Que Culpa Há?
Uma atitude não explicada quase sempre provoca um monte de especulações. Bem mais quando a tal atitude se acha inserida no coração de um dado cenário político-eleitoral. O que resulta, muitas vezes, em interpretações variadas. Quase sempre sem sustentação argumentativa suficiente. Este é o caso da afirmação de que o prefeito cuiabano, se quisesse, poderia ter evitado a renúncia do seu vice-prefeito. Bastaria, de acordo com um e-mail encaminhado a esta coluna, que o socialista-empresário atribuísse ao vice à condição de articulador político entre a prefeitura e o Legislativo local. Papel que lhe possibilitaria negociar uma chapa de consenso para administrar a Câmara da Capital, e, assim, o alcaide evitaria a própria derrota.
O referido missivista parte do pressuposto de que o papel de articulador seria bastante para manter o republicano como vice-prefeito. Tese interessante. Mas sem qualquer força de persuasão. Ela, a tese, na verdade, torna simplista por demais a dita renúncia. Pois tende a ignorar outras, e, talvez, maiores ambições do agora só deputado estadual. A principal delas, e que certamente o motivou a se desincompatibilizar da Secretaria de Cultura e “atropelar” - com a ajuda de alguns deputados - outro republicano, mais tempo no páreo, foi mesmo a possibilidade de herdar a prefeitura em abril de 2014, com a renúncia de seu titular. Possibilidade que ele viu escapar em definitivo a partir do início do segundo turno da disputa de 2012, quando se tornou mais frequente e mais veemente a posição pública do empresário de que jamais se utilizaria a “prefeitura como trampolim para o governo do Estado”.
Desde então, evidentemente, o parlamentar já havia se decidido a não tomar posse como vice-prefeito. Apenas protelou revelar oficialmente tal decisão, até mesmo para evitar desgaste a si próprio e ganhar tempo para conquistar uma ou duas pastas para seus apadrinhados. Nenhuma destas cartadas, porém, não surtiu o efeito desejado. Até porque o eleitorado, em grande número, desaprovou a renúncia e o prefeito, parece não lhe ter dado ouvidos. Tanto que secretaria alguma tem o carimbo do deputado republicano. Isso leva a dedução de que o vice-prefeito eleito teria apenas o espaço limitado a sua condição de eventual substituto do titular, a qual se encontra muito aquém das vantagens de parlamentar.
A atitude do prefeito contrariou, em linhas gerais, os princípios da composição das alianças para as disputas. Pois o partido e o político que o apoiaram, obviamente, sempre exigirão, e exigem ser recompensados com cargos. Estes são, de fato, moedas de troca. Moedas que, por outro lado, servem de trunfos para o chefe de a administração manter sob seu controle a chamada base aliada, bem como ampliá-la e continuar manipulando os votos dos parlamentares. Destes, contudo, no dia 1º., treze preferiram aderir à candidatura do peessedista à presidência da Câmara cuiabana, em rejeição ao nome apoiado pelo prefeito.
Resultado que poderia ter sido outro, e bem que poderia caso dois vereadores de partidos governistas – um do PSB, partido do prefeito, e o segundo do PTB – tivessem seguido a recomendação partidária. Esta recomendação, de modo algum, teria maior força ou seria acatada com a presença do vice-prefeito nas negociações. Tampouco, o papel de articulador – em especial na eleição da Mesa Diretora – teria sido suficiente para evitar a renúncia do deputado republicano. Seguraria isto sim, a certeza de que da vice-prefeitura ele pudesse chegar à cadeira de titular, a partir de abril de 2014.
Portanto, não se pode, e nem deve culpar o empresário-socialista pela renúncia de seu parceiro de chapa. Culpá-lo é, simplesmente, ignorar os fatos e demonstrar desconhecimento sobre o quadro político-eleitoral, no qual a renúncia se encontra inserida.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br