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Terça - 13 de Novembro de 2012 às 09:57
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

A democracia foi reinstalada no país. Ação que também jogou a ditadura para o escaninho da história. Escaninho que, volta e meia, é preciso revisitá-lo, e ver o seu conteúdo como lição, até mesmo para não ter que retornar a esse pretérito. Ninguém quer ou, pelo menos, aparenta não querer a tal volta. Pois as instituições estão fortes e a sociedade se movimenta com liberdade. Às vezes, no entanto, o viver livremente se enrosca, empaca e se vê impedido de continuar por uma vontade autoritária.

Vontade que reaparece nos botequins, nos logradouros, no seio familiar, religioso ou empresarial. Porém, jamais deveria ressurgir no interior da universidade. Até mesmo em razão de sua natureza, cuja essência é despertar a curiosidade de quem a constrói cotidianamente. Um cotidiano marcado pela pluralidade, assim como também é o da própria sociedade.

Há, contudo, certo descompasso entre o que deveria ser e o que é de verdade. Bem mais quando se observa a ausência da esgrima nas academias, e, por conta disso, não as diferenciando do mundo político-eleitoral. Naquelas, no entanto, o prejuízo é muitíssimo maior. Sobretudo porque elas trabalham com o conhecimento, o saber, e este não pode, nem deve ser pasteurizado em uma única fórmula.

Daí a importância do pensar diferente, do ver as coisas de outro modo. Distinta não só da maioria das pessoas, mas igualmente dos doutos e do que dizem os códigos, as leis. Independentemente de quem os defenda, ou queira acompanhá-los. Reprovável, isto sim é desconsiderar o ponto de vista do interlocutor, só porque este – com fundamento - tem maneira diferenciada de ler o mesmo objeto.

A cátedra não dá a quem quer que seja, o direito de proibir a crítica. Ainda mais se a tal crítica não aparecer com a roupa de achismo. Aliás, François-Marie Arouet, conhecidíssimo por Voltaire, ao lutar contra o Estado absolutista, foi grande defensor da liberdade de expressão. A propósito, soa como música aos ouvidos, sua mais famosa frase: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”.

Reprovável, portanto, o professor ou a pessoa que busca a lei, a justiça e a elevação do espírito não perceber o quão relevante é a liberdade de expressão, a vontade individual e o poder da crítica.

Criticar nada tem a ver com o botar defeitos. Este verbo jamais substitui aquele, o qual sempre se sustenta pela argamassa da fundamentação – cuidadosamente construída pelas leituras adequadas, e nunca pela visão caolha.

Visão esta, marcada pela ausência de conhecimento, quase sempre reforçada pela vontade autoritária. A mesma que tenta inibir o diálogo, a negociação e a mediação. Tripé importante em um debate, ainda ou principalmente que seja acadêmico. Pois, também na academia, assim como na própria sociedade, a pluralidade deve ser respeitada, mesmo que esta não seja o gosto de alguns.

Pois a democracia nada mais é do que o respeito pela diferença de opinião, de pensar, de ver e de ser, independentemente do modismo do momento.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.



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