigindo respeito à Constituição dos países. A Venezuela, recém recebida no Mercosul, é uma autocracia chavista, tanto quanto o kirchnerismo argentino. A bíblia de Cristina deve ter como imortais profetas Hugo e Nestor.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília



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