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Segunda - 03 de Dezembro de 2012 às 13:52
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

A morte é uma violência. Independentemente de sua forma ou tipo, e até das convicções religiosas. Sempre é violenta. Pois arrebata vidas e deixa um vazio enorme no coração de quem permanecem por aqui – parentes, conhecidos e amigos. Apesar disso, e não por outra razão, que a morte continua objeto de reflexão de estudiosos, e causa medo a uma porção de pessoas. Ainda que se possa acreditar na continuação da existência depois dela, em um plano diferente, ou mesmo na possibilidade da reencarnação. Nada, entretanto, faz com que se esqueça da dor, perda e da ausência.

Quadro revelador. Revela, sobretudo, a saudade. Esta, por si só, é uma situação de enorme violência. Tanto que, certa vez, Mário Quintana ousou dizer que o “morrer”, realmente, não lhe “importava”. “O diabo é deixar de viver”. “O que será, talvez” – no entender de Cecília Meireles – “até mais triste”, sem nada, “apenas sobre humanas companhias”, e destituído, nas palavras de Albert Schweitzer, do supremo princípio ético do amor, que “é a reverência pela vida”.

Vida que pode ser salva pela medicina, ou prolongada por medicamentos e aparelhos. Estes, porém, não são capazes de paralisar a dor sentida pelos que ficam, e saudade pelos que partiram.

Nem mesmo a leitura serve como bálsamo. Embora se saiba que a literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Traz para o presente os personagens do passado, e os torna tão reais que fazem de suas ações exemplos para o agora, além do poder de emocionar – um sentimento puramente humano. Despertado ou revelado graças aos encantos proporcionados pelas palavras, as quais se entrelaçam e se misturam, em um processo de construção de imagens, cenas e realidades vividas ou que poderiam ser vividas. Deixadas, entretanto, para um momento futuro, assim como foram feitos com alguns dos sonhos. Sonhados, porém não sentidos ou vividos, a despeito do sentir a alegria ou o gozar a beleza da vida.

Viver que não se resume tão somente a uma página, nem apenas a um livro e, tampouco, pode ser enclausurada no labirinto dos textos não lidos. Mas o que é, afinal, a vida? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues mostrados nas telas dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Indagações nada fáceis de serem respondidas. Inclusive por quem se debruça a pensar sobre elas. Tanto os de hoje como os de outrora, que não contavam, nem cogitavam se valer da tecnologia atual, cuja existência não foi o bastante para livrar as pessoas da morte. Fim anunciado, porém jamais aceito. Sequer por quem se diz não temê-lo, e o diz sem desgrudar do primeiro amuleto que lhe encontre por perto; enquanto o interlocutor, descontrolado ou apavorado, deixa escapar o medo que sentes, não dos mortos-vivos, mesmo com os olhos fixos a “Pietà”, de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços.

O morrer, então, é sempre um misto de medo com o vazio provocado pela perda de alguém que se foi, embora já distanciada quando em vida. Isso, entretanto, não deixa de ser violência.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.       



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